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A Nova Onda de Day Traders no Brasil

Por:   •  10/3/2021  •  Ensaio  •  1.101 Palavras (5 Páginas)  •  234 Visualizações

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A nova onda de day traders no Brasil
por Afrânio Vyctor Cavalcante Santos

2020 foi um ano caótico. A pandemia do novo coronavírus trouxe à tona durante a quarentena novos sentimentos para todos, e os mais jovens então, passaram a lidar com ansiedades novas, instabilidade política e econômica acentuada e uma vontade de fazer tudo aquilo ter sentido. Nesse mesmo tempo, com muito tempo livre, diversas pessoas pelo Brasil afora foram atraídas pela promessa de Youtubers vendedores de cursos, principalmente, de que era muito possível e dentro da realidade... viver de bolsa de valores!

Até aí, tudo bem. Ora pois, existem diversos investidores multimilionários que vivem majoritariamente de renda passiva pelo mundo, reza a lenda. Então por que não, eu universitário de 25 anos não tenho como fazer isso? É bem fácil pensar assim, já que esse o discurso das celebridades brasileiras na área é extremamente meritocrático, colocando a responsabilidade dos ganhos e perdas totalmente para os novos alunos, que iludidos pela promessa de extrair uma renda diariamente fazendo day trade (compra e venda de ativos no mesmo dia), passaram a investir cada vez mais nos últimos três anos, sendo que durante o período de pandemia o número de cpfs que fizeram ao menos uma operação day trade saltou de 242.554 (2019) para 486.676 até agosto de 2020 (dados da B3).

E essa cultura meritocrática dos day traders brasileiros, leva esses jovens a fazer o que muitos admitem nunca ter feito de verdade antes: estudar. Os grupos espalhados pelo Facebook, Telegram e WhatsApp conectam pessoas que dedicam – ou dedicaram – parte de seu tempo a uma maratona de estudos incessante sobre price action (a teoria base que guia a decisão destes investidores na bolsa), macroeconomia e política internacional. A maioria do conteúdo que estudam provém de materiais em videoaula encontrados no Youtube, livros e acompanhamento analítico de notícias. São os mesmos youtubers que oferecem conteúdo gratuito, os que cobram preços que variam de dois a seis mil reais para fazer parte de um grupo seleto de aprendizado de elite, onde eles prometem dar conteúdo premium exclusivo e esmagador a todos que comprarem o acesso a estes cursos pagos.

Seja por qual motivo for, o fato é que estes jovens agora se sentem num caminho que estão com as rédeas, e fazem de tudo para se manter a par das novidades do mundo, pois rápido aprendem que qualquer coisa que acontece no cenário internacional reflete nos preços dos ativos que acompanham, sejam eles ações ou operações binárias (principalmente câmbio de moedas), a maioria dos traders mostram que na sua rotina está presente a leitura das notícias internacionais e dos calendários econômicos mundiais, com destaque para as notícias que chegam dos Estados Unidos com divulgação de resultados econômicos chegando até a discursos de congressistas; além dos anúncios diários de aportes de investimento em empresas, fazendo este mercado oscilar de uma maneira frenética no que mais parece - e é - uma competição sem fim de valorização no mercado.

O grande problema disso tudo, é que o pequeno investidor não tem cacife para a competição nesse mercado. Os próprios day traders em dado momento entendem isto e se chamam carinhosamente de sardinhas. Mas porque sardinhas? Pois basta a baleia abrir a boca, que todas elas são engolidas. Este apelido vem bem casa bem com dados publicados pela FGV indicando que 91% dos traders tiveram prejuízo em seus investimentos. E apesar disto, o número de micro investidores continua crescendo, dadas as facilidades das novas plataformas de que só requerem um aparelho com acesso a internet, o baixo valor inicial de investimento e a propaganda de dinheiro fácil que tanto atrai.

A ilusão propagandística de viver de trade cai muito bem num momento em que o Brasil, neste século, vê a maior desvalorização de sua moeda; apresentando um caos político que se arrasta há anos, e que no meio de uma pandemia conta com um presidente e sua equipe de discursos extremistas, má organização governamental, trocando constantemente ministros importantes, e não tendo responsabilidade diplomática ao posicionar-se, criando tensões inclusive com parceiros comerciais, como é o caso da China, que num histórico de dois anos de tensões com Bolsonaro, chega a ter que enviar comunicados oficiais de afirmando que o Brasil precisará arcar com consequências (referenciando as acusações de Eduardo Bolsonaro sobre uma possível espionagem chinesa através da rede 5g).

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