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Curso Online de Filosofia

Por:   •  12/2/2024  •  Artigo  •  18.385 Palavras (74 Páginas)  •  54 Visualizações

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Curso Online de Filosofia

Olavo de Carvalho

Aula 081

30 de outubro de 2010

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Boa noite a todos, sejam bem-vindos. Eu sou obrigado a começar esta aula com duas más notícias que nós vamos tentar desenvolvê-las como forma de aprendizagem. A primeira é a seguinte: Edson de Oliveira, da É Realizações, havia se comprometido comigo a publicar os livros do Mário Ferreira dos Santos cujo texto nós o aprontaríamos em tempo. Ele me disse que tinha urgência com os livros porque, tendo investido um belo dinheiro na compra dos direitos autorais de cinquenta e tantos títulos do Mário, precisariapublicar pelo menos um livro a cada três meses.Eu garanti a ele que antes de decorrer três meses nós entregaríamos o primeiro título. Acontece que, nesse ínterim, houve uma breve, muito polida, aliás, muito educada discussão entre ele e Roxane por e-mail a respeito da minha função na É Realizações.

O que a Roxane disse a ele é bastante óbvio: em primeiro lugar, eu estava informalmente exercendo as funções de diretor editorial da É Realizações, haja vista que 90% dos títulos publicados por esta casa editorial foram escolhidos por mim. Ou seja, não apenas indiquei os títulos, mas li tudo isso. A função de ler livros e selecionar para publicar são atribuições do que se chama diretor editorial. Há anos exerci esta função para a É Realizações, não só indicando livros como também apresentando autores, conseguindocontatos etc. Nunca recebi um tostão por causa disso e nem reclamei, pois estava fazendo o trabalho simplesmente para ajudar o projeto cultural a ir para frente. Roxane mencionou este fato, assim como o fato de que o público que frequentava a É Realizações durante anos foi praticamente constituído de alunos meus e similares.Acontece que o homem ficou bravo e mandou uma carta dizendo: “Olha, depois desta troca de e-mails com Roxane, eu decidi que não faremos mais projetos com você”. Isso aí é uma coisa de uma leviandade, coisa de capricho, coisa de uma volubilidade absolutamente intolerável, de modo que todos nós perdemos dois meses de trabalho. É muito deprimente que isso aconteça.Aliás,só no Brasil tal fato poderia acontecer. Em qualquer outro lugar eu não creio que um editor de respeito agiria assim jamais, porque o compromisso de publicação é um contrato informal de trabalho e eu não vejo o que eu possa fazer para enfrentar esta situação.

Aqueles que participaram do grupo do Mário Ferreira, que se sintam prejudicados por isso e que queiram processar a É Realizações, considerem-se livres para fazê-lo. Para mim, fazer a mesma coisa daqui é meio difícil. Se estivesse no Brasil faria, evidentemente, porque envolveu algumas dezenas de pessoas e muito trabalho no meio disso. Quer dizer, o sujeito está agindo como criança, como moleque. Evidentemente eu ainda tenho um contrato com ele com relação aos outros livros já publicados e não houve ruptura de contrato no que diz respeito a isso, mas com relação ao Mário houve realmente esta cachorrada. Eu peço desculpas a vocês por terem confiado nesse moleque e lamento tê-los envolvido nisso, porque eu não tive culpa. Ele havia assumido francamente um compromisso de publicar o Mário e, se ele cumprir sua ameaça de publicar os textos do Mário no estado em que estão,isso será tão criminoso contra a cultura brasileira que eu serei obrigado a denunciá-lo e a combatê-lo.Isso realmente não se faz. No mundo editorial profissional tal fato é inconcebível, pois você tomar um texto que está muito mal preparado, que não está editado e simplesmente reproduzi-lo e publicá-lo,denota o predomínio absoluto do interesse comercial grosseiro sobre os deveres que um editor tem. Espero que ele não faça isso. Eu não estou brigando com ele, não estou fazendo coisa nenhuma, mas se ele fizer isso com a obra do Mário, não vou tolerá-lo de maneira alguma.

