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A IGREJA SE FEZ POVO

Por:   •  24/2/2016  •  Resenha  •  1.329 Palavras (6 Páginas)  •  467 Visualizações

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A libertação a partir dos recursos espirituais e éticos e a vontade de trabalhar para os mais pobres, de unir esforços em torno desta causa seria uma questão política ou profetismo?

Uma igreja mais religiosa, portanto, mais voltada para quem precisa, seria a solução para os anseios da sociedade?

É fato, que Leonardo Boff  no decorrer dos anos 70 e 80 foi um grande ensaísta, isto é, produzia reflexões criativas e interessantes sobre diversos temas teológicos, mas quase sempre se referindo a urgências, questões que emergiam das comunidades e de outros grupos com os quais interagia. Assim, de certo modo, as duas partes do livro serviram a propósitos diferenciados, a situações e públicos diferenciados. Entretanto, conservam como aspectos unificadores: A relação direta com os apelos de transformação da Igreja, frente ao seu papel evangelizador e de serviço aos pobres e uma ampla leitura da realidade de seu tempo, tendo em vista uma presença significativa da Igreja no mundo.

As ditaduras militares instaladas em diversos países latino-americanos reprimiram violentamente os movimentos sociais, silenciaram partidos políticos de esquerda, impediram o funcionamento de Associações e outros grupos populares, torturaram e mataram líderes camponeses, catequistas, irmãs e padres, sindicalistas... Enfim, é neste contexto de profunda crise que emerge a teologia da libertação e nela a proposta de um novo modo de toda a Igreja ser. Numa síntese brilhante o autor relaciona a idéia de povo - noção sociológica e histórica - ao conceito de Povo de Deus - noção teológica e identidade da própria Igreja.

A participação dos cristãos em processos revolucionários de construção de uma nova sociedade recoloca a questão da missão da Igreja na história, não só religiosa, mas evangelizadora. A teologia deverá aprender, mais do que no passado, a ver a realização do Reino para além dos limites da comunidade cristã. A teologia incorpora em seu trabalho também uma dimensão analítica, com instrumentos vindos da ciência do social e do homem.

Assim o sujeito da mudança necessária tem que ser o próprio povo organizado, consciente e unido.

Para o escritor a Igreja se define como Povo de Deus. Mas o povo só existe se previamente se forma uma rede de comunidade. A Igreja se fez povo quando fundou às milhares comunidades de base e assumiu a causa da justiça e da libertação dos pobres.

Consequentemente, a teologia da libertação torna-se força geradora de ações que viabilizam uma práxis libertadora, segundo as necessidades advindas das diversas circunstâncias sob as quais um povo está submetido.

Leonardo reflete sobre a realidade dos serviços, funções e papéis vividos na Igreja.

Descobrir-se como Igreja é algo revolucionário para os leigos católicos, que durante quase toda a história do catolicismo foram relegados à segundo plano. O termo leigo pouco contribui para uma compreensão ministerial de toda a Igreja. Ao perceberem-se como Igreja, os leigos trazem para o dia-a-dia das comunidades a vida por eles vivida e marcada pela miséria e poucas alegrias. Diante disto, ao invés de acomodarem-se e aguardarem a felicidade na vida futura, os leigos das CEBs, conforme Leonardo os vê, colocam-se em diálogo com a sociedade, situam-se diante da realidade estrutural e super-estrutural que os oprime e, desafiam a vida comunitária e de fé a dar passos transformadores.

Enquanto pese as análises positivas acerca da libertação pregada a postura literária e de seus adeptos parece omitir-se em relação aos outros crimes contra a humanidade praticados por não capitalistas. Assim sendo, a defesa dos direitos humanos, por parte de tais teólogos, parece estar muito mais centrada numa crítica ideológica ao capitalismo, segundo seus críticos, do que em reconhecer as barbáries praticados pelos regimes socialistas.

Onde está a justiça social, uma sociedade mais equilibrada da conscientização, de reflexão nas bases populares e de compromisso pelos direitos humanos?

Percebe-se que foi deturpado o caminho divino, colocando-o em segundo plano diante da missão terrena de ajudar os pobres, dissecando a Igreja por dentro e insuflando-a de comunismo e de ideologias revolucionárias. Desta forma não era compatível à doutrina assumir o papel político da igreja e a utilização do Marxismo como ideológica do movimento.

Outrossim, é preciso entender o contexto dos anos 60 e a falta de uma metodologia nova para a militância cristã. Nestes anos, a teologia tradicional católica estava longe da realidade e não respondia aos anseios e questionamentos existenciais do homem e da mulher concretamente. Por isso, a fé era caracterizada pelo excesso de dogmatismo que levava os cristãos a uma certa "passividade" diante da situação conflitiva do mundo, fazendo com que a opção em favor do instrumental histórico fosse necessário para a transformação da sociedade, mas esquecia do componente ideológico e utópico de tal opção e, principalmente, de suas raízes no racionalismo moderno que foi sendo absorvido indubitavelmente pela sociedade e pela ciência nestes anos de chumbo.

Este livro, ainda hoje marcado pela Congregação para a Doutrina da Fé como uma obra suspeita, é um texto datado, historicamente marcado pelos anos 70 e a primeira metade da década de 80. Este fato não diminui a importância e/ou atualidade da obra, pelo contrário, aponta para a conexão entre a elaboração do pensamento teológico e a vida cotidiana na Igreja. Os desafios elencados pelo autor continuam atuais, tanto no que se refere às estruturas eclesiásticas, quanto à desigualdade social e o cerceamento da participação popular nos espaços de poder da sociedade brasileira.

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