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MEDO DA CIDADE OU CIDADE DO MEDO? A INSEGURANÇA NA PERCEPÇÃO DOS MORADORES DO BAIRRO BANCÁRIOS

Por:   •  29/10/2018  •  Artigo  •  3.792 Palavras (16 Páginas)  •  335 Visualizações

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MEDO DA CIDADE OU CIDADE DO MEDO? A INSEGURANÇA NA PERCEPÇÃO DOS MORADORES DO BAIRRO BANCÁRIOS 

Mirna Sousa Linhares

Departamento de Arquitetura e Urbanismo, UFPB

Universidade Federal da Paraíba, UFPB

mirna_linhares@hotmail.com

Anna Cristina Andrade Ferreira

LPPM, Departamento de Arquitetura e Urbanismo, UFPB

Universidade Federal da Paraíba, UFPB

anna.cristina.a@gmail.com

RESUMO: Este trabalho buscou entender o imaginário do medo e da insegurança no meio urbano através da perspectiva dos moradores do Bairro Bancários, localizado na zona Sul de João Pessoa/PB. Seguindo a metodologia de Avaliação Pós-Ocupação desenvolvida por Sanoff (1991), expressa na obra Poemas dos Desejos, foram realizadas entrevistas com os moradores do bairro, onde, através das expressões “O que te faz sentir medo” e “Eu gostaria que a rua segura...”, ficou compreendido que a sensação de que o espaço público é inseguro é bem abstrata, e pode sofrer influência de fatores físico do meio urbano e arquitetônico e de fatores psicoemocionais, possivelmente ditados pela mídia e pela disseminação da cultura do medo. Concluiu-se assim que, a partir das perspectivas dos teóricos e dos usuários, a violência e o medo pode ser decorrente da configuração espacial e das medidas paliativas individuais utilizadas pelas pessoas que ali habitam, e que os desejos são condizentes com um espaço público minimante feito para as pessoas, com ruas, praças e lugares que suportem as relações interativas caracterizadas conceitualmente como espaço público.

Palavras-chave: Insegurança urbana, espaço público, arquitetura do medo.


ABSTRACT/RESUMÉ: This study aimed to understand the imagery of fear and insecurity in urban environment through the perspective of the residents of the Bairro Bancários, located in the south of João Pessoa / PB. Following the Post Occupancy Evaluation methodology developed by Sanoff (1991), expressed in the work Wish Poems, interviews were conducted with the Bancarios’s neighbourhood, through the phrases "What makes you feel fear" and "I wish that the safe street... ", it was evidenced that the sensation of that public space is unsafe is very abstract, and can be influenced by physical factors of urban and architectural environment and psycho-emotional factors, possibly dictated by the media and the dissemination of culture fear. Thus, it was concluded that from the perspective of theoretical and users, violence and fear may be due to the spatial configuration and individual mitigation measures used by the people who live there, and desires are consistent with a public space minimally made for people with streets, squares and places that support interactive relationships characterized conceptually as a public space.

Keywords: Urban Insecurity, Public Space, Architecture of fear.


1.        INTRODUÇÃO

A crescente violência nas cidades se tornou um dos principais transtornos encarados pela sociedade contemporânea e vem se refletindo no meio urbano sob diversas formas. Segundo Lourenço (2013, p.8), a aceleração do processo de urbanização elevou os níveis de insegurança nas cidades, constituindo assim, uma séria ameaça à sua sustentabilidade.

As pessoas influenciadas pelo medo e insegurança reagem institivamente a eles, por meio de recuo e aprisionamento. Essas iniciativas, muitas vezes são marcadas pelo auto-isolamento, que apesar de caracterizarem-se como medidas individuais, se estendem à paisagem urbana. David Harvey (2012, p. 74) afirma que o direito a cidade está muito longe da liberdade individual de acesso a recursos urbanos, pois é um direito comum antes de individual, já que as transformações no espaço dependem inevitavelmente do exercício de um poder coletivo de moldar o processo de urbanização. Porém, o que vemos são cidades sendo moldadas e transformadas por medidas paliativas de aprisionamento, o que fere um direito que é designado a própria população.

Não se pode negar que a violência e os crimes são uma realidade nas cidades, mas também não se pode negar que o sentimento de apreensão é incentivado pelo o mercado imobiliário e a mídia, visando o consumo de produtos de proteção para obtenção de lucro, e que para além dos efeitos na vida cotidiana das pessoas, esses fatores causam mudanças na configuração do nosso habitat, como coloca Ferraz, Lima e Ramos (2015, p.10) “as novas formas de arquitetura e de cidade contribuem apenas para o aumento do sentimento, da pressão, da exclusão e do desespero dos que são mantidos fora do auto-enclausuramento, em outras palavras, aqueles que estão vivenciando o espaço público”. Assim, a construção da nova imagem da cidade, produz uma série de efeitos sociais, culturais e espaciais de grandes proporções, que se refletem na arquitetura, no espaço público e na insegurança nas ruas.

2. INSEGURANÇA QUE TRANSFORMOU AS RUAS

Abordar o medo e a insegurança através da perspectiva dos moradores é falar primeiramente do processo onde o imaginário foi construído, buscando entender alguns elementos chaves. A questão aqui levantada é que o medo e o sentimento de insegurança parecem justificar uma série de transformações na arquitetura da cidade. Sobre isso Bauman (2009, p. 99) diz que a aguda e crônica experiência de insegurança é um efeito colateral da convicção de que, com as capacidades adequadas e os esforços necessários, é possível obter uma segurança completa. Assim, explica-se o fenômeno de mudança na paisagem urbana em nome da segurança privada, pois, de acordo com Ferraz, Jorge e Gonçalves (2009, p. 2), o processo cíclico do consumo de tecnologia de proteção e segurança oferecidos pelo mercado combinado do isolamento preventivo vem transformando a vida urbana. Tais transformações foram denominadas pela autora como “arquitetura da violência ou arquitetura do medo”.

Caldeira (2000, p. 265) delimita que existem cinco elementos básicos que articulam o novo conceito de moradia: segurança, isolamento, homogeneidade social, equipamentos e serviços. Esses elementos foram observados nos condomínios fechados, horizontais e verticais dos bairros nobres de São Paulo, mas também estão presentes na tentativa dos moradores de viver esse conceito novo de moradia, transformando as casas e apartamentos em enclaves fortificados baseados no discurso sobre a violência urbana. Como consequência as pessoas mudam suas práticas sociais buscando a prevenção.

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