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Édipo Rei + Análise de Foucault

Por:   •  3/5/2017  •  Trabalho acadêmico  •  1.956 Palavras (8 Páginas)  •  540 Visualizações

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TRABALHO DE FILOSOFIA: RAZÃO E MODERNIDADE

Obras: Trilogia Tebana: Édipo Rei – Sófocles & A verdade e as formas jurídicas (Capítulo II) – Michel Foucault

Iago Almeida F. Passos – Turma 1        

  1. Filho de um fabricante de armaduras, Sófilo, o garoto Sófocles teve um infância e, no mais tardar, uma juventude marcadas por uma educação tradicional moldada pelo modo de se fazer arte ateniense. O poeta, nascido em Colono no ano de 496 a.C, foi construindo sua carreira como tragediógrafo com suas mais diversas peças teatrais que chamaram atenção pela técnica dramática diferenciada e inovadora apresentada por ele. O artista obteve sua primeira vitória em concursos trágicos por volta dos 30 anos de idade ao derrotar um dos mais renomados criadores de tragédias e sátiras do período, Ésquilo, assim ganhando grande destaque dentre os demais dramaturgos da época. Sófocles, juntamente com Ésquilo e o também renomado Eurípedes, vivenciou o período de mais valorização e desenvolvimento artístico-cultural em Atenas, e, dessa forma pôde compor mais de 123 peças teatrais e receber aproximadamente 76 premiações em 24 concursos trágicos diferentes. Infelizmente, hoje, somente sete obras do autor foram conservadas por completo, mas que, ainda sim, podem mostrar com clareza o talento do artista de Colono.

  1. Édipo em Colono: a temática principal da peça baseia-se no exílio de Édipo em Colono (região próxima de Atenas) e a decorrência de tal exílio. Ao decorrer da narrativa, dois personagens vão a Colono para se encontrarem com o antigo rei tebano. Primeiro Creonte, motivado por um oráculo que dizia que o cadáver de Édipo descansaria em terras abençoadas pelos deuses, vai até Édipo solicitando seu retorno, porém, é confrontado por Teseu, rei de Atenas que haveria feito um acordo com Édipo (daria asilo ao antigo rei tebano e em troca este o daria proteção contra futuros ataques de Tebas à Atenas) e se afasta. Após a prova de fidelidade do rei ateniense, Polinices, um dos filhos de Édipo que disputava o trono de Tebas com o irmão Etéocles, vai até o pai em busca de seu apoio e, consequentemente, do apoio dos deuses para vencer o irmão; em contrapartida, Édipo nega o suporte e profetiza que os dois filhos morram juntos pela briga do trono. A narrativa continua a fluir até que Édipo ouve o estrondoso raio de Zeus nos céus e percebe que naquela hora seu oráculo se concretizaria. O antigo rei de Tebas e Teseu vão juntos para terras distantes e, após Édipo pedir para Teseu guardar segredo da localidade em que deixaria o mundo dos vivos, ele some misteriosamente em direção às profundezas da terra deixando seu legado com o rei de Atenas.

Antígona: Após a tentativa frustrada de pedir suporte ao pai, Polinices pede a sua irmã, Antígona, que, se um dia voltasse a Tebas, recebesse uma sepultura digna no caso de sua morte em combate. A trama inicia-se na manhã seguinte ao ataque de Polinices, agora príncipe da cidade-estado rival de Tebas, Argos, à cidade de Tebas, motivado pela não conclusão do pacto feito com seu irmão, Etéocles, de revezamento anual do trono de sua cidade de nascimento. Dessa forma, o conflito é travado entre as duas polis ocasionando a morte dos dois filhos de Édipo como o próprio anteriormente em “Édipo em Colono” havia profetizado. O tio dos dois falecidos, Creonte, assume o poder e decreta a proibição de sepultamento para Polinices enquanto Etéocles estava recebendo funerais dignos de um herói que morreu honrando Tebas. A temática principal da peça acontece justamente nesse início de manhã, após o decreto de Creonte, momento em que Antígona batalha por concretizar o pedido do irmão Polinices de receber um sepultamento condigno se por algum motivo viesse a perecer.

