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A CARNE MAIS BARATA DO MERCADO É A CARNE NEGRA: QUAIS CAMINHOS PODEMOS SEGUIR?

Por:   •  25/10/2018  •  Resenha  •  1.063 Palavras (5 Páginas)  •  237 Visualizações

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CONFERÊNCIA ESTADUAL DA JOVEM ADVOCACIA

“A CARNE MAIS BARATA DO MERCADO É A CARNE NEGRA: QUAIS CAMINHOS PODEMOS SEGUIR?”

Inicialmente gostaria de externalizar o meu contentamento em fazer parte dessa mesa tão repleta de pessoas boas e a responsabilidade que paira sobre mim por representar a presidente da Comissão especial de promoção da igualdade racial da oab, Dandara Pinho, o que pra mim é uma honra.

Gostaria também de saudar as nobres advogadas e os nobres advogados que aqui estão, em especial o meu grande amigo e incentivador, Luis Colavolpe.

Bem, quando fui convidada a fazer parte desta mesa não sabia o que falar, tampouco por onde começar. A cabeça cheia de ideias, histórias, cicatrizes, crises me fez relembrar momentos de enfrentamento do racismo em minha vida.

Sendo egressa de uma instituição privada, a qual fui bolsista do prouni, no primeiro dia de aula eu entro na sala e me deparo com 60 alunos, dentre eles, 5 pessoas negras apenas, contando comigo, é claro. Ali eu já percebi que o desafio seria grande e que a batalha seria árdua. No primeiro dia de aula da matéria de Filosofia, o professor fita os meus cabelos ouriçados, que àquela altura representava um ato político e revolucionário dentro daquela instituição e faz a seguinte indagação: “Aluna, você veio direto da balada?”

Creio que naquele ambiente em que eu me encontrava, as pessoas não sentiram a minha dor e nem perceberam o rubor no meu rosto, mas aquelas palavras me feriram de morte, e me deram a propulsão que eu precisava pra seguir.

No terceiro semestre eu fiz a tatuagem de uma balança no pulso e um outro professor quando viu me disse que se nada desse certo, eu poderia virar feirante.

Esses dois exemplos servem para demonstrar o quanto o racismo institucional é perverso e velado. Ele se estrutura nas instituições como um sistema que define valores e oportunidades diferenciadas, segundo o fenótipo das pessoas e assim o preconceito racial é naturalizado. Se você não estiver atento, ele passa por cima de você com toda força.

O racismo se estrutura a partir da desumanização, da transformação da pessoa em coisa.

Aqui eu faço o parêntese de que o racismo nada tem a ver com a pobreza, ele vai muito além. Porque eu tô dizendo isso? Porque a desumanização é tamanha que ultimamente os episódios de racismo que as pessoas famosas têm enfrentado e denunciado, nos mostra que a antítese da humanidade é a negritude.

Atrever-se em uma sociedade racista, classista e sexista, é um verdadeiro desafio para uma mulher negra advogada e para um homem negro advogado, mas quais caminhos podemos seguir? Essa é a pergunta que eu sempre tenho em mente.

Então, aprendi que só alteramos as instituições, fazendo parte das instituições, o que quer dizer que devemos ocupar os espaços de poder e os locais de fala para sermos vistos e vistas no caminho que a gente resolva trilhar. Mas, retomo o cuidado de que nós não devemos nos permitir entrar para colorir e sim pra lutar por mudanças efetivas.

Na advocacia há muitos percalços a serem enfrentados diuturnamente. Várias vezes eu sou interpelada sobre a minha profissão e quando digo ser advogada, instantaneamente as pessoas perguntam: “Mas você é advogada com OAB e tudo?”

A coisa mais corriqueira nas varas dos fóruns aqui de Salvador é o advogado e a advogada negra serem confundidos com as partes dos processos.

Um colega não negro não precisa estar de terno para ser chamado de doutor, o advogado negro necessariamente precisa estar bem vestido, de acordo com os ditames que a sociedade assim impõe para que o servidor o distinga. Ah! E o terno não pode ser preto para que não pensem que ele é o segurança da instituição.

O professor João Vargas, da Universidade da Califórnia, versa que a sobrevida da escravidão produz uma posicionalidade negra que é única e incomunicável, uma posicionalidade cuja característica principal é a violência gratuita e estrutural. Estrutural porque está em toda parte, em todos os espaços, e quando somos vítimas, os nossos corpos e as nossas mentes são violentadas.

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