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Fustel de Coulanges - Cidade Antiga

Por:   •  3/6/2016  •  Resenha  •  3.464 Palavras (14 Páginas)  •  464 Visualizações

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Fustel de Coulanges;

Cidade Antiga:

Capítulo VIII, O ritual e os anais:

Neste capítulo, Fustel busca caracterizar a importância e a rigorosidade dos rituais dentro das religiões antigas, além de afirmar a legitimidade dos Anais deixados pelos Sacerdotes destas religiões, baseando-se no grande valor sagrado dado pelos povos antigos à História de suas cidades.

Logo no início, apresenta-se uma dicotomia entre o conceito de religião contemporâneo e o de religião para os Antigos. Para nós, o foco da religião é a doutrina e seu conjunto de dogmas. Já para os Antigos, a doutrina pouco valia, o núcleo principal da religião se sustentava nos ritos, cerimônias e atos de culto exterior. O mais importante estava nas práticas religiosas, ainda que as crenças tivessem sido modificadas, os rituais deveriam ser executados rigorosamente como eram descritos pelos antepassados.

A relação entre os homens e os deuses era muito delicada tendo em vista a crença de que os deuses era dotados de temperamentos muito semelhantes aos dos homens como inveja, ira, ódio, entre outros. Todo esses protocolos religiosos tinham por finalidade promover a harmonia entre homens e deuses. Cada família teve um livro que continha todos os procedimentos com os quais seus antepassados estabeleciam essa harmonia. Qualquer perturbação desses procedimentos destruía a religião da pátria e transformava os deuses protetores em outros tantos inimigos cruéis.

Toda urbe possuía seu próprio conjuntos de hinos em honra a seus deuses. Mesmo com a mudança da linguagem, costumes e crenças, os ritos, os hinos permaneceram imutáveis, sendo cantados mesmo sem serem compreendidos.

Revelar qualquer procedimento religioso a estrangeiros era considerado traição e entrega dos deuses da cidade ao inimigo. Houve, portanto, a preocupação por parte dos sacerdotes de esconder os escritos religiosos até mesmo dos cidadãos, mantendo assim a segurança e o bem-estar de seus deuses.

As urbes viam no passado todos os motivos e regras que fundamentavam e legitimavam suas instituições religiosas. Por isso, segundo Fustel, a História era muito mais valorizada entre os Antigos do que entre nós. A história da cidade começava pelo ato da fundação, portanto tudo o que era anterior a fundação da cidade era irrelevante. Esta espécie de história tinha um caráter local. Os Antigos ignoravam as origens de sua raça. A história da cidade dizia ao cidadão tudo aquilo em que devia acreditar, e tudo quanto lhe era próprio adorar.

Os Anais eram velhos livros escritos pelos sacerdotes com a finalidade de relatar os acontecimentos e ações divinas daquela cidade. Cada cidade tinha sua história específica e se encarregava de registrar apenas as histórias as quais se envolvesse. Hoje, Por mais que tenham desaparecido todos, as recordações de sua existência são muito importantes para a compreensão das civilizações antigas visto o respeito devoto que os antigos davam às suas histórias. Nesses livros sagrados, cada página era contemporânea do acontecimento a que se referia. Nem tudo era verídico, provavelmente havia erros involuntários por questão de credulidade, mas é improvável que houvesse erros voluntários pois essa atitude seria ímpia, violaria a santidade dos anais e alteraria a religião.

Além dessas escrituras religiosas, havia a tradição oral. A oralidade derivava dos cultos e cerimônias presididos pelos sacerdotes, orientados pelos anais. Por mais que o desejo de exaltar os deuses pudesse comprometer a verdade dos acontecimentos passados oralmente entre as gerações, a tradição oral deveria ser o reflexo dos anais e andar ordinariamente de acordo com estes.

Capítulo IX, Do Governo da cidade. O rei:

Neste capítulo, é destacado mais uma vez o papel da religião para a formação das instituições antigas. A religião previa que em cada lar houvesse sempre um único sacerdote supremo responsável por todo o protocolo religioso, tal cargo era cumprido pelo pai de família. Tendo em vista que o lar público era uma reprodução do lar privado, compreende-se então a figura do Rei como uma analogia da figura do pai de família. O rei, sendo o sacerdote do lar público, detinha as responsabilidades religiosas na esfera pública.

Segundo Aristóteles: “O cuidado com os sacrifícios públicos da cidade cabe, segundo o costume religioso, não a sacerdotes especiais, mas aos homens que velam pela dignidade do lar e aos quais chamamos, conforme os lugares, de reis, prítanes ou arcontes.”

A principal função do Rei antigo era a realização das cerimônias religiosas. O fenômeno de dissociação entre Rei e as responsabilidades religiosas ocorre em Roma. Tendo muitas vezes guerras a sustentar, não era possível para os Reis realizar com cuidado os sacrifícios. Nesse contexto, criaram-se os “Flâmines” para substituírem os Reis essas ocasiões. Fustel assim sugere o surgimento de uma realeza primitiva em Roma.

Há de se destacar a diferença entre a concepção de Rei moderno e de Rei para os antigos. Enquanto para os antigos o Rei era sobre tudo chefe do culto religioso, dotado de auctoritas e muitas vezes sofria limitações de seus poderes; o Rei moderno era absolutista, destituído das responsabilidades religiosas sacerdotais, desprovido de auctoritas e concentrava a potestas.

2º Autoridade Política do Rei:

Na cidade antiga, o sumo sacerdote é também o chefe político. Fato explicado novamente pela analogia entre a esfera pública e a unidade familiar cuja figura principal era o pai de família. Fustel volta a destacar: “A Religião da cidade se confunde com todas as coisas.”. Coisas aqui talvez seja referente às instituições, devido ao fato de que todas as instituições derivam da religião de alguma forma. Tal observação pode ser vista como a base da argumentação de Fustel durante toda sua obra. Esse vínculo das instituições com a religião dava à ela uma abrangência universal dentro da cidade, fazendo parte da vida ativa de todos os cidadãos.

A preponderância da religião na vida privada de cada cidadão exaltava ainda mais a figura do Rei no imaginário popular tendo em vista que o Rei era o intermediário entre os deuses e os homens. O Sacerdote (rei) possuía responsabilidades específicas como velar pelo fogo sagrado da cidade, zelar pelas fórmulas das orações de comunhão com os deuses.

O fato de a religião infiltrar-se no governo, na justiça e na guerra permitia que o sacerdote assumisse encargos relacionados à magistratura, à função de juiz

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