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A INSTRUMENTALIZAÇÃO DO DISCURSO RELIGIOSO NA TENTATIVA DE DOMINAÇÃO DO OUTRO NA AMÉRICA LATINA

Por:   •  20/5/2016  •  Artigo  •  3.178 Palavras (13 Páginas)  •  359 Visualizações

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A INSTRUMENTALIZAÇÃO DO DISCURSO RELIGIOSO NA TENTATIVA DE DOMINAÇÃO DO OUTRO NA AMÉRICA LATINA

Victor Nojosa de Oliveira

Introdução

É intrigante, para não dizer contraditório, o discurso protestante que concebe as mazelas sociais como consequência da distância do homem em relação a Deus. Essa Cosmovisão teológica e fundamentalista, atribui um sentido funcional ao processo de conversão do homem e reproduz uma experiência religiosa de “causa-efeito”, do tipo – converta-se o indivíduo e a sociedade se transformará. Não está no bojo desta perspectiva teológica uma antropologia integral, que contemple o ser humano em sua totalidade, ao contrário, há uma profunda preocupação somente com a salvação da alma. O evangelho, conforme propõe as sagradas escrituras, contempla o homem todo, do contrário, teremos outras sínteses: o neognosticismo, o maniqueísmo, o dualismo etc. Dessas acepções, pode-se ressaltar o que disse Ed René Kivitz (2004. p. 64):

A antropologia da missão integral é a unidade indivisível entre o “pó da terra” e o “fôlego de vida” – as dimensões física e espiritual do ser humano (Gn 2.7). “Corpo sem alma é defunto; alma sem corpo é fantasma”. “Cristo veio não só a alma do mal salvar, também o corpo ressuscitar”. A ação missiológica e pastoral da igreja afeta a pessoa humana em todas as suas dimensões: bio-psico-socio-espiritual – a pessoa inteira em seu contexto; o homem e suas circunstancias.

A presente análise propõe elucidar e possibilitar algumas pistas para que os oprimidos, a partir da consciência própria, se reconheçam como “sujeitos”. Certamente, com a consciência vitalizada os sujeitos superarão a condição de “passividade” diante de sistemas dominantes e se colocarão na condição de “ativos”, no movimento de forças para determinarem um novo curso para a História.

1. Uma política com tendências dominantes

A experiência evangélica, no caso do Brasil, não desenvolveu uma ética social articulada com as demandas da vida. Tampouco é parte essencial na praxes protestante o enfrentamento às estruturas sociais opressoras. Nesse sentido, tal experiência religiosa não incidiu, prioritariamente, na realidade concreta objetivando a transformação social, ao contrário, parte da conversão das almas. Porém, o pecado não está somente na esfera individual (subjetiva) do homem, o pecado está na esfera social e resvala nas estruturas da sociedade. Historicamente, podemos constatar que a esfera social sempre foi subjugada por sistemas de dominação o que desencadeou desordem, opressão, desajustes e engendrou estruturas disfuncionais. Do ponto de vista social é possível analisarmos a maneira como essas relações se estabeleceram e permaneceram vivas nos dispositivos de controle reverberando em todas as áreas da vida humana.

Quando pensamos na América, vem átona ao imaginário não o México, ou a Bolívia, tampouco o Brasil, mas os Estados Unidos. Convencionou-se no inconsciente que o EUA é a América. Diante dessa sinédoque os estadunidenses passaram a deter status e notoriedade de metrópole enquanto que os demais países que compõe o continente são “submissos” e “subalternos” que não passavam, e ainda não passam, de “periferias”. A História mostra que a dominação imperialista norte-americana se consolidou com a maturidade do regime neocolonial. Por volta de 1880, houve o progresso de uma economia primária de exportação e o novo pacto colonial substituiu gradativamente os modelos impostos pela Espanha e Portugal. O processo de dominação do outro, na lógica do antigo sistema colonial, era caracterizado por uma antropologia fragmentada o que levou os colonizadores a justificarem os genocídios e a ruptura com a autonomia dos povos ameríndios. Nesse sentido, se expressou o teólogo belga católico José Comblin (1985, p. 82).

Foi o dualismo da teologia que permitiu que os teólogos pudessem com tanta facilidade justificar a tortura praticada pela Inquisição, ou a escravatura praticada universalmente, ou a redução dos índios a uma condição de servos como fizeram ainda no século XVI tantos teólogos. Somente foi possível porque para eles, o corpo não era realmente o homem. Torturar o corpo, tirar a liberdade do corpo ficava de certo modo exterior à pessoa humana, como seu instrumento.

Obviamente que estamos em outro contexto, porém é notável que os processos de permanências e continuidades insistam ditando as “regras”, os “gostos” e os “gastos” através da lógica avassaladora dos modelos econômicos opressores. Nesse sentido, os países ricos sempre serão favorecidos, por conta da divisão de tarefas, a organização de mercados (menos livres) e as transformações técnicas vinculadas aos parâmetros dos grandes polos financeiros que formam a base econômica das grandes metrópoles. Pelos meados de 1910, temos a consolidação da hegemonia exclusiva dos países estrangeiros. Podemos citar, a título de exemplo, os capitalistas alemães que monopolizaram e controlaram o comércio de café, apossaram-se das terras cultiváveis da Guatemala e os norte-americanos, após a dominação espanhola, adquirem plantações de cana-de-açúcar em Cuba e estende o seu controle sobre Porto Rico, Haiti, São Domingos e nas planícies da América central. Gradativamente a transição do monopólio foi passada à tutela dos Estados Unidos e fortalecida com a retomada dos pressupostos da Doutrina Monroe (A América para os americanos) de 1823. Diante dessa conjuntura política os Estados Unidos assumiam a prerrogativa de polícia a serviço das relações financeiras consolidadas durante o período de maturidade do neocolonialismo. Vale ressaltar o que escreveu Donghi (1975, p. 205):

Nesse contexto, a vocação pedagógica dos Estados Unidos transforma-se num mecanismo de dominação e identifica-se com o compromisso para impor uma imagem das relações entre Estados Unidos e suas áreas de influência que reflita indubitavelmente tradições ideológicas preciosas; e tem como consequência prática – uma vez aceita nos países dominados – tornar inconcebível a ruptura com os vínculos de submissão.

O fato é que os Estados Unidos, através de decisões unilaterais, buscava obter o controle da América, que já era devedor crônico dos países europeus, e para controlar as questões financeiras e lançar as bases do um regime para o âmbito internacional. Os norte-americanos se arrogavam no direito de exercer a

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