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A Leitura Literária

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Por:   •  11/9/2014  •  3.028 Palavras (13 Páginas)  •  243 Visualizações

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1 A leitura literária

Mara Elisa Matos Pereira

A leitura literária é um tipo especial de leitura. Sua especificidade decorre, sobretudo, das características do texto literário. Não é fácil dizer exatamente o que o texto literário possui que o diferencia dos demais textos que circulam na sociedade desde tempos remotos. Muitos estudiosos, desde o filósofo grego Aristóteles1, buscaram estabelecer critérios para a classificação de um texto como literário, mas o fato é que, até hoje, não temos nenhum traço que esteja presente exclusivamente nele.

Mesmo diante dessa realidade, seguimos valorizando a literatura como uma manifestação humana que merece lugar entre as práticas culturais de nossa sociedade e continuamos reservando espaço para ela no ambiente escolar. Os motivos para valorizá-la e para transformá-la em instrumento de formação do sujeito variaram ao longo do tempo. Consequentemente, variou também a função social que ela assumiu de uma época para outra. Apesar disso, é sempre bom lembrar que literatura é, antes de tudo, arte. Independente do que façamos com ela ou de que forma ela repercute na sociedade, sua origem deve ser, em princípio, um ato de criação artística e é assim que devemos considerá-la.

Quando falamos em literatura infanto-juvenil, geralmente corremos o risco de esquecer o caráter artístico dos textos pertencentes ao gênero, a favor de uma abordagem mais linguística, aproveitando poesias e narrativas literárias para ensinarmos Língua Portuguesa, ou mais ideológica, centrada na transmissão de valores e comportamentos – atitudes que, muitas vezes, reduzem as possibilidades de interpretação do texto literário e o empobrece. A leitura literária pode conduzir o leitor a mundos fascinantes. Estimulá-la de forma livre é permitir essa viagem fantástica.

1.1 Leitura

Antes de falarmos a respeito da leitura literária, é importante estabelecermos um conceito de leitura. Na atualidade, o termo ganhou um sentido amplo. Entendemos leitura como um processo de compreensão e interpretação do mundo. É comum ouvirmos que a “leitura do mundo precede a leitura da palavra”, colocação esta feita por Paulo Freire2.

Essa ampliação do termo foi acompanhada por uma transformação do conceito de leitura. Atualmente, pode se dizer que ela não é mais concebida como um ato mecânico de decodificação de palavras, frases, parágrafos etc. Não é mais compreendida como um exercício de busca da interpretação correta de uma mensagem que está exclusivamente no texto.

Ler um texto é atribuir-lhe significações. Para isso, devemos desenvolver uma atividade de reconstrução daquilo que nos é apresentado. Reconstruir o material escrito envolve um mecanismo de decodificação e de ativação dos conhecimentos de que o leitor dispõe. Assim, a leitura põe em ação o nosso conhecimento de mundo, isto é, o conjunto das experiências que possuímos. Ela se caracteriza por ser uma atividade de assimilação de conhecimento, de interiorização e de reflexão.

É assimilação de conhecimento, não só porque, através da leitura, entramos em contato com o conhecimento humano organizado, mas também porque o mundo delineado pelo autor do texto é sempre fruto de seu olhar e, para nós, algo novo.

É interiorização, porque o ato de ler desencadeia um intenso processo psíquico, em que raciocínio, memória e emoção trabalham em conjunto para gerar a significação do texto. A linguagem, por seu caráter lógico, aciona nosso raciocínio, e por seu caráter simbólico, necessita de nossa memória para ser significada, ativando também nossas emoções.

É reflexão, porque quando significamos o texto de outro, reconstruindo suas ideias, comparamos o nosso resultado com aquilo que sabíamos antes da leitura, visto que cada indivíduo concretizará a significação conforme a experiência de vida que possui. O resultado da comparação pode conduzir a um exercício reflexivo transformador.

O processo de reconstruir um texto é resultado de um posicionamento ativo do leitor, que une seu conhecimento de mundo à matéria escrita para, dessa união, produzir a significação. Se entendermos a leitura dessa forma, o leitor passa a ter um papel de muito maior relevância no processo, pois se torna sujeito das significações que constrói. Lógico que, para que isso ocorra, ele precisa ter se tornado um leitor.

1.2 A formação do leitor

O processo de formação pelo qual passa um indivíduo, até não se atemorizar com o texto escrito e perceber nele um grande número de significações possíveis, é muito longo. É por isso que falamos de processo de leitura, pois é algo que se desenvolve no tempo e pressupõe etapas. Ninguém se torna um leitor do dia para a noite.

Além disso, existe uma variedade imensa de textos, dos mais simples aos mais complexos. Isso significa que também existe uma variedade de leitura e de leitores.

Muitas pessoas que lêem sem dificuldade uma série de textos, podem se sentir completamente perdidas diante de um determinado gênero textual. Isso acontece porque cada gênero textual possui uma estrutura, uma linguagem e uma função social determinadas. Podemos ler, sem dificuldades, textos informativos, como notícias e reportagens jornalísticas, e nos sentirmos inseguros diante de um texto teórico sobre uma área de conhecimento que não dominamos.

Ademais, é bastante comum, em nossa sociedade, encontrarmos pessoas que, mesmo tendo sido alfabetizadas, não desenvolveram uma prática de leitura efetiva. São pessoas que se restringem a ler textos simples e predominantemente informativos. Certamente, temos aí um leitor diferente daquele que está em contato com textos variados ou mais complexos. Ele faz um uso exclusivamente pragmático do ato de ler e sua competência de leitura é restrita à utilização em situações cotidianas pontuais, como, por exemplo, a leitura de placas de orientação.

O desenvolvimento da competência de leitura ocorre pelo contato com textos de gêneros variados e pela freqüência com que o leitor se exercita nela. Um leitor competente acaba por tornar-se um leitor crítico. Podemos definir esse tipo de leitor como aquele que

não é apenas um decifrador de sinais, mobiliza seus conhecimentos para dar coerência às possibilidades do texto; é cooperativo, já que deve promover a reconstrução de mundo, a partir de indicações que o texto lhe oferece; é produtivo, na medida em que ao refazer o percurso do autor, transforma-se em co-enunciador; é assim, sujeito do processo de leitura e não objeto.3

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