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Possibilidades e limites da co-existência entre as gerações no Natal: uma reflexão sobre espaços sociais e os tempos

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Por:   •  30/10/2013  •  Tese  •  8.849 Palavras (36 Páginas)  •  451 Visualizações

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POSSIBILIDADES E LIMITES DA COABITAÇÃO INTERGERACIONAL EM NATAL: REFLEXÃO SOBRE ESPAÇOS E TEMPOS SOCIAIS.

Françoise Dominique Valéry1

Resumo

O objetivo geral deste trabalho é entender como se processam as relações entre gerações no quadro das famílias de idosos e com idosos no Brasil, sabendo-se que as famílias brasileiras precisam se organizar para fazer face ao crescente envelhecimento de sua população e as consequências deste macro processo demográfico e social, ilustrado por dados IBGE 2010. Esse processo social que tem como pano de fundo as necessidades dos idosos (perda de suas capacidades funcionais e financeiras), as condições precárias de inserção social dos jovens (maior dependência econômica no contexto de crise do trabalho e dos valores societais), a ampla retração do Estado (no quadro da expansão do capitalismo globalizado) e os avanços e recuos das políticas públicas. Requisitadas para cuidar dos seus segmentos mais “vulneráveis”(jovens e idosos), as famílias desenham arranjos e formas de apoios intergeracionais, bem como estratégias de convivência e de sobrevivência, embora sob formas diferenciadas entre as classes sociais abastadas, medias e desfavorecidas. Tais transformações fazem com que os espaços residenciais (na casa e na cidade) e os tempos sociais sejam frutos de instabilidade e de antagonismo entre gerações, mas também de solidariedade e complementaridade. A luz de reflexões sobre gerações, questiona-se esse conceito como fio diretor para entender as possibilidades e limites da coabitação intergeracional. As observações são fruto de pesquisa empírica realizada no meio urbano (casa e cidade) em Natal, desde 2010, revisitadas por leituras teóricas sociológicas e enriquecidas pela perspectiva de gênero.

Palavras-chave: Geração; Gênero; Famílias; Idosos; Coabitação intergeracional; Individualismo contemporâneo.

Este trabalho tem como propósito entender como se processam as relações de moradia entre gerações no quadro das famílias de idosos e com idosos no Brasil, e particularmente em Natal, sabendo-se que tanto a sociedade como as famílias brasileiras precisam se organizar para fazer face ao crescente envelhecimento de sua população e as consequências deste macro processo demográfico e social (KALACHE, 2008), e amplamente comprovado por dados recentes (Censo IBGE 2010).

Parte-se do pressuposto de que as principais formas atuais de moradia dos idosos se dão sob a forma de coabitação intergeracional. No decorrer do texto, serão abordadas outras formas de moradia (em Instituições de Longa Permanência, em residências geriátricas, ou idosos morando só, por exemplo) mas nota-se que são residuais, em relação à imensa maioria das observações empíricas e dos estudos realizados sobre as condições de vida e moradia dos idosos, no Brasil (VALERY, 1994; CAMARANO, 2004; SCHARFSTEIN, 2006; VALERY,

1 Professora do departamento de Arquitetura (DARQ) e Pesquisadora / Docente do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal, Brasil, francoisevalery@hotmail.com

2011; GOIS, 2012) que apontam para formas de coabitação nas famílias ou coresidência entre gerações nos domicílios.

Nosso ponto focal é portanto o estudo dos espaços e tempos sociais, da moradia enquanto ponto de ancoragem de práticas sociais diferenciadas em função de classe, gênero e geração, e lócus onde é possível apreender o idoso enquanto sujeito social e sua vivência no cotidiano (TAKEUTI e NIEWIADOMSKI, 2009).

O espaço residencial é um espaço dinâmico, em constante transformação, que passa por mudanças físicas, morfológicas, culturais e sociais notáveis, como mostra a recente evolução habitacional e urbana das capitais do Nordeste. Transformações no estilo de vida dos moradores urbanos e nos modos de morar, que foram descritas em metrópoles brasileiras (KATZMAN e RIBEIRO, 2008) e estrangeiras (JACOBS, 2009) durante a segunda metade do século XX, e acabam repercutindo em Brasil, com certa decalagem temporal e espacial. Este processo global de (re) produção do espaço habitacional e urbano reveste-se se de feições particularmente interessantes em Natal2.

A cidade conheceu, nos anos noventa, um processo de verticalização acelerado e nos últimos anos um boom imobiliário espetacular, no sentido em que está alterando o cenário paisagístico da cidade, desfigurando-a significativamente.

As tradicionais formas de moradia em residências unifamiliares (casas térreas e sobrados) e em conjuntos habitacionais horizontais desaparecem da paisagem urbana a um ritmo alucinante, trocadas por prédios de apartamentos e condomínios residenciais principalmente verticais. Vendidas a empresas construtoras e incorporadoras, as antigas casas de família (construídas em grandes lotes e cercadas de jardins) que outrora encantavam os visitantes ilustrando o jeito de receber de seus habitantes (a famosa “hospitalidade natalense”), foram demolidas de uma hora para outra, cedendo lugar a inúmeros canteiros de obras. Em poucos meses, em seus lugares, estão sendo erguidas torres e mais torres de apartamentos, objetos de desejo e de consumo da classe alta e endinheirada e dos investidores estrangeiros, de volta ao mercado brasileiro após a ressaca econômica e financeira europeia e norte-americana dos últimos anos.

2 Como maior centro urbano e capital do Estado do Rio Grande do Norte, Natal está hoje inserida numa ampla região metropolitana. A Região Metropolitana de Natal (RMN) ou Grande Natal, reúne 10 municípios do estado do Rio Grande do Norte formando a quarta maior aglomeração urbana do Nordeste. O núcleo urbano, formado por Natal e dois de seus municípios limítrofes (Parnamirim e São Gonçalo do Amarante) formam uma mancha urbana continua, mas os outros municípios próximos (Ceará Mirim, Extremoz, Macaíba, Monte Alegre, Nísia Floresta, São José de Mipibu e Vera Cruz) formam um tecido urbano descontínuo. sem nenhuma conurbação entre eles. Com uma população estimada em 1 350 840 habitantes IBGE, 2010) ainda sofre do problema da falta de integração entre as cidades, que se reflete no transporte coletivo pouco abrangente e na concentração da quase totalidade dos equipamentos urbanos em Natal. Em termos de pressão imobiliária, se dá nos limites de Natal e Parnamirim, onde há hoje o maior numero de empreendimentos condominiais horizontais e verticais, destinados a todas as classes.

Do mesmo modo, conjuntos habitacionais principalmente verticais estão sendo erguidos para atender a demanda criada institucionalmente, com base

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