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Armas de Fogo, Melhor Defesa ou Maior Risco?

Por:   •  31/10/2022  •  Trabalho acadêmico  •  6.175 Palavras (25 Páginas)  •  78 Visualizações

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Contras: Armas de fogo, melhor defesa ou maior risco?

É no momento em que decidimos obter ou não uma arma de fogo, que devemos nos perguntar: será que as chances de nos defendermos são mesmo maiores? Ou será que estamos apenas correndo mais risco de vida? Estamos protegendo aqueles que amamos, ou os colocando em maior perigo? Quais são os impactos que armar a população pode causar?

São muitas as possibilidades de uma arma de fogo ser tudo, menos uma proteção. As pessoas costumam se iludir com a ideia de que estão mais seguras portando um objeto como este, e é aí que mora o grande perigo.

A quantidade de causas que existem acerca da violência são tantas, e tão profundas, que quando paramos para refletir podemos chegar à conclusão de que, de todo modo, sempre viveremos à sombra do medo. Entretanto, precisamos reconhecer o poder que uma arma tem de transformar o que era medo, em um grande pesadelo. Em total desequilíbrio, excesso de poder e confiança. Em contraditório, o bem virar mal. E principalmente: o banal, em fatal.

O fator surpresa.

Dentro da nossa discussão, a maior razão para alguém querer possuir uma arma de fogo sem dúvidas é o intuito de se defender. Porém, a grande maioria esquece de um detalhe muito importante neste momento: o fator surpresa.

Muitas pessoas alegam que sequer tem intenção de utilizar de fato a arma: desejam apenas a sensação de segurança e a garantia que, se o acaso vier a acontecer, conseguirão ameaçar o bandido e assim ele desistirá. Ou seja, vivem na esperança de poder se antecipar à ação ou de encontrar uma oportunidade para se proteger à qualquer momento. Mas há de se lembrar que são poucas as chances de se prever um crime, seja um assalto, um latrocínio, ou até mesmo um sequestro. Mas são muitas as de reagir resultando em um perigo maior.  

Arthur Kellermann, um médico americano conhecido por sua pesquisa sobre a epidemiologia de lesões e mortes por armas de fogo, diz o seguinte: “Ninguém costuma estar com o revólver em punho quando é abordado por um criminoso – e a simples menção de acessar a arma desencadeia a contra reação do agressor. O resultado seria, então, um bangue-bangue. Mas com o mocinho em desvantagem, porque sacou depois. Pessoas que reagem usando uma arma se arriscam três vezes mais a levar um tiro.” Isto é, aqueles que decidem reagir aumentam brutalmente as chances de se ferirem ou de perderem a vida.

As circunstâncias em que reagir é a pior das opções se estendem desde os assaltos até as invasões de residência, pois o problema é o mesmo: dificilmente há tempo para sequer pegar a arma, quiçá utilizá-la de maneira eficaz, pois o criminoso sempre agirá inesperadamente. Seria estupidez pensar que aquele que decide assaltar, ou cometer qualquer outro crime, não estará à espera do melhor momento para agir, que lhe favoreça e dê melhores condições de garantir o resultado final.

A revista Veja, na sua edição de 17 de novembro de 2010, coletou o depoimento de alguns homicidas. Ivo, condenado por homicídio em Santa Catarina, conta: “Matei um cara que foi puxar o freio de mão durante um assalto. Você não sabe se ele vai puxar uma arma. Na dúvida, você atira. Teve outro, no Paraná, que tentou reagir. Tive que atirar nele. Matei um monte. Tinha a sensação de que, se eu não matasse e desse as costas, alguém ia me matar. Perdi o controle. Se o cara não parasse o carro ou não botasse a mão na cabeça, já estourava ali mesmo.” E Jean, condenado por latrocínio no Rio Grande do Norte: “Descarreguei o revólver num cara numa loja de doces porque ele atirou em mim. Não atirei só por raiva, mas também por medo. Antes a mãe dele chorando do que a minha. Anunciei o assalto da porta. Falei três vezes para ninguém se mexer. Eu via o braço dele se mexer, mas não a mão, que estava escondida. Até que escutei um tiro e senti um negócio quente na minha barriga. Ele tinha me acertado. Na hora, parti para cima atirando.”