  1. Laio foi aquele que antecedeu Édipo em seu trono (seu pai). Laio, antes de geri-lo, fora refém de uma paixão homossexual por Crísipo e, por conseguinte, fora amaldiçoado por Pêlops (pai de Crísipo) quando desejou que Laio não deixasse descendente. Dessa forma, um Oráculo que exprimia que Laio teria um filho e que este o viria a matá-lo um dia foi destinado a ele como forma de punição de tal ato considerado antinatural. Tentando fugir da profecia, o rei ordena a um de seus criados para se livrar da criança, mas o destino a salva. A trama de “Édipo Rei” gira entorno da descoberta de Édipo (agora no poder) da profecia que sentenciava seu pai a morte e o decorrer dessa mesma profecia na vida de Édipo causando um conjunto de evento trágicos ao decorrer da narrativa.

  1. A história gira em torno da busca do rei Édipo pela verdade e, como consequência, de seu entendimento a respeito de seu passado e das desventuras de seu destino. A cidade de Tebas encontrava-se assombrada pelo mal e tomada por uma onda de insegurança e infelicidade, a peste. Édipo manda seu cunhado, Creonte, a Delfos para consultar o oráculo de Apolo com o objetivo de saber que passo deveria ser dado para que as coisas em Tebas voltassem ao normal. Apolo, por sua vez, indica que o mal somente acabaria se o assassino de Laio, antecedente do trono de Édipo, perecesse. Édipo de todas as maneiras tenta descobrir quem seria tal criminoso. Oferece sua gratidão e uma generosa recompensa para quem entregasse aquele que teria cometido o assassinato, conversa com o profeta Tirésias para saber a verdade (algo que o indignou, pois o ancião teria afirmado que o culpado era o próprio rei) e, por fim, sabendo do oráculo de Laio que dizia que o filho dele um dia o mataria e que Laio, temendo por sua vida, havia tentado se livrar do recém-nascido, tendo consciência  da localização da morte de Laio, que era a mesma em que Édipo havia matado um senhor e seus súditos anos atrás, e do oráculo de Apolo que havia recebido antes de ter se tornado rei de Tebas, cuja mensagem afirmava que um dia mataria sua pai e se casaria com sua mãe, Édipo liga os fatos: não era filho de quem achava que era, havia matado seu pai biológico e feito de sua mãe sua esposa. Jocasta, mãe de Édipo, vendo a desgraça de perto, suicida-se em seu quarto, Édipo fura seus próprios olhos e é expulso do reino por seu cunhado, Creonte.

