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Antropologia B

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Por:   •  10/10/2014  •  1.567 Palavras (7 Páginas)  •  221 Visualizações

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Antropologia simbólica

No período formativo — digamos 1963-1966 — os proponentes principais da "antropologia simbólica" nunca usaram esta expressão como um rótulo. Ao contrário, era uma etiqueta (provavelmente inventada pela oposição), um guarda-chuva para um número de tendências muito diversas. Duas de suas principais variantes parecem ter sido inventadas independentemente, uma por Clifford Geertz e seus colegas na Universidade de Chicago, e outra por Victor Turner em Cornell.2 As importantes diferenças entre os geertzianos e os turnerianos provavelmente não são plenamente conhecidas por aqueles fora da cena da antropologia simbólica. Enquanto Geertz era influenciado principalmente por Max Weber (através de Talcott Parsons), Turner era sobretudo influenciado por Emile Durkheim. Além disso, Geertz claramente representa uma transformação da antropologia americana anterior, debruçada principalmente sobre as formas de operar da "cultura", enquanto Turner representa uma transformação da antropologia britânica anterior, principalmente debruçada sobre as formas de operar da "sociedade".

A mudança teórica mais radical de Geertz (1973b) foi argumentar que a cultura não é algo preso dentro das cabeças das pessoas, mas que é incorporada em símbolos públicos, símbolos através dos quais os membros de uma sociedade comunicam sua visão de mundo, orientações de valor, ethos e tudo mais uns aos outros, às gerações futuras — e aos antropólogos. Com esta formulação, Geertz deu ao conceito de cultura, até então difícil de definir, um lócus relativamente fixo, e um grau de objetividade que não tinha anteriormente. Para Geertz e muitos outros, o foco nos símbolos foi heuristicamente liberador: mostrou-lhes onde encontrar o que eles queriam estudar. Entretanto, o interesse nos símbolos consistia em que eles eram, em última instância, veículos para significados; o estudo dos símbolos como tais nunca foi um fim em si mesmo. Deste modo, por um lado, os geertzianos3 nunca estiveram particularmente interessados em distinguir e catalogar as variedades de tipos simbólicos (sinais, signos, ícones, índices etc. — ver, por contraste, Singer 1980) nem, por outro lado (e em oposição à Turner, sobre quem nós iremos tratar em breve), estiveram interessados particularmente nos modos com que os símbolos desempenham certas operações práticas no processo social — sarar pessoas através de ritos de cura, transformar meninos e meninas em homens e mulheres através da iniciação, matar pessoas através da feitiçaria — e assim por diante. Geertzianos não ignoram esses efeitos sociais práticos, mas tais símbolos não têm sido seu foco principal de interesse. Antes, o foco mais duradouro da antropologia geertziana tem sido a questão de como os símbolos modelam os modos em que atores sociais veem, sentem e pensam sobre o mundo ou, em outras palavras, como os símbolos operam como veículos de "cultura".

Vale ainda a pena notar, antecipando a discussão sobre estruturalismo, que o interesse de Geertz sempre esteve voltado mais para o lado "ethos" da cultura do que para a "visão de mundo", mais para as dimensões afetivas e estilísticas do que para as cognitivas. É claro que enquanto é muito difícil (para não dizer improdutivo e, em última instância, equivocado) separar tão rigorosamente os dois lados, é possível, não obstante, distinguir a ênfase em um ou outro. Para Geertz, então (assim como, antes dele, para Benedict, especialmente), até o mais cognitivo ou intelectual dos sistemas culturais — como os calendários balineses — é analisado não (apenas) para revelar um conjunto de princípios cognitivos estruturantes, mas (especialmente) para compreender a forma com que o jeito balinês de dividir o tempo se imprime sobre o seu senso de self, de relações sociais e de conduta, com um sabor culturalmente distinto, um ethos (1973e).4

A outra grande contribuição do esquema geertziano foi a insistência em estudar a cultura "do ponto de vista do ator" (p.ex. 1975). Novamente, isto não implica que nós devamos entrar "na cabeça das pessoas". O que isto significa, muito simplesmente, é que a cultura é um produto de seres socialmente atuantes tentando dar sentido ao mundo no qual eles se encontram, e se nós pretendemos dar sentido a uma cultura, nós devemos nos situar na posição a partir da qual ela foi construída. A cultura não é um sistema abstratamente ordenado, que derive sua lógica de princípios estruturais ocultos, ou de símbolos especiais que proveem as "chaves" para a sua coerência. Sua lógica — os princípios das relações que ocorrem entre seus elementos — deriva muito mais da lógica da organização da ação, de pessoas operando a partir do seio de certas ordens institucionais, interpretando suas situações com vistas a agir coerentemente nelas (1973d). Pode ser notado aqui, contudo, que enquanto a perspectiva centrada no ator é fundamental para o esquema de Geertz, ela não é sistematicamente elaborada: Geertz não desenvolveu uma teoria da ação ou da prática como tal. Entretanto, ele posicionou firmemente o ator no centro de seu modelo, e muito do trabalho posterior centrado na prática constrói-se sobre uma base geertziana (ou geertzo-weberiana), como veremos.

A outra figura principal da escola de antropologia simbólica de Chicago é David Schneider. Schneider, como Geertz, foi um produto de Parsons, e também se concentrou primordialmente em refinar o conceito de cultura. Mas seus esforços foram em direção à compreensão da lógica interna dos sistemas de símbolos e significados, através da noção de "símbolos nucleares", e também através de ideias parecidas com o conceito de estrutura de Claude Lévi-Strauss (p.ex., 1968, 1977). De fato, embora Geertz tenha usado repetidamente a expressão "sistema cultural", ele nunca prestou muita atenção aos aspectos sistêmicos da cultura, e foi Schneider quem desenvolveu esse lado do problema de forma muito mais completa. Schneider em seu próprio trabalho desvinculou a cultura da ação social muito mais radicalmente que Geertz. Mesmo assim, talvez precisamente porque a ação social ("prática", "práxis") foi tão radicalmente separada da "cultura" no trabalho de Schneider, ele e alguns de seus

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