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CULTURA, PRODUÇÃO E CONSUMO DOS ALIMENTOS EM UMA SOCIEDADE INDÍGENA NA REGIÃO DE SÃO MIGUEL DAS MISSÕES1

Por:   •  23/5/2017  •  Resenha  •  1.784 Palavras (8 Páginas)  •  358 Visualizações

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INTRODUÇÃO A alimentação dos indígenas Guarani Mbyá imbrica em quase todos os âmbitos de seu mundo social e simbólico. Para a cultura Guarani o alimento é entendido como algo que participa de forma determinante na sua constituição como seres humanos (GABRIEL, 2013). De acordo com a cultura os alimentos de “brancos” não devem ser consumidos por fazerem mal a saúde, mas atualmente muitos hábitos de produção e consumo de alimentos vem mudando. A perda de espaços de terra pra produzir e de costumes, as mudanças alimentares, além da facilidade e praticidade de comprar os alimentos prontos na cidade, acaba trazendo cada vez mais os produtos dos “brancos” para dentro das aldeias. Segundo Litaiff (1996) a compra do alimento industrializado, ou seja, a “comida do branco”, tem gerado graves problemas entre os índios Guaranis. As modificações dos costumes alimentares e a adaptação ou as vezes imposição do costume dos povos não indígenas e a não possibilidade produzir mais o que comem e abertura de possibilidades de ir ao mercado ou ganhar alimentos industrializados/processados/prontos causa uma perda cultural significativa, De acordo com Tempas (2010, p. 20) “somente as terras tradicionais possibilitam a alimentação tradicional nas sociedades indígenas”. Os guaranis possuem uma alimentação muito própria que os diferenciam das outras tribos, tudo é compartilhado mostrando que é uma raça unida, e não é só o habito de comer tudo tem uma simbologia e uma crença, um significado e um destino. Nesse contexto o trabalho objetivou descrever sobre a cultura, produção e consumo dos alimentos em uma sociedade indígena Guarani na região de São Miguel das Missões, RS.

METODOLOGIA A metodologia utilizada foi de natureza qualitativa, que, segundo Minayo (2008, p. 21) “responde a questões muito particulares. Ela se ocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com um universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes”.

Para descrever a cultura, produção e consumo dos alimentos de uma sociedade indígena Guarani na região de São Miguel das Missões, RS foi utilizado um questionário semi-estruturado para entrevista com o fundador da aldeia e um índio da aldeia que estuda a cultura de sua tribo. O questionário era composto de questões sobre o significado, ou seja, a simbologia dos alimentos indígenas, os alimentos que consumiam quando criança e os que a tribo consome e a descrição dos nomes dos alimentos e preparações na língua guarani e portuguesa. Para a discussão dos resultados as considerações foram comparadas com trabalhos realizados em outras tribos Guaranis do Brasil e Argentina.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Segundo o índio fundador da aldeia Guarani de São Miguel das Missões entrevistado os índios Guaranis de suas famílias vivem em aldeias no Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. O objetivo de todo guarani é viver em uma terra sem mal. Neste mundo estão apenas passando por uma espécie de prova, que os qualificará – ou não – para atingir a Terra Sem Mal. E a Terra Sem Mal é como um paraíso, para isso é preciso atingir o aguyje, que é o estado da maturidade e a plenitude do desenvolvimento de todo o ser (TEMPASS, 2005). “Quando eu era criança nós só se alimentava com os alimentos que produzia e os que a gente caçava ou pescava. Comer comida de Juruá (brancos) não podia, não eram abençoados por Deus.” (indío fundador da aldeia) As atuais aldeias ocupadas pelos Guaranis encontram-se desprovidas de recursos ambientais para obtenção dos alimentos tradicionais forçando os índios a consumirem produtos dos juruá (brancos). Essa mudança de hábitos pode ter impacto nos aspectos cosmológicos na alimentação, pois para os Guarani comer os alimentos tradicionais significa alimentar-se com a criação divina, com alimentos abençoados pelo Deus deles. Para poder alcançar a chamada Terra Sem Mal, a comida útil é a tradicional, não a dos juruá (ARANHA e MARTINS, 1993). As tribos indígenas Guarani tem lutado pelos seus direitos de terem terras para viverem bem e seguir seus costumes de caça, pesca, plantio e colheita. “Sua alimentação tradicional, evidenciada, também é uma bandeira de luta dos Mbyá- Guarani, sendo constantemente evocada em suas reivindicações frente à sociedade evolvente, como na requisição de mais e melhores terras” (TEMPASS, 2007, p. 190). Segundo o fundador da aldeia “a partir dos porongos eram produzidos, copos, pratos e cuias.” Apesar de não ter um uso cotidiano como antigamente, estes ainda são produzidos para tomar mate e quanto mais perfeita as formas dos porongos mais bonitos ficam os utensílios feitos pelos mesmos. “O mate de antigamente era feito com erva mate que nós produzia, hoje compramos, nas nossas terras não tem mais árvores. Nós socava cana em um pilão, o bagaço com o caldo era fervido em uma

chaleira de barro e nós tomava o mate doce de cana. O chimarrão doce ou só de água pode ser tomado por todos os índios, as mulheres menstruadas não podem. A bomba era de taquarinha que a gente fazia”. Cada cultura, lugar, país, tribo possui seus próprios alimentos, formas de preparações, costumes, tradições e Mintz, (2001) cita que “os hábitos alimentares revelam a cultura em que cada um está inserido”. “Para cozinhar nos estamos usando os utensílios dos juruá (brancos) mas tudo sempre que possível dentro do sistema Guarani que herdamos dos nossos ancestrais. Em algumas comidas novos utensílios substituíram os tradicionais, mas sem prejuízo à forma de preparação e realização das refeições que aprendemos.” (índio Guarani jovem) Os alimentos ainda produzido por eles não pertence unicamente a quem o produziu, pertence a todo o grupo. Antigamente consumiam alimentos naturais, sendo o milho o principal alimento. A mandioca anda é utilizada, cada família tem sua lavoura. É consumida cozida, assada ou frita em óleo. Antigamente era utilizado óleo de coroa ou taluna, este óleo vem da palmeira, que também é conhecida como pindó. O amendoim também é uma oleaginosa muito consumida, ele é feito torrado e socado no pilão com milho, esta preparação é chamada de Avastikui, e quando verde é fervido com casca. O arroz é cozinhado juntamente com o feijão, está preparação chama-se komanda ro. A principal bebida conservada da cultura consumida por eles é o chá mate. Também fazem preparações com peixes, o peixe assado, que é assado na taquara, varra de cipó ou laranjeira do mato. Outra preparação é o peixe fervido: fervido em água e sal, antigamente este era feito em uma panela de argila, hoje é feito

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