  1. Como a peça se passa em um período histórico em que a sociedade explica a vida a partir dos chamados mitos, a representação dos deuses na obra vem com um sentido de denotá-los como controladores de tudo e de todos, sendo mediadores do presente e do futuro de modo a se comunicarem com os homens por meio de oráculos. Fragmentos que identificam tal ponto de vista:
  • “Apolo e Zeus têm olhos para tudo. Eles conhecem as ações dos homens”.
  • “Cuida Apolo de conduzir-te ao fim, e os deuses tudo podem”.
  • “O meu desejo, Apolo, é que dispares com teu arco dourado flechas rápidas, inevitáveis, para socorrer-nos, para nos proteger; o mesmo espero das tochas fulgurantes com que Ártemis percorre os montes lícios;”.
  1. “... Para que serviriam meus olhos quando nada me resta de bom para ver? Para que serviriam?”.
  • O fragmento muito me chamou atenção por Édipo sentir de imediato o peso da verdade em sua vida e, não se preocupando com o prejuízo e a dor que tal ato o causaria fisicamente, o rei se interessa em somente impossibilitar sua visão por acreditar que a bondade não mais poderia ser vista por ele. Agora ver era inútil.
  1. Para o que tudo apontava ser uma vida feliz e próspera de um herói adorado por todos os tebanos, a inconstante profecia, comandada pelos deuses do Olimpo, tendeu a se enunciar como contrária a antiga vida que Édipo levava como respeitável rei tebano e o condenou à perda de seu trono e de tudo o que havia conquistado. Dessa forma, a análise da trajetória de Édipo em toda a trama não passou de uma evidência da imprevisibilidade da vida. Como dito pelo Corifeu na última frase da obra: “Sendo assim, até o dia fatal de cerrarmos os olhos não devemos dizer que um mortal foi feliz de verdade antes dele cruzar as fronteiras da vida inconstante sem jamais ter provado o sabor de qualquer sofrimento!”
  1. A perspectiva de Michel Foucault muito se assemelha à dos autores Deluze e Guattari e se distancia do entendimento de Freud sobre a obra. Afastando-se da ideia de que a peça é a “mais antiga fábula de nosso desejo e de nosso inconsciente”, Foucault entende que, em se tratando da relação pai-mãe-filho presente na trama, Édipo é compreendido como ferramenta de poder e de saber que se sobrepõe sobre tal ideia de desejo e do inconsciente. Dessa forma, traz a hipótese de que exista um complexo de Édipo na civilização, este guiado por um poder político junto a um conhecimento aplicado (tudo isso acontecendo em função do coletivo e não do individual).
  1. A produção da verdade evidenciada na obra de Homero (Ilíada) perpassa não por testemunhas, algum tipo de inquérito, constatação ou uma inquisição, mas sim pelo denominado jogo de prova, no caso de llíada o desfio de prova foi lançado por Menelau a Antíloco e, este, temendo por jurar algo mentiroso na frente dos deuses, revela a verdade. Ao contrário de Homero, Sófocles, desenvolveu, em Édipo Rei, o que Foucault chamou de lei das metades, isto é, para se encontrar a verdade principal da trama não bastava tal juramento, tal desafio de prova, era preciso um testemunho. Foi vagarosamente na tragédia que os fatos foram se conectando, precedidos por um elo entre passado-presente/profético-testemunhal/divino-terreno, e somente puderam ser definitivamente ligados, uma vez que, por fim, o escravo de Citerão, assumindo papel de testemunha final, fez o ciclo da verdade se fechar.
  1. Foucault analisa Édipo não como aquele que sabia pouco ou como quem fora o último a saber de tudo. O pensador contemporâneo afirma que o rei sabia demais e, como seu poder é o que fica em questão durante toda a obra, ele demonstra que sente sua soberania ameaçada em alguns pontos da tragédia. Tais como: quando Tirésias vai ao palácio conversar com o rei e Édipo revolta-se não com a possível culpabilidade diante do crime, mas sim com a possibilidade de perder seu poder, algo que se comprova quando Édipo diz a Creonte: “Tu queres meu poder, tu armaste um complô contra mim, para me privar de meu poder”; ou quando, no início da peça, Édipo dirige-se aos habitantes de Tebas dizendo: “Tenho grande interesse em curá-los da peste, porque esta peste que vos atinge, me atinge também em minha soberania e minha realeza.”
  1. Foucault caracterizou Édipo como sendo um tirano. Tal conceito foi aplicado à personagem pelo fato de um tirano, além de deter grande poder político, apresentar também uma ampla sabedoria (definida pelo autor contemporâneo como autocrática) seguida por uma visão ampliada do mundo que o rodeia. Algo que exemplifica a explicação de Foucault a respeito das virtudes de saber e poder é o fato de, em diversos momentos no texto, o rei ser definido a partir de sua qualidade de grande decifrador de enigmas e ele, por sua vez, mesmo tendo noção desse reconhecimento popular a respeito de si, demonstra-se amedrontado pela possibilidade de perder todo o poder que tem.
  1. Depois de toda uma apresentação do personagem Édipo e da exposição de seus pontos de vista sobre o rei, Foucault nos faz concluir que Édipo é alguém com um destino variável e imprevisível que, tomado pelas virtudes de saber e poder em excesso, delineia-se como um verdadeiro tirano que, apesar de já ter conhecido a miséria e a falta de poder, apresenta-se como aquele que não respeita as leis, assim as contornando e as substituindo a partir de suas vontades.

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