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A Falsa Aceitação

Por:   •  25/5/2020  •  Trabalho acadêmico  •  3.333 Palavras (14 Páginas)  •  67 Visualizações

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INSTITUTO FEDERAL DE BRASÍLIA_IFB

Docente(s): Humberto ManoeL e  Diene Ellen

Discente: Cristiane Alves Brito Oliveira

Falsa Aceitação

Em tempos atuais, muito se fala em racismo, intolerância religiosa, intolerância aos grupos LGBT’s. Teoricamente tudo é muito bonito, todos são aceitos, ninguém é preconceituoso, todos aceitam todos como eles são. Mas até que ponto isso tudo é verdade?

Vivemos em uma sociedade totalmente dissimulada, onde tudo é aceito, desde que não ocorra dentro de suas casas, que não seja com seus filhos. Não é incomum presenciarmos atos de desrespeito ao outro pelo simples fato de ser de uma cor diferente, ter um cabelo diferente. No texto apresentado por Bell Hooks podemos identificar esse preconceito de forma bem clara. A necessidade de alisar os cabelos é algo imposto pela supremacia branca, como diz a autora. Em um trecho ela relata “Eu queria essa mudança mesmo sabendo que em toda a minha vida me disseram que eu era “abençoada” porque tinha nascido com “cabelo bom...” O fato de alisar o cabelo não é o problema, o problema está na imposição desse ato como forma de diminuir a mulher negra pelo seu cabelo afro, querer impor que a mulher tem que alisar o seu cabelo para ser aceita , ou pelos menos se aproximar de uma aceitação que por muitas vezes nem acontece e que como consequência ainda fere essa mulher, que  já não se aceita como mulher negra detentora de uma beleza que não precisa seguir os padrões brancos.

Segundo Bell Hooks “... essa postura representa uma imitação da aparência do grupo branco dominante e, com frequência indica um racismo interiorizado, um ódio a si mesmo que pode ser somado a uma baixa autoestima.” Não é que a mulher negra não possa alisar seus cabelos, o que não deve acontecer é obrigatoriedade desse ato como forma de opressão para o aceite da sociedade. A aparência demostra a personalidade de uma pessoa, não é aceitável que para satisfazer padrões de uma sociedade as pessoas sejam obrigadas a distorcer suas características físicas, anulando a sua identidade.

Identidade é outro ponto que gera muita discussão entre movimentos sociais e os autores sociais. No livro educação antirracista, a autora Nilma Lino Gomes descreve que “a identidade não se prende apenas ao nível da cultura. Ela envolve, também, os níveis sócio-político e histórico em cada sociedade”. A autora diz ainda que: “a ênfase na identidade, resulta na ênfase da diferença”. Para o cientista Jacques d’Adesky (2001; pag.76) a identidade parte da ideia que o indivíduo faz de si mesmo, para ele a identidade não pode ser construída no isolamento, e sim por meio de diálogos entre os povos durante toda a sua vida, construindo tanto sua identidade pessoal quanto sua identidade social. É em meio a esse processo de construção, de diálogos que também é construída a identidade negra.  Nilma Lino entende a identidade negra como: “uma construção social, histórica, cultural e plural. Implica a construção do olhar de um grupo étnico/racial ou de sujeitos que pertencem a um mesmo grupo étnico/racial, sobre si mesmos, a partir da relação com o outro”. Mas como criar uma identidade negra positiva se impomos que para serem aceitos, os negros precisam negar a si mesmos. Consciente ou inconscientemente, reproduzimos atitudes racistas no nosso cotidiano, quando orientamos as meninas a prenderem o cabelo crespo, quando em brincadeiras, aparentemente inocentes, ridicularizamos os amigos pelo seu tom de pele ou seu cabelo.  Quando tentamos não reproduzir uma fala racista, mas nos referimos a um negro como o “moreninho”, como se assim retirássemos o peso da diferenciação racial.

A questão de raça também gera grandes conflitos, principalmente entre aqueles que, de acordo com Nilma não tem sua identidade étnico/racial definidas. A autora ainda conceitua raça como “... termo que consegue dar a dimensão mais próxima da verdadeira discriminação contra os negros, ou melhor, do que é o racismo que afeta as pessoas negras da nossa sociedade”. Ao usar o termo raça devemos tomar muito cuidado com a forma que falamos, para que não seja interpretado como uma forma de inferiorização dos negros. Infelizmente esse adjetivo oriundo de raças não remete a diferentes grupos e etnias, mas sobre tudo para inferiorizar a população negra, deixando sobressair o racismo. Infelizmente comentários racistas partem na maioria das vezes de grupos de amigos, familiares e principalmente dentro das escolas, usando como base principalmente os aspectos físicos do indivíduo. O mais contraditório de tudo é a população reconhecer que o Brasil é um país racista, entretanto essa mesma população não se considerar racista. A autora afirma que:

Quanto mais a sociedade, a escola e o poder público negam a lamentável existência do racismo entre nós, mais o racismo existente no Brasil vai se propagando e invadindo as mentalidades, as subjetividades e as condições sociais dos negros. O abismo racial entre negros e brancos no Brasil existe de fato.”

Mas o racismo não se manifesta somente contra os negros, também está presente em atos discriminatórios de pessoa para pessoa, oriundos do ódio e que podem resultar em violência. Esse tipo de racismo pode ser notado contra diferentes tipos de religiosidades e contra pessoas de orientação sexual oposta ao que é aceitável para a sociedade. Atualmente nota-se o crescente número de homossexuais, não que mais pessoas estão mudando sua opção sexual, mas porque esse grupo está se impondo na sociedade, buscando seu espaço e assumindo uma escolha individual que não precisa da aprovação de ninguém para ser exercida. Entretanto, pessoas contrarias a esse movimento sentem-se no direito de inferiorizar, fazer chacotas, humilhar e até mesmo agredir as pessoas que optaram por uma orientação sexual oposto à sua.

Tais atos de racismos devem ser inibidos principalmente no meio escolar, com as crianças ainda em seu estágio de formação. Contudo, o que o estudo realizado pela autora Eliane Cavalleiro constatou foi o contrário, segundo ela:

 “...o sistema educacional brasileiro, da mesma forma que as demais instituições sociais, está repleto de práticas racistas, discriminatórias e preconceituosas, o que gesta, em muitos momentos, um cotidiano escolar prejudicial para o desenvolvimento emocional e cognitivo de todas as crianças e adolescentes, em especial às consideradas diferentes”.

 Aceitar práticas racistas e discriminatórias acarreta em grandes prejuízos para os alunos negros inclusive o afastamento do meio escolar. Fato que aumenta ainda mais a desigualdade racial e social da comunidade negra. Tais atos são praticados muitas vezes por profissionais da educação que deveriam justamente inibir essas práticas, que involuntariamente serão reproduzidos pelas crianças e que serão agregadas a sua formação adulta. As brincadeiras com algum apelo racista são interpretadas pelos adultos como inocentes, que as crianças não têm consciência do racismo, mas muito pelo contrário, esse tipo de brincadeira demonstra o preconceito já formado nessa criança, que muitas vezes está reproduzindo o que vivencia no seu meio de convívio.

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