Em 2017, quase metade dos policiais militares assassinados no Rio de Janeiro perderam a vida na tentativa de reagir ao serem abordados por criminosos armados. Portanto, podemos concluir que nem mesmo os policiais, que possuem o treinamento adequado tanto para lidar com a violência quanto para o correto manuseio das armas, assim como a vasta prática de tiros, e que aprenderam a possuir o controle emocional frente à situações como esta, não encontram um final feliz nesta história.

Vale ressaltar também que raramente os bandidos agem sem cúmplices. Quem sabe, por uma obra do destino, você consiga reagir de maneira bem sucedida. Mas será que não existem terceiros em volta? Será que estes não decidirão vingar, seja neste mesmo momento, ou posteriormente, a lesão ou morte daquele que você atingiu? Veja: toda ação gera uma reação. E geralmente, nessas situações, sempre nos encontraremos em desvantagem.

Amadores x profissionais: você está preparado para matar?

Quando comparamos o que chamamos de “cidadãos de bem” com criminosos, temos que usar a lógica: eles estão totalmente acostumados com a violência e estão prontos para atirar. E você, será que está?

Essa questão reflete não só na nossa preparação “física”, ou seja, na nossa prática e habilidade de utilizar uma arma de fogo, de estar sob o controle das próprias emoções, agindo fria e cautelosamente para que um erro não custe sua vida.  Mas também no nosso interior, na integridade da nossa consciência, nas nossas crenças, muitas vezes na nossa fé e religião, e principalmente na nossa humanidade.

Será que, estando olho a olho com outro ser humano, mesmo que crendo que este seja diferente de ti e esteja com a intenção de te causar algum mal, teria a coragem de tirar-lhe a vida? Será que isso não nos tornaria exatamente como eles, criminosos? Desumanos? Violentos e frios?

São muitas as consequências que o disparar de uma arma pode trazer. Tanto pra quem atira, quanto pra quem é a vítima, quanto pros que estão em volta de ambas as partes. Isso em qualquer situação. Já pensou o peso que é tirar uma vida? O que será que isso vai te custar?

O site Vice conseguiu uma breve entrevista com um soldado, que relata exatamente a dor destas consequências: “Nasci numa cidade bastante pequena. Acabei o secundário em 2005, no auge da testosterona, e alistei-me no exército como voluntário, no pelotão de exploradores. Esses gajos que tem uma atitude, tipo: “somos melhores que você porquê acreditamos nisso”. Isto alimenta um tipo de mentalidade muito parecida com a que havia no secundário, em que ninguém queria ser o último a perder a virgindade. Andávamos à pancada uns com os outros para ver quem era o primeiro a matar alguém. Não pensávamos como seria matar realmente uma pessoa, nem como poderíamos sentir-nos depois disso. No meu caso, aconteceu um dia antes do Dia das Mães, em 2007. Lembro-me de estar ali com o meu chefe de esquadrão e o meu colega de quarto, a olhar através da mira da espingarda apontando aos que se escondiam atrás dos mosteiros. Quando o primeiro se levantou, foi como estar a apontar para uma daquelas figuras brancas com as quais costumávamos praticar. Simplesmente, disparei. Tínhamos matado seis insurgentes. Outros dois faleceram no hospital. As tropas aliadas chegaram para recuperar os corpos, e nós voltámos ao pelotão onde toda a gente nos felicitou. Mas duas semanas depois, enquanto o processo se arrastava, comecei a humanizar as caras deformadas das pessoas que eu tinha matado. Lembro-me de pensar se existia por aí alguma menina a chorar em casa porque o seu pai não voltou, ou alguma mulher cujo marido tinha desaparecido para sempre. Ou uma mãe que jamais veria seu filho novamente. Tinha estado ali durante tanto tempo que deixei de preocupar-me com a morte. Não tinha medo, e simplesmente aceitava tudo. Mas quando percebi que tinha acabado com uma vida humana para sempre, aquele ato transformou-se em tortura mental. Cada vez sentia de forma mais real que também eu tinha morrido ali.”

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