AS INTERAÇÕES DROGAS-NUTRIENTES

INTERAÇÕES DROGAS-NUTRIENTES

O tratamento de muitas doenças requer terapia com drogas, geralmente envolvendo o uso de várias delas. As interações alimento-droga podem alterar os efeitos das drogas, e os efeitos terapêuticos ou colaterais das medicações podem afetar o estado nutricional. De modo alternativo, a dieta e o uso de suplementos ou o estado nutricional do paciente podem diminuir a eficácia de uma droga ou aumentar sua toxicidade.

        Os termos interação droga-nutriente e interação alimento-droga são frequentemente utilizados de modo permutável. Na realidade, as interações droga-nutriente são algumas das muitas interações alimento-droga possíveis. As interações droga-nutriente incluem alterações específicas na farmacocinética de uma droga causada por um ou mais nutrientes  ou alterações na cinética de um ou mais nutrientes causados por uma droga. As interações alimento-droga são termos mais amplos que também abrangem os efeitos de uma medicação sobre o estado nutricional. O estado nutricional pode sofrer o impacto dos efeitos colaterais de uma medicação, que incluiria um efeito sobre o apetite ou a capacidade de se alimentar.

        Por razões clínicas, econômicas e legais, é importante reconhecer as interações alimento-droga. As interações alimento droga que reduzem a eficácia de uma droga podem resultar em permanências mais longas ou repetidas em instituições de saúde, uso de múltiplas drogas e deterioração clínica do paciente devido aos efeitos da doença. Outros problemas de saúde podem ocorrer em decorrência de interações droga-nutriente a longo prazo. Um exemplo desse tipo de interação seriam os efeitos a longo prazo dos corticosteróides sobre o metabolismo do cálcio e osteoporose resultante.

 Os membros da equipe médica devem estar cientes que as interações alimento-droga terapeuticamente importantes podem:

• Alterar a resposta pretendida para a medicação,
• Causar toxicidade da droga e
• Alterar o estado nutricional normal

Enquanto que os benefícios de se minimizar as interações droga-nutrientes são muitos:

• As medicações atingem os efeitos pretendidos;
• Os pacientes não interrompem seu medicamento;
• A necessidade de medicação adicional é minimizada;
• Menos suplementos calóricos ou nutrientes são necessários
• Efeitos colaterais adversos são evitados;
• Um estado nutricional ótimo é preservado;
• Os acidentes e lesões são evitados;
• As complicações da doença são minimizadas;
• Os custo dos serviços de cuidado de saúde é reduzido,
• Há menos responsabilidade profissional e
• As exigências dos órgãos competentes são cumpridas.

        A consciência dessas interações capacita o profissional da saúde e o paciente a trabalharem juntos para evitar ou minimizar os problemas.

        A medicação é administrada para produzir um efeito farmacológico no corpo ou um órgão ou um tecido-alvo. Para atingir essa meta, a droga deve se deslocar do local de administração para a corrente sanguínea e eventualmente para o local de sua ação. No curso devido a droga pode ser alterada para metabólitos ativos ou inativos e finalmente eliminados pelo corpo. Uma interação entre a droga e o alimento, um componente alimentar ou um nutriente pode alterar este processo em qualquer ponto. As interações alimento-droga podem ser divididas em dois tipos amplos: interações farmacodinâmicas, que afetam a ação farmacológica da droga e interações farmacocinéticas, que afetam o movimento da droga para dentro, por toda a parte e para fora do corpo.

        Os pacientes devem ser avaliados individualmente para o efeito do alimento sobre a ação da droga e o efeito das drogas sobre o estado nutricional. As interações podem ser causadas ou complicadas por polifarmácia, estado nutricional, genética, enfermidade subjacente, dietas especiais, suplementos nutricionais, alimentação por sonda, produtos herbais ou fitonutrientes, ingestão de álcool, abuso de drogas, não nutrientes nos alimentos, excipiente das drogas ou alimento, alergias ou intolerâncias. A pouca submissão do paciente e os padrões de prescrição dos médicos, complicam ainda mais o risco. A desnutrição induzida por droga ocorre mais comumente durante o tratamento a longo prazo para doença crônica e os pacientes idosos estão em risco particularmente devido as alterações físicas relacionadas ao envelhecimento como o aumento na proporção de tecido adiposo e massa corporal magra, diminuição da massa do fígado, diminuição da volemia e comprometimento da função renal. O feto em desenvolvimento, o lactante e a mulher grávida também estão em risco de interações droga-nutriente. Muitas drogas não foram testadas nessas populações, dificultando a avaliação de riscos de efeitos negativos da droga, inclusive das interações alimento-droga.

        A desnutrição existente também põe os pacientes em maior risco de interações droga-nutrientes. As alterações protéicas, especificamente, baixos níveis de albumina, e as alterações na composição corporal secundárias à desnutrição, podem afetar a disposição da droga pela alteração da ligação a proteína e distribuição da droga (MAHAN, L. A; ESCOTH-STUMP, S., 2005)

A influência dos nutrientes sobre a absorção dos fármacos depende do tipo de alimento, da formulação farmacêutica, do intervalo de tempo entre a refeição e sua administração e do volume de líquido com o qual ele é ingerido.. O trato gastrintestinal representa o principal sítio de interação fármaco-nutriente, uma vez que o processo de absorção de ambos ocorre por mecanismos semelhantes e podem ser competitivos. A maioria das interações clinicamente significativas ocorrem no processo de absorção segundo os estudos até hoje realizados.

A ingestão de alimentos é capaz de desencadear no trato digestivo a liberação de secreção que, por ação qualitativa e quantitativa dos sucos digestivos, age hidrolisando e degradando ligações químicas específicas, através da ação do ácido clorídrico e de enzimas específicas (Guyton, 1992). Portanto, substâncias sensíveis a pH baixo podem ser alteradas ou até inativadas pelo ácido gástrico quando ingeridas com alimentos. Paralelamente, o nutriente pode influenciar na biodisponibilidade do fármaco através da modificação do pH do conteúdo gastrintestinal, esvaziamento gástrico, aumento do trânsito intestinal, competição por sítios de absorção, fluxo sangüíneo esplâncnico e ligação direta do fármaco com componentes dos alimentos. Modificação do pH do conteúdo gastrintestinal: Após a ingestão de alimentos ou líquidos o pH de 1,5 do estômago se eleva para aproximadamente 3,0. Esta modificação pode afetar a desintegração das cápsulas, drágeas ou comprimidos e conseqüentemente a absorção do princípio ativo. O aumento do pH gástrico em função dos alimentos ou líquidos pode reduzir a dissolução de comprimidos de tetraciclina (INTERAÇÃO FÁRMACO-NUTRIENTE, 2005).

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