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Verdade e mentira no sentido extra-moral

Por:   •  2/2/2017  •  Resenha  •  3.519 Palavras (15 Páginas)  •  1.387 Visualizações

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Apresentação por Noéli Correia de Melo Sobrinho

Noéli, em sua apresentação, destaca que a obra “Verdade e Mentira no Sentido Extra-moral” se trata de uma obra póstuma de Nietzsche em um dado momento em que se distanciava, intelectualmente, de nomes como Wagner e Schopenhauer, e deixara florescer seu lado cético, dito por Noéli como herdado de Kant.

Partindo para o ponto central da obra, tem-se a idéia da “verdade” como objeto de estudo, com Nietzsche se opondo à idolatria do que se chama “verdade” e investindo contra a filosofia moderna, fazendo contradições e questionamentos sobre o real significado do que se tem por “conhecimento”, nas teorias existentes. Vindo a descobrir que a verdade, tão buscada pelos filósofos, na realidade se tratava simplesmente de um engano, uma armadilha, passou a se questionar sobre por que o mundo se mostraria tal como é, ou por que se deveria recepcionar a certeza de uma consciência que era apenas espelho e superfície.

Nietzsche, em sua obra e segundo Noéli, nos propõe uma “tese da relatividade do conhecimento humano”. Mais uma vez indo de encontro ao pensamento filosófico, agora no sentido do “intelecto”, Nietzsche expõe que se trata apenas de uma coisa transitória e com limitações, diferente da coisa sagrada da qual tratavam os filósofos. “O intelecto ilude, dissimula, forja imagens luminosas”, nas palavras de Noéli.

No que concerne à oposição que se tem entre verdade e mentira, podemos concluir que a verdade e a mentira são frutos das relações sociais, ou, da chamada “vida em rebanho” e sua respectiva linguagem. Segundo o pensamento de Nietzsche, aquilo que mantém o homem dentro de seu rebanho e que lhe dá conforto no mesmo, é tido como verdade, ao passo que a mentira é tida como algo que venha a promover exclusão ou ameaça no âmbito do mesmo rebanho. Nas palavras de Noéli: “A verdade e a mentira são ditas a partir do critério da utilidade ligada à paz no rebanho[...]a verdade é a verdade do rebanho”.

Ainda no campo da verdade, é dito que as palavras não correspondem a uma realidade, mesmo que ditas como forma de verdade. A palavra é tratada por Nietzsche como reles metáfora, e por sua vez, os conceitos (que para Nietzsche também são metáforas), são tidos como meios que a filosofia e a ciência dispunham para dizer a verdade; meras abstrações.

Noéli conclui sua apresentação afirmando que segundo o pensamento de Nietzsche, o homem é o “gênio da arquitetura” e o “mestre da dissimulação”, onde resume que o homem, por possuir o intelecto, é responsável pela construção dos conceitos, palavras e sons (metaforizados) a fim de que consiga protelar sua permanência na terra.

Verdade e mentira no sentido extra-moral

Logo em seu início, Nietzsche nos traz uma fábula onde o foco são os “animais inteligentes” que por sua vez, criam o conhecimento. Conclui, dizendo que tal fato foi apenas “um minuto” dentro da imensidão da história universal, e que após isso, o planeta congelou e os seres morreram. O que representa para Nietzsche tal fábula? Simplesmente o quão inexpressivo e ínfimo é o conhecimento humano se comparado à grandeza do universo (no que ele se refere à “história universal”), ou do nosso próprio planeta. Nós humanos temos a tendência de achar que as coisas giram em nosso entorno, ou que existem para benefício nosso, e não passa nem pela nossa cabeça, que elas podem existir (e de fato, existem) apenas por existir, sem nenhuma relação direta conosco. Não há nenhuma relação de pertinência entre o intelecto humano e o restante do universo. Somos apenas possuidores de uma invenção, que inventamos para acharmos que outras coisas nos pertencem, senão o nosso próprio ego. Cita, em seu terceiro parágrafo, o exemplo dos filósofos (tidos por Nietzsche como “os homens mais arrogantes”), que acreditam ser o ponto central dos olhares e o foco de toda uma universalidade, apenas por conta de seus escritos e trabalhos, os quais pensam as circunstâncias da vida de um modo idealista e bem confortável.

O intelecto, por Nietzsche tido como ferramenta fundamental dos fracos e desfavorecidos, realiza a função de proteção para tais, como forma de manter os seres humanos em existência, quer seja por “um minuto”. Porém, o intelecto (o conhecimento) é a porta de entrada para um mundo no qual não se é dado o devido valor real das coisas, ou seja, o valor da existência é suprimido pela invenção do conhecimento, onde o mesmo, por servir de proteção para a raça humana, serve como instrumento de ilusão, escondendo por trás de panos a verdadeira face existencial. Ainda sobre o mesmo intelecto, Nietzsche pontua uma característica base de suas funções: a dissimulação. Visto que o homem, munido apenas de mãos e pernas, utiliza da dissimulação não só para se sobressair aos outros animais na busca pela sobrevivência, mas também para criar toda uma nova concepção de existência, mergulhando na ilusão e nos sonhos, criados (concebidos) pelo intelecto.

“Mas o que sabe o homem, na verdade, de si mesmo? E ainda, seria ele sequer capaz de se perceber a si próprio, totalmente de boa-fé, como se estivesse exposto numa vitrine iluminada”? Tais indagações são feitas pelo autor, com base na profundidade quase que abissal em que se encontra a humanidade, a ponto de não se acreditar mais em um verdadeiro instinto, sem que o mesmo passasse por uma lapidação pelo intelecto e pelo conhecimento humano. O homem se prendeu à sua própria invenção, e assumiu para si como única realidade, pondo-se em um lugar de destaque que nunca lhe pertenceu.

As relações entre indivíduos são mediadas pela dissimulação. Para evitar o bellum omnium contra omnes, ou “A guerra de todos contra todos” citado por Thomas Hobbes, o homem sente a necessidade de dissimular a realidade existencial com fins de proteção do meio, para que a harmonia impere, e a paz em seus rebanhos permaneça de tal forma a evitar o estado de natureza, criando assim, contratos sociais entre si, abdicando de liberdades, preferências e opiniões unicamente em troca da convivência pacífica. E isso é o embrião do que podemos chamar de “verdade” do ser humano, que nada mais é senão uma designação aceita e entendida como tal por todos, a fim de que se possa garantir sua existência. Não tarda, pois, a aparecer a relação de oposição entre “verdade” e “mentira”.

O que se diz “mentiroso” nada mais é do que um “inversor da sua realidade”, logo se persistir em tais atos com intuito de tirar proveito da sociedade, a mesma agirá com repreensão, excluindo o mentiroso de seu nicho e passando a adotar uma imagem negativa para ele.

Podemos

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