O PRINCÍPIO MISERICÓRDIA EM JON SOBRINO

APRESENTAÇÃO MONOGRAFICA

O PRINCÍPIO MISERICÓRDIA EM JON SOBRINO

O insondável mistério de Deus e o compromisso de descer da cruz os povos crucificados

“Abrir-se a Misericórdia de Deus, abrir-se a si mesmo e ao seu coração”

(Papa Francisco)

“A vida se torna um caminhar com profundo sentido, não porque nós cristãos já tenhamos soluções para tudo, mas porque, objetivamente, conhecemos a direção para o qual nos movemos: o Reino de Deus; nos colocamos a serviço da vida”

 (Jon Sobrino)

O primeiro e único passo necessário para experimentar a misericórdia é reconhecer que somos uma humanidade necessitada de misericórdia recorda-nos o Papa Francisco. Por isso o tema que norteou este estudo quer responder a este anseio. Quando nos ousamos refletir o Princípio Misericórdia em Jon Sobrino, nossa proposta latente nos manteve fiéis ao compromisso de descer da cruz os povos crucificados, frutos de uma sociedade sem misericórdia.

  Em nossa conjuntura atual, marcada de modo profundo pela cultura da indiferença, do consumo e do descarte, três inquietações nortearão o nosso estudo: 1) a recuperação do vigor teologal de Jon Sobrino a partir da releitura de alguns aspectos da sua vida e de seu caminho teológico a partir da categoria da misericórdia; 2) o sentido urgente e abrangente do princípio misericórdia para a atualidade e, 3) indicar dentre tantos, alguns desafios e esperanças para se viver a misericórdia na Igreja e no mundo atual.

A humanidade precisa de misericórdia, nós precisamos de misericórdia. Etimologicamente, misericórdia significa abrir o coração ao miserável; eis o encorajamento do Papa Francisco a toda a humanidade. Com o coração aberto no ensejo de contribuir com os desafios da atualidade, nosso presente trabalho teve o objetivo de apresentar o alcance e a proeminência do Princípio Misericórdia sobriniano diante da missão urgente de viver a misericórdia numa sociedade sem misericórdia, descendo da cruz os povos crucificados.  

Buscamos em nosso estudo, percorrer as etapas que Jon Sobrino trilhou para chegar ao Princípio Misericórdia, resgatando os passos que consideramos os mais significativos para este nosso percurso. Nosso ensejo foi apresentar o Princípio Misericórdia numa perspectiva mais ampla, ou seja, a partir dele, intuímos que o tempo que vivemos é o tempo da misericórdia, e que esta, é a fonte de esperança para se viver a misericórdia na Igreja e no mundo atual marcado pela cultura do descarte, da indiferença, do consumo e da liquefação.

A reflexão de Jon Sobrino sobre o Princípio Misericórdia nos ajudou a perceber que a tarefa de pensá-lo a partir do solo em que pisamos não é fácil, mas, ao mesmo tempo, é imprescindível para que Ele, como outrora, continue provocando e incentivando a mudança das estruturas de morte que imperam em nosso meio e gerando esperança de vida digna.

É importante deixarmos claro que não tivemos o anseio de extenuar um tema tão atual e necessário como o nosso. Procuramos no decorrer de nosso estudo ser o mais leal possível ao tema delimitado. E consciente do limite de nossa pesquisa, esboçamos algumas proposições. Estas de modo algum se caracterizam solidificadas, pelo contrario elas ascenam a possibilidade de novos aprofundamentos e estudos frente à urgente necessidade de nos configurarmos ao princípio misericórdia sobriniano.

Ao resgatarmos os aspectos da vida e caminho teológico de nosso autor, o sentido e a abrangência do Princípio Misericórdia, assim como refletindo a misericórdia numa sociedade sem misericórdia, foi-nos possível alcançar algumas proposições.

Primeiramente a misericórdia é o ponto central da vida de Jesus e da sua missão, nos lembra Sobrino e nos recorda o Papa Francisco. A aflição dos vulneráveis, dos excluídos, dos oprimidos, dos pobres, e tantas outras realidades de inumanidades são os cenários donde Jesus intensifica suas ações.

Estas situações gritantes presentes na realidade de Jesus, e também na nossa realidade de pobreza, exclusão, injustiça, individualismo, cultura da indiferença, do descarte, do consumo, dentre outras tão urgentes como estas, conforme nos recordou Bauman, Lipovetsky e Serroy nos levaram a exercer a compaixão e a misericórdia, sendo viscerais os sentimentos que nos moveram.

Esta ação compassiva e misericordiosa de Jesus brotou e continua brotando de um coração amoroso e sensível, que configura todo o seu ministério de serviço. Este por sua vez, deve ser também o que nos move no serviço latente de descer da cruz nossos irmãos que continuam sofrendo.  

        Ficou-nos evidente que a esperança que brota de Jesus é também a esperança dos pobres que nos anuncia o Reino de Deus. O Deus de Jesus é também o nosso Deus, o Deus dos pequenos e fragilizados, o Deus misericordioso dos pobres.

Esta esperança que brota em Jesus proporcionou o renascimento da alegria em meio a tantos desafios doloridos, esperança que nos levou e ainda leva a assumir os mesmos sentimentos de Jesus, sentimentos estes, que nos conduziu a estar ao lado dos mais vulneráveis e marginalizados. Nosso teólogo nos recordou que para Jesus a misericórdia está na origem do divino e do humano, sendo o Princípio Misericórdia a nos imprimir forma humanizada e humanizadora.

        Uma implicação nos ficou clara e fundamentalmente necessária, precisamos configurar as nossas vidas e a vida de nossas instituições, de modo especial, dentre elas, a eclesial, a partir do Princípio Misericórdia.  Pois a partir dele, somos capazes de manter uma relação recíproca entre o antropológico, ou seja, o humano que se deixa mover pela misericórdia, o cristológico, sendo ele a misericórdia que se configura a totalidade da vida de Jesus e sua missão, assim como o teológico, a misericórdia como princípio configurador de todo processo de salvação.