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Arquitetura Como Produto Cultural

Por:   •  14/6/2018  •  Trabalho acadêmico  •  1.796 Palavras (8 Páginas)  •  556 Visualizações

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Cassia Élica Marques Spinelli – R.A.: 28241445

 

REFLEXÃO TEÓRICA: A Arquitetura como fenômeno de transição

TÍTULO: Arquitetura como produto cultural

Sabe-se que existiram diversas e distintas civilizações constituídas em diferentes períodos (Paleolítico, Egito, Renascimento, Barroco e tantos outros estilos) que possuíam características próprias e específicas (algumas com poucas similaridades). Mas, o que elas tiveram em comum foi a forma de expressar a sua cultura e o seu jeito de pensar no espaço, refletindo diretamente na Arquitetura, ou seja, cada período onde se constituía uma civilização construíram moradias e edifícios em geral para seu uso conforme os seus hábitos e costumes.  

E o período da taipa em São Paulo não foi diferente, ela também foi o resultado de uma cultura (neste caso, a popular) em um certo período. Logo, a técnica da taipa de pilão foi muito importante, principalmente para São Paulo em seu período colonial, mas, com o auge da produção cafeeira a economia se desenvolveu e a cidade transformou-se totalmente, mudando também sua técnica construtiva e dando lugar ao tijolo. Com um complemento de autores influentes na História Paulista, pretende-se refletir sobre o processo de transformação entre a era da taipa ao tijolo. Este entendimento da história, da formação, dos sucessos e derrotas de uma cidade tão potente como São Paulo, ajuda a entender a razão da configuração da sua paisagem atual e dos problemas urbanos sofridos e, talvez elaborar medidas para diminuí-los.  

A taipa de pilão foi o material mais utilizado nas construções coloniais, foi trazida pelos portugueses para o Brasil, mas tem origem mourisca. Sua predominância aconteceu nas regiões de São Paulo e Goiás. Já em Minas, encontramos igrejas mais antigas e residências que foram erguidas com essa técnica. As cadeias, em que não era possível o uso da pedra e cal, a taipa era reforçada com engradamento de madeira, nas paredes e nos pisos.  

Para a utilização dessa técnica, existiram alguns motivos que foram fundamentais, segundo o arquiteto Carlos Lemos, a taipa de pilão é própria dos lugares pobres, "pobres", explica ele,

“[...] não só economicamente, mas também carentes de materiais de construção como a cal, a pedra, o tijolo e carentes de técnicas apropriadas à madeira vista como elemento estrutural”. Portanto, a Vila de São Paulo, carecia de materiais construtivos e devido sua abundância de matéria prima, durabilidade e facilidade de execução a taipa de pilão foi a melhor solução encontrada.

Sobre seu preparo ela consiste em amassar com um pilão o barro colocado em formas de madeira. Os taipais têm somente os elementos laterais, e são estruturados por tábuas e montantes de madeira, fixados por meio de cunhas, em baixo, e um torniquete em cima. Após a secagem, o taipal é desmontado e deslocado para a posição vizinha. E assim sucessivamente.

Essa técnica foi tão marcante que Carlos Lemos cita “[...] onde há taipa de pilão, há paulista e onde há paulista há taipa”. Observando que a taipa de pilão fez parte da construção de São Paulo e que estão ligadas culturalmente. E não foi somente Lemos que notou a influência da taipa, pois segundo o livro São Paulo: Três cidades em um século, alguns viajantes elogiaram São Paulo em seus escritos, enfatizando suas casas (construídas com taipa) suas palmeiras e araucárias e até um viajante inglês a chamou de “a mud city” – a cidade de barro.  

Mas, a taipa de pilão não foi a única técnica do período colonial, existiu também a taipa de mão (ou pau-a-pique) uma técnica mais rústica e menos sofisticada (mais fina também). Elas até trabalharam juntas na construção de moradias da Arquitetura Bandeirista que foram edificadas com taipa de pilão nas suas paredes externas e com taipa de mão em suas paredes internas.  

É fato que as vantagens superam as desvantagens dessa técnica, como, além da beleza rústica que é uma característica do período colonial paulista, tem uma técnica milenar que poderia ser aplicada perfeitamente no contexto climático do século XXI, pois, o barro socado em grossas paredes, é antitérmico, ou seja, durante o verão a casa é mais fresca e durante o inverno é mais quente (diminuindo os gastos com ar condicionado, por exemplo). Mas, para uma cidade que almejava o crescimento, as desvantagens também significavam bastante, como, por exemplo, as casas não podiam ter mais do que dois andares, não tinham muitos ornamentos, as portas e janelas eram simples e estreitas, paredes sempre retas, nas fachadas o predomínio de cheios sobre vazios e precisava de manutenção constante, por conta do barro que se desmanchava com a chuva.

É a partir do desenvolvimento da produção cafeeira, que a cidade mudou radicalmente e a construção civil a seguiu. Juntamente com a estação da linha ferroviária a cidade expandiu para além do triângulo histórico e com a riqueza do café permitiu o surgimento de indústrias, atraindo imigrantes. Esses imigrantes trouxeram novas técnicas construtivas, como a alvenaria de tijolos e a construção civil foi dominada pelos mestres de obra italianos e alemães. E foi assim, que a taipa de pilão, em certo momento, foi vista como símbolo de atraso e acabou caindo no esquecimento da população. Conforme o Arquiteto e Professor de História da Arquitetura Nestor Goulart, em uma entrevista realizada pelo site ArcoWeb ele relata:

A partir de 1808, começam as medidas da classe dominante para tirar o caráter tradicional da arquitetura e assumir caráter europeu. Era uma negação das raízes. A classe dominante brasileira sempre pensa que é europeia, ou representante da civilização europeia nos trópicos. (GOULART, 2004)

 Logo, com a cidade mais desenvolvida desejava-se esconder seu passado pobre e negar suas raízes, tanto é que a arquitetura do período colonial é bem escassa.  

O sucesso do café modificou a cidade completamente, realmente foi um salto à modernidade. Esse período foi marcado por transformar o conceito tradicional sobre construir, ou seja, foi implementado novas técnicas, materiais e conhecimentos (dos imigrantes) ao modo de construção paulista. Entre essas tecnologias, foi trazido pela Europa noções de estética e saúde, novos equipamentos e possibilidades construtivas, como, a platibanda, acabamentos dos mais simples aos mais sofisticados, a tecnologia do desenho dos telhados (que possibilitou telhados recortados), entre outras inovações - contudo, esse período mostrou ser totalmente inverso ao anterior.

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