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A PARTICIPAÇÃO DO ACOMPANHANTE NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO NOS HOSPITAIS PÚBLICOS BRASILEIROS

Por:   •  22/6/2020  •  Trabalho acadêmico  •  2.867 Palavras (12 Páginas)  •  92 Visualizações

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ESCOLA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE NO HOSPITAL DE CLÍNICAS DE PORTO ALEGRE

FERNANDA LIPERT MAGNUS

A PARTICIPAÇÃO DO ACOMPANHANTE NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO NOS HOSPITAIS PÚBLICOS BRASILEIROS

Porto Alegre - RS

2018

  1. INTRODUÇÃO

Com o avanço da medicina e a modernização da assistência obstétrica no trabalho de parto nas últimas décadas, o nascimento passou a ser institucionalizado, afastando a gestante do parto residencial. Com isso, o papel do acompanhante se tornou indesejado e até mesmo obstruído pelas instituições de saúde e seus profissionais. Nos últimos anos diversos estudos apontaram a importância do apoio e conforto físico e psicológico prestados pelo acompanhante à gestante, além de fornecer assistência à equipe de saúde em manejos simples. Em consequência destes estudos surgiram diversos programas, portarias e a lei de humanização e acolhimento voltados a garantir, entre outros itens, o direito da gestante escolher seu acompanhante durante o pré-parto, parto e pós-parto. Porém, mesmo com todos estes movimentos, ainda é muito comum as instituições de saúde negarem esse serviço às suas pacientes.


  1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO PROCESSO DE PARTURIÇÃO

Antigamente, o processo de dar a luz ocorria naturalmente, em casa, com apoio emocional das mulheres da família. As parteiras eram referência no processo de parturição, pois a medicina não tinha muito conhecimento nesta área e os médicos só intervinham em casos mais graves em que a vida da gestante estivesse em risco, e mesmo assim, para realizar uma cesariana, era necessária a permissão da mulher ou da família. Neste período a presença masculina no parto era vista como algo negativo, pois o acompanhamento de um homem indicava que havia algo errado ou fora do normal.

A partir do século XVI as parteiras foram dando espaço para a assistência médica devido à criação do fórceps para retirada dos bebês em casos mais difíceis. A popularidade desta ferramenta na época auxiliou na redução do número de mortes materna e perinatal, inclusive sendo alternativa a cesarianas de urgência. Com o avanço da medicina, e pensando na redução da mortalidade materna e infantil, o número de partos domiciliares passou a reduzir exponencialmente, inclusive proibido em muitos países, sendo então realizados em estabelecimentos de saúde, com crescente aparato tecnológico e científico, processo que resultou gradativamente na institucionalização do parto.

Já em 1880 os médicos eram mais bem vistos pela sociedade do que as parteiras, e mulheres de todas as classes sociais passaram a entender que os partos realizados por profissionais da saúde nas maternidades eram muito mais seguros do que aqueles assistidos pela família em seus domicílios. Foi nesta época que houve a grande mudança no modelo assistencial, onde a mulher e bebê passam a ser chamados de pacientes e deixam de ser as figuras mais importantes no parto. Os hábitos hospitalares foram planejados para atender as necessidades da equipe médica e as estruturas físicas não comportavam familiares durante a internação. As mulheres permaneciam em quartos coletivos, sem privacidade ou qualquer acompanhante que pudesse dar algum conforto emocional, tornando-se passiva às regras das instituições. “O parto então deixa de ser privado, íntimo e feminino, e passa a ser vivido de maneira pública, com a presença de outros atores sociais.” (Brasil. Ministério da Saúde; 2001).

O século XX é marcado por mais avanços na área da medicina obstétrica com a aplicação de medicamentos, anestesias e novas técnicas nas cesarianas. Tais avanços permitiram que muitos partos de alto risco fossem concluídos de forma satisfatória e segura. Desta forma, nos últimos quarenta anos, a cesariana passou transmitir a imagem de que as outras formas de parto não são tão seguras e saudáveis, gerando nas gestantes o medo de sentir dor e ter complicações no trabalho de parto. Esta visão fez a sociedade preferir pela cesariana até para casos em que não há real necessidade da realização de um procedimento cirúrgico invasivo, transformando assim o processo do parto que antes era natural em um procedimento técnico e científico.

Nos dias de hoje, a admissão hospitalar da parturiente, a exclusão do acompanhante na prática assistencial e os processos padronizados e impessoais ainda fazem parte da rotina dos profissionais de saúde.

  1. ESTUDOS SOBRE O AMPARO EMOCIONAL NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO

A luta pela volta da humanização da assistência ao parto ganhou força no final do século XX através de movimentos feministas que reivindicavam maior atenção à saúde da mulher, com o cuidado voltado às necessidades individuais, garantindo à mãe e ao bebê mais segurança e menos intervenções invasivas. A partir deste movimento a comunidade científica passou apresentar maior interesse  na elaboração de estudos voltados aos benefícios gerados pelo apoio emocional oferecido à gestante no processo de parturição.

Em um ensaio clínico publicado no Canadá em 1989[1], os autores Hodnett e Osborn demonstraram um caso em que uma parturiente sem risco iminente na gestação passou por 16 profissionais diferentes durante seu trabalho de parto que teve duração de seis horas, e mesmo assim permaneceu sozinha a maior parte do tempo. Esta pesquisa ficou conhecida por ser o grande incentivo para o trabalho de outros cientistas na época. Na década seguinte outros seis ensaios sobre o apoio do acompanhante no processo de parturição foram publicados em revistas internacionais. De maneira geral, todas as pesquisas demonstraram melhorias significativas na saúde da mulher. Gestantes que experimentaram o acompanhamento familiar durante o parto relataram maior autoestima, menor índice de ansiedade e depressão pós-parto, maior cuidado com o recém-nascido e melhoria do índice de aleitamento materno.

Estudos recentes também mostraram que apoio psicológico e emocional durante o processo do parto podem facilitar no andamento deste procedimento para a parturiente, inclusive reduzindo riscos e procedimentos invasivos desnecessários. Em uma pesquisa realizada em 2007[2], identificou-se que as gestantes que tiveram acesso ao apoio contínuo individualizado, na sua maioria, deram à luz de forma espontânea, sem necessidade de métodos invasivos como uso de medicações para indução, fórceps e cesarianas, além da redução de tempo de duração do trabalho de parto em 2,8 horas, aumentando o índice de satisfação da parturiente em relação ao parto. Nesta mesma pesquisa constatou-se que a presença do acompanhante para dar auxílio emocional na parturição deveria ser regra em todas as instituições de saúde.

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