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As Aves em Brejos de Altitude

Por:   •  13/9/2021  •  Relatório de pesquisa  •  4.107 Palavras (17 Páginas)  •  141 Visualizações

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Composição e sensitividade da avifauna dos brejos de altitude do estado de Pernambuco.

Sônia Aline Roda & Caio José Carlos

Resumo

A avifauna de seis brejos de altitude do estado de Pernambuco foi analisada quanto a sua composição, uso do hábitat e sensitividade aos distúrbios causados pelas atividades humanas. Uma lista de 251 espécies, pertencentes a 40 famílias é aqui apresentada. Este número corresponde a 57,8 % das espécies de aves da floresta Atlântica nordestina, 40,5 % das que ocorrem na floresta Atlântica em geral e 72,1 % das aves da Caatinga. Nas áreas estudadas, estão presentes cinco das sete espécies endêmicas da floresta Atlântica nordestina e 15 das 161 da floresta Atlântica em geral. Ainda, foram registradas nove das 19 espécies endêmicas da Caatinga. A maioria das aves (132; 52,4%) apresenta baixa sensitividade. Espécies com média sensitividade são 100 e 19 têm alta sensitividade. Quanto ao uso do hábitat, 35,5 % das aves são dependentes de floresta, 33,1 % são semidependentes e 31,5 % independentes. As aves dependentes de floresta são mais sensíveis aos distúrbios causados pelo homem. Os brejos estudados abrigam quatro espécies criticamente ameaçadas de extinção, cinco ameaçadas, seis quase ameaçadas e três vulneráveis. Apesar das seis áreas terem sido consideradas prioritárias para a conservação das aves, existem apenas duas unidades de conservação em seus limites. As fortes pressões antrópicas e a falta de atividades conservacionistas nos brejos estudados podem causar a perda de várias espécies de aves nos próximos anos.

Palavras chave:  Caatinga, Conservação da Natureza, Floresta Atlântica, Espécies ameaçadas, Sensitividade.


Introdução

A floresta Atlântica ocupa uma posição de extrema relevância dentre as áreas prioritárias para conservação (Myers et al. 2000). Esta região apresenta um alto grau de endemismo para vários grupos taxonômicos, tais como plantas (Mori et al. 1981), primatas (Kinsey 1982) e aves (Haffer 1985). Neste último grupo, ocorrem na floresta Atlântica 620 espécies, das quais 181 (29,2 %) são consideradas endêmicas (Myers et al. 2000).

        Entre os componentes da floresta Atlântica está a floresta Atlântica nordestina. Esta região inclui todas as florestas situadas ao norte do Rio São Francisco. A floresta Atlântica nordestina abriga várias espécies de plantas e animais endêmicos e, por isso, tem sido considerada como uma importante área de endemismo na América do Sul (Prance 1987). Entre as aves, das 434 espécies (S. A. Roda, dados não publicados), sete espécies são restritas a esta região (Sttatersfield et al. 1998).

        Uma porção da floresta Atlântica nordestina é composta pelos brejos de altitude. O termo “brejo” é aplicado a todos os enclaves de florestas úmidas que ocorrem dentro da Caatinga devido à precipitação orográfica (Andrade-Lima 1982). Estas áreas distribuem-se nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco (Vasconcelos Sobrinho 1971, veja também Tabarelli neste livro). Dentro da Caatinga, os brejos constituem-se em verdadeiros refúgios para várias espécies de plantas (Andrade-Lima 1982) e vertebrados (Vanzolini et al. 1980, Mares et al. 1985, C. J. Carlos, dados não publicados) que ocorrem neste bioma.

        Apesar de toda importância biológica, o conhecimento científico acerca das aves dos brejos de altitude de Pernambuco ainda é bastante rudimentar. Embora as primeiras informações referentes às aves desses locais tenham sido divulgadas por Forbes (1881), o acúmulo de conhecimento deu-se de forma lenta e bastante irregular. Naumburg (1939), Pinto (1944), Coelho (1975), Teixeira et al. (1993), Azevedo-Júnior (1997) e Teixeira & Almeida (1997) reportam de maneira isolada a ocorrência de algumas espécies para os brejos do estado de Pernambuco, sem, no entanto, fornecer um panorama mais compreensivo sobre a composição da avifauna dessas áreas. Pode-se considerar que apenas a lista preliminar das aves da Reserva Biológica de Serra Negra, publicada por Coelho (1987), aborda de forma mais abrangente as aves dos brejos.

Há um grande volume de dados sobre as aves dos brejos não publicados. O Americam Museum of Natural History de Nova Iorque possui em seu acervo um bom número de exemplares procedente das coletas realizadas em 1927 por Emil Kaempfer. Existe ainda algum material depositado na Coleção Ornitológica da Universidade Federal de Pernambuco. Portanto, uma obra que aborde detalhadamente a avifauna desses ambientes ainda está longe de ser concebida.

Neste trabalho procurou-se caracterizar de forma sintética a avifauna de seis brejos de altitude do estado do estado de Pernambuco, no que se refere aos táxons que a compõe, as localidades de registro dos mesmos e aos autores responsáveis por estas informações. Além disso, foi realizada uma análise da sensitividade das aves aos distúrbios causados pelo homem (sensu Stotz et al. 1996), relacionando-se estes dados com dados sobre o uso do hábitat da avifauna local. Finalmente, foram discutidas algumas implicações dos resultados para a conservação das aves dos brejos de altitude.

Metodologia

Procedeu-se à análise da avifauna de seis brejos de altitude em Pernambuco: Garanhuns (08o54’S, 36o29’W; altitude: 840 m); Brejão (09o33’S, 06o29’W; altitude: 790 m), Caruaru, Brejo dos Cavalos (08o21’S, 36o02’W; altitude: 980 m); São Vicente Férrer, Mata do Estado (07o37’S, 35o30’W; altitude: 515 m); Floresta, Reserva Biológica de Serra Negra (08o35’S, 31o02’W; altitude: 1.100 m); e Taquaritinga do Norte, Torre do Microondas (07o54’S, 36o01’W; altitude: 1.067 m) (Figura 1).

A lista das espécies que compõe a avifauna das localidades estudadas foi elaborada a partir das seguintes fontes: (1) estudos bibliográficos; (2) estudos na Coleção Ornitológica da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE, Recife); (3) lista de exemplares depositados no Americam Museum of Natural History (AMNH, Nova Iorque); e (4) estudos de campo realizados pelos autores.

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