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A FACULDADE DA LINGUAGEM

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Por:   •  5/9/2013  •  Tese  •  1.417 Palavras (6 Páginas)  •  414 Visualizações

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Eduardo Kenedy

1. INTRODUÇÃO

Neste capítulo, apresentaremos em linhas gerais os principais aspectos que

caracterizam a corrente de estudos lingüísticos conhecida como gerativismo.

Analisaremos a concepção de linguagem humana que norteia as pesquisas dessa

corrente, bem como faremos uma exposição da maneira gerativista de observar,

descrever e explicar os fatos das línguas naturais. Trata-se de uma visão geral,

introdutória e simplificada, destinada ao estudante que conhece pouco ou nada sobre o

gerativismo. Nas indicações bibliográficas, apresentadas ao fim do capítulo, o leitor

encontrará sugestões de leituras em português para prosseguir nos estudos sobre o

assunto.

2. A FACULDADE DA LINGUAGEM

A lingüística gerativa – ou gerativismo, ou ainda gramática gerativa – é uma

corrente de estudos da ciência da linguagem que teve início nos Estados Unidos, no

final da década de 50, a partir dos trabalhos do lingüista Noam Chomsky, professor do

Instituto de Tecnologia de Massachussets, o MIT. Considera-se o ano de 1957 a data do

nascimento da lingüística gerativa, ano em que Chomsky publicou seu primeiro livro,

Estruturas sintáticas. Trata-se, portanto, de uma linha de pesquisa lingüística que já

possui 50 anos de plena atividade e produtividade. Ao longo desse meio século, o

gerativismo passou por diversas modificações e reformulações, que refletem a

preocupação dos pesquisadores dessa corrente em elaborar um modelo teórico formal,

inspirado na matemática, capaz de descrever e explicar abstratamente o que é e como

funciona a linguagem humana.

A lingüística gerativa foi inicialmente formulada como uma espécie de resposta

e rejeição ao modelo behaviorista de descrição dos fatos da linguagem, modelo esse que

foi dominante na lingüística e nas ciências de uma maneira geral durante toda a primeira

metade do século XX. Para os behavioristas, dentre os quais se destacava o lingüista

norte-americano Leonard Bloomfield, a linguagem humana era interpretada como um

condicionamento social, uma resposta que o organismo humano produzia mediante os

estímulos que recebia da interação social. Essa resposta, a partir da repetição constante e

KENEDY, E. Gerativismo. In: Mário Eduardo Toscano Martelotta. (Org.). In.: Manual de lingüística. São Paulo:

Contexto, 2008, v. 1, p. 127-140.

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mecânica, seria convertida em hábitos, que caracterizariam o comportamento lingüístico

de um falante. Vejamos, por exemplo, como Bloomfield descrevia a maneira pela qual

uma criança aprendia a falar uma língua:

“Cada criança que nasce num grupo social adquire hábitos de

fala e de resposta nos primeiros anos de sua vida. (...) Sob

estimulação variada, a criança repete sons vocais. (...) Alguém,

por exemplo, a mãe, produz, na presença da criança, um som

que se assemelha a uma das sílabas de seu balbucio. Por

exemplo, ela diz doll [boneca]. Quando esses sons chegam aos

ouvidos da criança, seu hábito entra em jogo e ela produz a

sílaba de balbucio mais próxima, da. Dizemos que nesse

momento a criança começa a imitar. (...) A visão e o manuseio

da boneca e a audição e a produção da palavra doll (isto é, da)

ocorrem repetidas vezes em conjunto, até que a criança forma

um hábito. (...) Ela tem agora o uso de uma palavra.”

(Bloomfield, 1933: 29-30)

Para um behaviorista, a linguagem humana é exatamente o que descreveu

Bloomfield: um fenômeno externo ao indivíduo, um sistema de hábitos, gerado como

resposta a estímulos e fixado pela repetição. Numa resenha feita em 1959 sobre o livro

Verbal behavior (Comportamento verbal), escrito por B. F. Skinner, professor da

famosa universidade de Harvard e principal teórico do behaviorismo, Chomsky

apresentou uma radical e impiedosa crítica à visão comportamentalista da linguagem

sustentada pelos behavioristas. Na resenha, Chomsky chamou a atenção para o fato de

um indivíduo humano sempre agir criativamente no uso da linguagem, isto é, a todo

momento, os seres humanos estão construindo frases novas e inéditas, ou seja, jamais

ditas antes pelo próprio falante que as produziu ou por qualquer outro indivíduo.

Por isso, todos os falantes são criativos, desde os analfabetos até os autores dos

clássicos da literatura, já que todos criam infinitamente frases novas, das mais simples e

despretensiosas às mais elaboradas e eruditas. Pensemos, por exemplo, na frase que

acabamos de produzir aqui mesmo neste texto. É muito provável que ela nunca tenha

sido proferida exatamente da maneira

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