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A Entrevista com Ruth de Albuquerque Tavares

Por:   •  14/8/2021  •  Artigo  •  4.202 Palavras (17 Páginas)  •  121 Visualizações

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ENTREVISTA COM RUTH DE ALBUQUERQUE TAVARES: OS PRENÚNCIOS DO ENSINO RELIGIOSO NÃO CONFESSIONAL NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

INTERVIEW WITH RUTH OF ALBUQUERQUE TAVARES: THE PRENOUNCES OF RELIGIOUS NON-CONFESSIONAL EDUCATION IN THE STATE OF ESPÍRITO SANTO

Resumo: A entrevista realizada com Ruth de Albuquerque Tavares (in memoriam) busca evidenciar a trajetória da disciplina do Ensino Religioso (ER) a partir da década de 1960, na qual passou por mudanças significativas de ênfase (confessional para interconfessional e interconfessional para inter-religioso). Nessas transições Ruth aparece como protagonista, pois é responsável pelos primeiros esforços para efetivação dessas mudanças tanto a nível prático como a nível legal, em busca de uma educação pela paz. Essa foi a última entrevista que Ruth concedeu antes de seu falecimento em outubro de 2017, e constitui um importante relato histórico sobre a consolidação do ER no estado do Espírito Santo.

Palavras-chaves: Ensino Religioso; Espírito Santo; Ruth de Albuquerque Tavares

Abstract: The interview with Ruth de Albuquerque Tavares (in memoriam) seeks to highlight the trajectory of the discipline of Religious Education (RE) from the 1960s, in which it underwent significant changes of emphasis (confessional to interconfessional and interconfessional to interreligious). In these transitions, Ruth appears as the protagonist because she is responsible for the first efforts to make these changes both practical and legal, in search of an education for peace. This was the last interview Ruth gave before his death in October 2017, and it constitutes an important historical account of the consolidation of the RE in the state of Espírito Santo.

Keywords: Religious Education; State of Espírito Santo; Ruth de Albuquerque Tavares

        Ruth de Albuquerque Tavares (in memoriam), carinhosamente chamada de Dona Ruth, foi a precursora de uma nova forma de pensar e praticar a disciplina de Ensino Religioso (ER) no estado do Espírito Santo buscando uma educação pela paz. A partir de sua prática ecumênica enxergou uma maneira de dissipar com os conflitos causados por um ER confessional, na década de 1960, no munícipio de Baixo Guandu/ES, transformando-o em interconfessional (ecumênico cristão) e anos mais tarde em inter-religioso. Dona Ruth possuía experiência em diversas áreas: na educação, psicologia e na Ciência da Religião[1]. Mesmo com seus 92 anos (idade que concedeu a entrevista) estava no processo de escrita de um livro sobre o ER e participava ativamente das reuniões do Conselho de Ensino Religioso do Estado do Espírito Santo (CONERES).

        A entrevista gravada foi realizada pela presente pesquisadora, Nathália F. Sousa Martins, no dia 20 de fevereiro em 2017, no apartamento onde Dona Ruth residia junto com sua filha Berenice na cidade de Vitória/ES, com intuito de recolher informação sobre o ER no estado para escrita da dissertação mestrado intitulada: “O ensino religioso do estado do Espírito Santo: da legislação à sala de aula em escolas estaduais da Região Metropolitana da Grande Vitória” (SOUSA MARTINS, 2018), nesse sentido algumas partes da seguinte entrevista constam no trabalho citado. A importância dos relatos de Dona Ruth reside no fato deles constituírem uma rica fonte histórica sobre a disciplina do ER e suas mudanças ao longo dos anos. Sendo assim Dona Ruth pode ser considerada um ícone de transformação para a educação e mais especificamente para o ER.

        Dona Ruth faleceu 8 meses depois de conceder a entrevista em outubro de 2017, devido a problemas de saúde, deixando um legado de luta e dedicação pela educação. Essa entrevista foi a última que Dona Ruth realizou, e foi autorizada tanto por ela, quanto por seus filhos Berenice de Albuquerque Tavares e Eliézer de Albuquerque Tavares a ser publicada. Além de uma contribuição histórica, essa entrevista se propõe a ser uma homenagem a Dona Ruth.

FORMAÇÃO E FAMÍLIA

Nathália F. Sousa Martins: Como surgiu o interesse da senhora pelo ER?

Dona Ruth: Justamente pelos problemas existentes que no dia-a-dia a gente percebe. Por exemplo: pessoas que não sabem respeitar o direito do outro de pensar diferente e acham que sua religião é a tal, é aquela que leva para o céu e o resto vai tudo para o inferno (risos). Eu trouxe até o livro[2] para você, tem toda história da minha infância, do trabalho realizado com meu marido, ele como pastor e professor, ele era professor e eu também. Eu fui professora do Estado, fui professora primária, professora secundária, professora da universidade, professora do curso de teologia da arquidiocese de Vitória por 30 anos e professora da faculdade de teologia da minha igreja.

Nathália F. Sousa Martins: Qual é a igreja da senhora?

Dona Ruth: Igreja Presbiteriana Unida. Justamente por isso sempre me interesse por esse aspecto.

Nathália F. Sousa Martins: Mesmo sendo presbiteriana a senhora foi professora do Seminário da Arquidiocese, eles deixaram a senhora dar aula lá?

Dona Ruth: Mas foram eles que me convidaram. O presidente era o Padre[3]... Esqueci agora o nome, tá ai no livro. Ele era professor da Universidade[4] e eu também. Então um dia ele me convidou: — Dona Ruth, eu sei que a senhora é ecumênica, trabalha muito bem nesse aspecto, eu queria que a senhora fosse dar aula na faculdade de teologia da Arquidiocese.

— E eu posso? O pessoal não vai achar ruim não?

Ele disse: — Não, que nada. Pelo contrário, a direção está achando ótimo (risos).

Eu então eu fui dar aula lá, por causa dele.

Nathália F. Sousa Martins: A senhora sempre deu aula de Ensino Religioso ou de outra disciplina também?

Dona Ruth: Também de Psicologia. Por que eu sou psicóloga, sou nutricionista (risos), sou pedagoga.

Nathália F. Sousa Martins: A senhora fez faculdade de todas essas coisas?

Dona Ruth: Todas elas. A nutrição eu fiz quando apareceu o curso de nutrição no Brasil. Foi um acordo entre o governo daqui e dos Estados Unidos. E eles então mandaram um grupo para criar uma faculdade de nutrição. Então, decidiram colocar lá em Fortaleza, porque o Nordeste naquela época era muito atrasado na questão de alimentação. Havia muita seca, muita coisa, eles comiam muito mal. Então o primeiro curso foi lá. Dois anos lá e um ano no Rio de Janeiro para concluir.

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