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INTERIÇÕES DE LEITURA devem ser lidas INTERACÇÕES

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Por:   •  22/11/2013  •  Tese  •  9.289 Palavras (38 Páginas)  •  295 Visualizações

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DA LEITURA EM INTERACÇÃO À LEITURA COMO INTERACÇÃO

Maria Lourdes Dionísio de Sousa

A possibilidade de afirmar e estudar o sub-contexto da interpretação de textos na aula de Português advém da natureza da actividade que aí se leva a cabo: a interpretação de textos em situação de interacção em que o professor se dirige a um sujeito colectivo; e do objecto alvo dessa actividade: o texto.

Neste sentido, numa primeira parte deste texto, situar-nos-emos na sala de aula, especificamente sobre a estrutura da comunicação que aí se desenrola - a análise da interacção verbal; depois, abordaremos questões relacionadas com o processo de leitura enquanto actividade comunicativa que exige do leitor conhecimentos e capacidades específicas que se vão reflectir no discurso pedagógico; como corolário, discute-se a possibilidade de um instrumento para a observação e análise de actividades de interpretação na aula de Português.

O discurso na sala de aula

As estruturas da interacção verbal

A leitura na aula de Português decorre, como referimos, por meio de um processo interactivo com características estruturais particulares, entre elas as que caracterizámos como as de uma situação formal de comunicação.

A partir da análise das contribuições, tanto de natureza verbal como não verbal, de professores e alunos, várias têm sido as orientações para a determinação desta estrutura1.

De entre as de carácter mais pedagógico é de destacar o trabalho de Bellack, Kliebard, Hyman & Smith (1966) que, analisando o processo de ensino pelos comportamentos linguísticos dos participantes da situação, identificam uma estrutura hierárquica constituída por quatro tipos de movimentos ("moves") pedagógicos: 1) estruturação, 2) solicitação, 3) resposta e 4) reacção ("follow-up"). Cada um destes movimentos tem uma função discursiva distinta e agrupam-se em estruturas superiores, os ciclos ("cycles"). A partir da análise do conteúdo proposicional destes movimentos e da forma da sua estruturação nos ciclos, aqueles autores definem algumas regras gerais para o discurso pedagógico, nomeadamente, no que diz respeito à preponderância da actividade linguística do professor e à ocorrência sistemática de sequências de movimentos com uma distribuição desigual entre aquele e os alunos.

Das perspectivas de análise de base linguística, sobressai a investigação levada a cabo por Sinclair & Coulthard (1978), Coulthard (1985), Coulthard & Montgomery (1982) e Sinclair & Brazil (1982) e de que aqui faremos breve notícia.

Estes autores, cuja análise se baseia na função comunicativa dos enunciados na sala de aula, pretendem determinar "como se relacionam enunciados sucessivos; quem controla o discurso; como o faz; se os outros participantes têm igual poder de controle e como; como alternam os papéis de locutor e ouvinte; como se introduzem novos tópicos e se põe termo a outros; que evidência linguística há para a existência de unidades de discurso superiores ao enunciado" (Sinclair & Coulthard, 1978, p. 4).

O resultado é uma organização do discurso da aula em cinco níveis organizados hierarquicamente, desde a lição ("lesson"), unidade superior, até ao acto ("act"), unidade mínima. Neste modelo, que tem sofrido alterações sucessivas desde o seu aparecimento em 1975, as trocas ("exchanges"), os movimentos ("moves") e os actos ("acts") são as unidades fundamentais da interacção e é, aliás, sobre estas que a sua investigação mais se centra.

As unidades mais baixas da hierarquia, os actos, não encontram correspondência nos enunciados, (para estes, Sinclair & Brazil (1982) reservam o nome de movimento2), podem sim, "encontrar uma correspondência relativa na unidade gramatical proposição ("clause"), (Sinclair & Coulthard, 1978, p. 27). No entanto, esta correspondência é puramente comparativa, uma vez que, enquanto a análise das proposições se preocupa com as suas propriedades formais, na análise dos actos entram em linha de conta as suas propriedades funcionais, ou seja, são as intenções comunicativas dos falantes que estão em observação. A análise destes autores pressupõe, naturalmente, a distinção entre forma e função dos enunciados.

Os actos, inicialmente 21, posteriormente reduzidos por Coulthard (1985) para 17, organizados em três categorias, são definidos pela sua função interactiva, quer dizer, pela acção condicionadora que exercem sobre os actos do interlocutor. A sua ocorrência nos movimentos por eles formados tende para o tipo: acto fechado seguido de acto aberto. O primeiro é seleccionado de entre uma classe restrita de possibilidades ('sim', 'não', 'bem', 'O.K.') e o segundo de entre uma classe de elementos virtualmente infinita.

Os movimentos, assim constituídos3 e definidos como sendo a contribuição mínima de um locutor, são de cinco tipos: de enquadramento ("frame") e focagem ("focussing"), de abertura ("opening"), de resposta ("response") e "follow-up"4. Os dois primeiros realizam trocas de transição ("boundary exchanges") e a sua função é a de assinalar o fim ou o início de um passo da aula e, neste sentido, relacionam-se com as mudanças de plano constituintes do discurso pedagógico, manifestando-se em contribuições, por parte do professor, do tipo /bem, vamos começar a análise/.

Os outros três tipos (abertura, resposta, "follow-up") realizam as trocas de ensino. A relação que se estabelece entre o primeiro e o segundo opera na base da sua natureza prospectiva e reflexiva. Deste modo, a abertura (movimento + preditivo) e a resposta (+ previsto), (cf. Coulthard & Brazil, 1982), são movimentos complementares tendo em conta que a função do primeiro é impor, no outro, uma determinada forma de participação. Assim condicionados, os movimentos de resposta devem preencher as expectativas deixadas em aberto pelo movimento de abertura precedente.

As trocas de ensino constituem, neste modelo, três classes distintas consoante o tipo de acto nuclear dos seus movimentos de abertura: 1) trocas de informação ("informing"), 2) de solicitação ("eliciting") e 3) directivas ("directing"), aberturas que encontram, nos movimentos de resposta, actos correspondentes. A resposta adequada a um movimento informativo é simplesmente de reconhecimento ("acknowledge") de que se está a ouvir e, portanto, pode manifestar-se por

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