O Modelo de Resumo

DISCUSSÃO

O Líquen Plano, apesar de reconhecido como uma doença auto-imune, ainda hoje tem sua etiologia desconhecida. Está intimamente associado ao estresse, mas é relacionada com a mediação de um mecanismo imunopatológico por linfócitos T. Entretanto, a relação de fatores psicológicos com a doença varia entre os autores havendo controvérsias se alterações como depressão ou ansiedade estão envolvidas na patogenia ou são apenas consequências da presença de lesões dolorosas22.  No caso descrito foi possível constatar durante anamnese que a paciente apresentava problemas psicológicos e alterações emocionais, fatores estes que foram associados ao surgimento e desenvolvimento da doença. Durante o acompanhamento do paciente foi possível associar a melhora do quadro clínico intra-bucal com uma melhora das alterações emocionais relatadas pela paciente.

Visto que se trata de uma doença que não tem cura, o objetivo da intervenção terapêutica é o controle dos quadros sintomáticos que comprometem o bem estar e a qualidade de vida dos pacientes. Atualmente, os corticosteróides compõe a terapia de escolha para o controle dos episódios de Líquen Plano bucal. Este pode ser empregado sob a forma de aplicação superficial tópica, administração sistêmica ou injeção intralesional e na maior parte dos casos se obtém sucesso3. Entretanto, no caso relatado não houve uma resposta positiva do quadro mesmo com diversas tentativas, tanto da forma tópica e sistêmica, diferente do que se encontra na literatura. Cabe ressaltar que na paciente descrita não foi optado pela injeção intralesional em virtude das manifestações estarem difusas e generalizadas em toda cavidade bucal, fato este que inviabilizaria a técnica.

Para esses casos que não se obtém sucesso com o tratamento de 1ª opção, outras alternativas veem sendo utilizadas nos dias de hoje com resultados promissores em alguns casos. No caso descrito, após a corticoideterapia, foi optado de forma coadjuvante a laserterapia. Recentemente, a terapia com laser de baixa potência tem sido utilizada como uma abordagem na redução dos sintomas desses pacientes. Estudos demostraram que o uso do laser levou a redução dos sintomas com efeito duradouro e constante, desde o início da aplicação já na primeira aplicação17. E assim foi constatado no presente caso. Após aplicação de laser de baixa intensidade no fim da primeira sessão paciente já sentia um maior conforto para falar e se alimentar, corroborando assim com a literatura recente, onde o laser pode ser benéfico aos pacientes, principalmente para aqueles casos não controlados com a medicação sistêmica17.

Por se tratar de um quadro bastante complexo e de difícil remissão, a paciente foi encaminhada para um reumatologista e para um psicológico visto que trata-se de uma doença sistêmica de caráter auto-imune, além de estar fortemente associada a fatores emocionais. Estudos mostram que há pacientes com altas taxas de recorrência após a cessação do tratamento e isso não deve desencorajá-los para reiniciar um novo ciclo de controle de seus sintomas. Deverá ter um acompanhamento regular permitindo que os clínicos examinem e avaliem pacientes de forma continua. Muito se especula sobre seu potencial maligno, mas o que se afirma é que mais estudos são necessários com maior evidência científica antes de uma conclusão sobre seu potencial maligno19, 20. Independentemente de sua improvável capacidade de malignização, é imprescindível que o paciente seja acompanhado por toda vida por uma equipe multidisciplinar, visto que trata-se de uma doença sem cura, passível de controle, mas que pode trazer grandes perdas na qualidade de vida dos pacientes.