A segunda má notícia é a seguinte:entre os alunos do Rio de Janeiro houve um que esteve aqui me visitando, muito simpático, muito amável, contando as coisas que estavam fazendo no Rio.Acontece que esse cidadão esteve aí no Instituto Olavo de Carvalho em Curitiba e, tomando um pouco a função de fiscal da ortodoxia católica do que ali se ensinava, diz que tomava as listas de livros, as levava a Dom Lourenço —que é da Sociedade de São Pio X, um grupo tradicionalista do Rio—, para saber se haveria ali alguma coisa de herético.É evidente que a resposta é sempre sim, poisnós não temos nenhum compromisso de ler somente autores católicos, muito menos autores católicos aprovados pela Sociedade de São Pio X. Nunca assumimos este compromisso e jamais, nunca na vida assumiremos algo assim. Por isso eu queria avisar o seguinte: quem quer que, assistindo às minhas aulas, tome a transcrição, o texto, o resumo delas, e leve para quem quer que seja para fiscalizar a sua ortodoxia, será expulso imediatamente, pois não é nem para se pensar nisso.

Dom Lourenço Fleischmann é uma pessoa que eu admiro muito, acho-o de um valor excepcional, mas não me coloco sob o guiamento dele em hipótese alguma. Fui, sobretudo, amigo do pai dele, Dr. Júlio Fleischmann, que era um homem de um valor excepcional, de modo que respeito muito todo o trabalho que eles estão fazendo. Se souber que o grupo sofreu alguma perseguição ou dificuldade, serei o primeiro a defendê-lo, mas de fato não posso me colocar sob seu guiamento. Não porque tenha alguma divergência doutrinal, em absoluto, apenas acho que não são pessoas qualificadas para julgar uma investigação filosófica. Se houvesse alguém capacitado a julgar o meu trabalho sob este ponto de vista, eu serei o primeiro a submetê-lo. Mas veja, o meu confessor pessoal, que é o Padre Paulo Ricardo de Azevedo, ele mesmo frequentemente se considera desqualificado para julgar o trabalho filosófico que nós estamos fazendo. Ele tem essa humildade, então nunca tivemos problema algum.

Eu não vejo como seria possível a qualquer investigação filosófica comprometer-se de antemão a seguir a ortodoxia católica. Isso é materialmente impossível. Só quem não sabe o que é uma investigação filosófica promete... Na verdade, todos aqueles que prometem edizem assim: “Olha, todo o nosso trabalho aqui seguirá estritamente a doutrina da Igreja”, em geral são hipócritas, como Jacques Maritain, que é um sujeito cujo malefício que fez à Igreja é imenso, e que durante décadas foi tido como o representante mais ortodoxo da doutrina católica.Ontem mesmo eu estava lendo na revista Renaissanceum autor chamado Lorenzo Valla, que ficou famoso. É um sujeito que fez tudo o que podia [0:10]contra a Igreja, mas sempre começava os livros dele dizendo: “Olha, aqui nós só diremos o que está de acordo com a doutrina católica”. Eu não assumo este compromisso. Por quê? Porque a doutrina católica se constitui de dogmas. Dogmas são conclusões, quer dizer, são sentenças que formalmente interpretam o ensinamento de Nosso Senhor Jesus Cristo e por isso fecham a sua interpretação sobre determinados pontos. O dogma nunca está completo, ele está sempre em constante acréscimo e evolução. Isso quer dizer que nem mesmo a Igreja Católica no seu todo pretende ter uma doutrina final e completa, sempre pode ter algo a mais e de fato tem. Qualquer um pode ler, por exemplo, o livro do Cardeal Newmann sobre a história da evolução do dogma católico para entender do que eu estou falando. O dogma católico não veio pronto, não está pronto, e provavelmente não ficará pronto nunca, poiso dogma constitui-se de conclusões que, após muitas discussões, a Igreja chegou a respeito da interpretação de alguns pontos do ensinamento de Nosso Senhor Jesus Cristo. A própria palavra quer dizer isso, que é uma afirmação final sobre a qual não há mais discussão.

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