O Ensaio Teórico

Ensaio Teórico:

Transbordamento de conhecimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e os fatores que o direcionam nas IES brasileiras: um quadro teórico

Introdução

        Existe um consenso que estimular o conhecimento por meio da pesquisa e desenvolvimento (P&D) melhora o bem-estar da comunidade (Arrow, 1962; Koch & Simmler, 2020; Nelson, 1959; Qiu, Liu, & Gao, 2017), mas no que tange a eficiência dessas pesquisas estão abertas discussões e novos estudos (Koch & Simmler, 2020). O governo investe parte de seu orçamento em P&D em conjunto com Instituições de Ensino Superior (IES), Institutos de Pesquisas e Empresas com a finalidade de proporcionar melhorias na sociedade.

O governo brasileiro investiu em 2017 juntamente com o setor privado investem em Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) aproximadamente 99.849,9 milhões de reais. Dessa parcela 82.792,2 milhões de reais são destinados a P&D e o restante as Atividades Científicas e Técnicas Correlatas (ACTC) (MCTI, 2019). As ACTC abarcam atividades relacionadas ao desenvolvimento, disseminação e aplicação do conhecimento científico e técnico (MCTI, 2019; OCDE, 2013). As Instituições de Ensino Superior (IES) receberam cerca de 26.172,8 milhões de reais da parcela de P&D. No Brasil no ano de 2018 têm-se um total de 2.537 IES, dessas 299 instituições são públicas e o restante privadas (INEP, 2019). Ainda as IES estão divididas academicamente em Universidades, Centros Universitários, Faculdades e IF (Institutos Federais) e CEFET (Centros Federais de Educação Tecnológica).

O sistema de ensino superior brasileiro têm sofrido grandes transformações, desde a década de 1990 (Amarante; Crubellate & Meyer Jr., 2017). Transformações essas que têm provocado mudanças no ambiente dessas organizações (Meyer Jr et al., 2012), ou seja, as IES estão em constantes mudanças ambientais, assim como as demais organizações. Uma das mudanças que se pode mencionar é o papel que as IES possuem no desenvolvimento econômico do país (Silva & Segatto, 2017; Smith, 2006). Pinto (2004, p. 81) destaca que as universidades “deveriam ser geridas de maneira a cumprir com maior excelência sua parte na inovação”, ou seja, as universidades poderiam colaborar mais com as empresas, devido ao fato de que a atividade primária das universidades são o ensino, a pesquisa e extensão (Silva & Segatto, 2017). As IES estão sendo readaptadas as lógicas de mercado (Friedland & Alford, 1991; Thornton, Ocasio, & Lounsbury, 2012), se engajando em atividades empreendedoras (Etzkowitz, 2001; Etzkowitz & Leydesdorff, 2000) como por exemplo, transferência de tecnologia, patentes, inovação e consequentemente desenvolvendo um papel no desenvolvimentos econômicos e social que é um dos pilares das IES (Etzkowitz, 2001; Etzkowitz & Leydesdorff, 2000).

        As IES brasileiras possuem um grande número de pedidos de patentes por volta de 13.023 pedido, e está aumentando a cada ano, mesmo com o orçamentos mais justos e o aumento da pressão dos investidores no retorno do dinheiro investido nas IES (Kolympiris & Kalaitzandonakes, 2013; Kolympiris & Klein, 2017) são pressões que estão suportando. Além das patentes as IES abarcam outras atividades de transbordamento do conhecimento, como os escritórios de transferência de conhecimento (Andrade, Chagas Jr., Urbina, & Silva, 2017; Battaglia, Landoni, & Rizzitelli, 2017; Beltran et al., 2020; Chapple, Lockett, Siegel, & Wright, 2005; Goble, Bercovitz, & Feldman, 2017), incubadoras de empresas (Godeiro, Dantas, Silva, & Celestino, 2018; Phan, Siegel, & Wright, 2005; Rothaermel & Thursby, 2005; Tietz, Anholon, Cooper Ordonez, & Quelhas, 2015; Villani, Rasmussen, & Grimaldi, 2017) e parques de ciência e tecnologia (McCarthy, Silvestre, von Nordenflycht, & Breznitz, 2018; Ramírez-Alesón & Fernández-Olmos, 2018; Ratinho & Henriques, 2010) que facilitam o transbordamento de conhecimento das IES para o ambiente em que elas estão inseridas.

        Desde o reconhecimento das IES como atores na lógica de mercado (Friedland & Alford, 1991; Thornton, Ocasio, & Lounsbury, 2012) nos últimos anos (Grimaldi, Kenney, Siegel, & Wright, 2011) e as pressões pelo retorno dos investimentos (Kolympiris & Kalaitzandonakes, 2013; Kolympiris & Klein, 2017), são fatores importantes no entendimento de como ocorrem o transbordamento de conhecimento nas IES. Diversos estudos pontuam canais que o conhecimento flui das IES para o ambiente, entretanto existem alguns questionamentos a serem respondidos. Primeiro; como os conhecimentos baseados em tecnologia transbordam das IES para o ambiente; segundo como os recursos humanos das IES brasileiras afetam nos resultados do transbordamento do conhecimento e da transferência de tecnologia; e por último como os mecanismos institucionais das IES afetam os transbordamentos de conhecimentos. Assim, este ensaio teórico busca apresentar algumas proposições (hipóteses) que possam contribuir na compreensão desses questionamentos suscitados. Além de contribuir para teoria em diversos aspectos como apresentar um quadro teórico que possa ser testado empiricamente promovendo ideias de como as patentes são disseminadas da IES ao setor privado em seu processo de inovação, demonstrando também como as diferentes características dos profissionais das IES afetam no desenvolvimentos nas atividades de desenvolvimento de patentes e a sua transferência para o mercado. Outra contribuição que este ensaio é apresentar como os mecanismos institucionais promovem com efetividade as atividades de P&D, auxiliando assim os gestores das IES a melhor se adequar as “regras do jogo” para as IES brasileiras.

- Como os recursos humanos das IES brasileiras afetam nos resultados do transbordamento do conhecimento e da transferência de tecnologia.

- Como os conhecimentos baseados na tecnologia transbordam das IES para o ambiente.

- Como os mecanismos institucionais das IES afetam os transbordamentos de conhecimentos.

        

O objetivo deste ensaio teórico é analisar o transbordamento dos conhecimentos em P&D das IES brasileiras e os fatores internos e externos que o direcionam. Os fatores internos se referem ao capital humanos e os demais recursos das IES, já os fatores externos estão relacionados aos regulamentos, a localização geográfica e

Esta tese tem como objetivo analisar o transbordamento dos conhecimentos em P&D das IES brasileiras e os fatores internos e externos que o direcionam. Os fatores internos se referem ao capital humano e os demais recursos das IES, já os fatores externos estão relacionados aos regulamentos, a localização geográfica e aos investimentos públicos e privados. Para atingir tal objetivos, serão utilizados dados provenientes de patentes, relatórios de investimentos em P&D nas IES.

O objetivo deste ensaio teórico é analisar o transbordamento dos conhecimentos em P&D das IES brasileiras e os fatores internos e externos que o direcionam. Os fatores internos se referem ao capital humanos e os demais recursos das IES, já os fatores externos estão relacionados aos regulamentos, a localização geográfica e