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O não lugar no turismo

Por:   •  28/7/2019  •  Trabalho acadêmico  •  3.794 Palavras (16 Páginas)  •  323 Visualizações

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A CAVALHADA DE POCONÉ/MT: UMA ANÁLISE DO NÃO-LUGAR SOB A ÓTICA DO TURISMO

André Vitto[1]

Resumo: O presente artigo tem como objetivo estabelecer uma relação entre a geografia e o turismo, a partir da apresentação dessas disciplinas enquanto ciência no decorrer do século XX. Buscamos apresentar os principais conceitos da geografia como espaço e lugar e relacioná-los com o recorte espacial do município de Poconé, em Mato Grosso por meio da sua tradicional festividade, conhecida como Cavalhada de Poconé. Teceremos análises sobre essa festa em relação à questão de identidade e memória, que é atribuída pela mídia e pelos governos municipal e estadual como um evento turístico que apresenta a Cavalhada atrelada à cultura e história da população de Poconé. Desse modo, esta pesquisa procura demonstrar que a Cavalhada de Poconé generaliza os aspectos da identidade e história como sendo um ato tradicional para disseminar a imagem de um atrativo turístico.

Palavras-chave: Cavalhada de Poconé. Turismo. Identidade. Não-Lugar.

Constituição da geografia como ciência e os conceitos de espaço e lugar

No final do século XIX e início do XX, a geografia passou a se constituir enquanto ciência através dos estudos de autores como Descartes, Kant, Darwin, Comte, Hegel e Marx, os quais por meio das suas ideologias contribuíram para a construção dos paradigmas da geografia (COSTA; ROCHA, 2010).

A formação da geografia enquanto ciência está atrelada ao contexto histórico do Imperialismo, pois a mesma serviu de base teórica para legitimar os processos expansionistas e comerciais das potências europeias, principalmente, sob os territórios da África e da Ásia. Entretanto, após a Segunda Guerra Mundial, a geografia passou a desenvolver novas possibilidades teóricas e metodologias, sendo importante destacar a quantificação e a sistematização como ferramentas de análise. Já na década de 1970, a geografia passou a ser influenciada pelas teorias marxistas que direcionavam as suas análises para os problemas sociais, como concentração de renda, as migrações para as cidades, constituindo assim espaços degradados, sobretudo na América Latina, África e Ásia (COSTA; ROCHA, 2010, p. 36).

Em que pese os avanços teóricos e metodológicos da geografia como ciência, visualizamos na geografia humanística, embasada na fenomenologia, uma corrente que busca reconhecer as experiências do indivíduo ou grupo, em relação ao comportamento e a forma de sentir dos agentes sobre os seus lugares (CHRISTOFOLETTI, 1985 apud COSTA; ROCHA, 2010, p. 37).

Neste sentido, as noções de espaço e lugar emergiram como conceitos chaves na geografia humanística são de suma importância para entendermos os fenômenos turísticos em determinada espacialidade, que neste trabalho serão direcionados para analisarmos o evento da Cavalhada de Poconé como sinônimo de identidade e memória da população de Poconé.

O conceito de espaço desenvolvido por Milton Santos expõe que a constituição do espaço é resultado da ação dos indivíduos, intermediados pelos objetos naturais e artificiais. Assim, Santos demonstra que:

Um conceito básico é que o espaço constitui uma realidade objetiva, um produto social em permanente processo de transformação. O espaço impõe sua própria realidade; por isso a sociedade não pode operar fora dele. Consequentemente, para estudar o espaço, cumpre apreender sua relação com a sociedade, pois é esta que dita a compreensão dos efeitos dos processos (tempo e mudança) e especifica as noções de forma, função e estrutura, elementos fundamentais para a nossa compreensão da produção do espaço (SANTOS, 2008 apud COSTA; ROCHA, 2010, p. 42).

        O espaço é algo que se encontra em constante processo de transformação. Portanto, o espaço é um reflexo da ação humana ao longo do tempo, assim, este não é imóvel e estático tendo também a sua configuração como espaço social formado por eventos sociais.

        Com a complexidade do dinamismo do espaço geográfico, outros conceitos se desdobraram, como a noção de lugar trabalhado pela geografia humanística. A concepção de lugar carrega em si a percepção dos indivíduos, significados, características e heranças culturais. O lugar possui delineamentos espaciais em que o indivíduo e o coletivo emitem culturalmente. Desse modo, é válido lembrar que o lugar possui conexões com o global, porém mesmo com a globalização, as particularidades não esvanecem. Portanto,

[...] o lugar aparece como um fragmento do espaço onde se pode apreender o mundo moderno. Uma vez que o mundial não abale o local. O lugar se produz na articulação contraditória entre o mundial que se anuncia e a especificidade histórica do particular. Deste modo o lugar se apresenta como o ponto de articulação entre a mundialidade em constituição e o local enquanto especificidade concreta, enquanto momento (CARLOS, 1997 apud COSTA; ROCHA, 2010, p. 52).

        Sob a ótima exposta acima, procuramos analisar que o lugar estabelece laços de pertencimento, identidade e história. O lugar é um fragmento do espaço que estabelece conexões com o global sem perder as suas especificidades.

Histórico do turismo como atividade econômica

        O fenômeno turístico tem o seu início no final do século XIX a partir da Segunda Revolução Industrial, e, consequentemente pelo advento dos meios de transportes: navio e trem a vapor que viabilizaram o deslocamento em massa por maiores distâncias e por menos tempo. Este fato histórico também provocou a divisão do tempo – o tempo biológico e o tempo de trabalho, provocando uma mudança de mentalidade pautada no tempo livre e assim, sobre as viagens turísticas.

Entre as duas grandes guerras (1919-1938), cresceu o interesse no turismo como matéria de pesquisa nas universidades, principalmente sob o viés econômico. Assim, surgiu a Escola de Berlim que procurou sistematizar o conhecimento das atividades turísticas através da utilização de pesquisa respaldada por métodos científicos adotados pelas ciências da sociedade à época (IGNARRA, 2003).

        Após a Segunda Guerra Mundial, o turismo ganhou novas configurações e melhor organização com o advento da melhoria dos transportes, equipamentos de hospedagem, das agencias de viagens, infraestrutura e outros.

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