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Cap.3 Do Livro O Que Faz O Brasil,brasil?

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Por:   •  25/2/2015  •  1.135 Palavras (5 Páginas)  •  2.869 Visualizações

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Capítulo III . A ilusão das relações sociais

No século XVIII, Antonil percebeu algo interessante numa sociedade dividida entre senhores e escravos, e escreveu: “O Brasil é um inferno para os negros, um purgatório para os brancos e um paraíso para os mulatos”. Na verdade, penso que, caso se queira ter uma compreensão mais profunda e original das relações raciais que seus sentidos velados, considerando todas as suas implicações morais e políticas.

Realmente, não custa relembrar que as teorias racistas européias e norte-americanas não eram tanto contra o negro ou o amarelo, que eram nítida e injustamente inferiorizados relativamente ao branco, mas que também eram vistos como donos de poucas qualidades positivas enquanto “raça”. O problema maior dessas doutrinas, o horror que declaravam, era, isso sim, contra a mistura ou a miscigenação das “raças”. Saber por que tais teorias tinham esse horror à miscigenação é conduzir a curiosidade intelectual para um dos pontos-chaves que distinguem e esclarecem o “racismo à européia” ou “à americana” e o nosso conhecido, dissimulado e disseminado “racismo à brasileira”.

Noto, primeiramente, que Antonil não fala de branco, negro e mulato numa equação biológica. Ao contrário, com eles constrói uma associação social ou normal, pois que relaciona o branco com o purgatório, o negro com o inferno e o mulato com o paraíso. Creio ser a primeira vez que se estabelece um triângulo para o entendimento da sociedade brasileira e isso, sustento, é significativo e importante. O Brasil não é um país dual onde se opera somente com uma lógica do dentro ou fora; do certo ou errado; do homem ou mulher; do casado ou separado; de Deus ou Diabo, etc. Ao contrário, no caso de nossa sociedade, a dificuldade parece ser justamente a de aplicar esse dualismo de caráter exclusivo; ou seja, uma oposição que determina a inclusão de um termo e a automática exclusão do outro, como é comum no racismo americano ou sul-africano. Nós temos um conjunto infinito e variado de categorias intermediárias em que o mulato representa uma cristalização perfeita.

Por que não há duvida alguma de que ele percebeu o valor positivo que associamos ao intermediário, a categoria que fica no meio, ao ser situado entre os extremos e que, por isso mesmo, permite a sua associação e a negação de suas tendências e características antagônicas. Tal associação permite dizer que, no Brasil, ao contrário do que aconteceu em outros países, não ficamos com uma classificação racial formalizada em preto e branco. Desse modo, o nosso preconceito seria muito mais contextualizado e sofisticado do que o norte-americano, que é direto e formal.

O fato de existir uma legislação rígida, racista e dualística nos Estados Unidos, revela esse dualismo claro que indica sem maiores embaraços quem está dentro ou fora, quem tem direitos e quem não tem; quem é branco ou preto. Mas aqui, conforme sabemos, há uma radical exclusão de todas as categorias intermediárias, que são absorvidas, com todos os riscos e penalidades, às duas categorias principais, em franca oposição e em aberta distinção.

Dentro de uma sociedade que tentou eliminar a tradição imemorial das leis implícitas, aquelas que podiam ser aplicadas ou não, que podiam ser lembradas ou não, que podiam variar de acordo com quem praticava o crime ou não, o mulato, o intermediário, representava a negação viva de tudo aquilo que a lei estabelecia positivamente. Ele mostrava o pecado e o perigo da intimidade entre camadas sociais que deveriam permanecer diferenciadas, mesmo que fossem teoricamente consideradas iguais. O que se busca eliminar é a relação, pois a ênfase da ideologia social e dos valores é sempre no papel do indivíduo como centro e a razão de ser da sociedade. A igualdade jurídica e constitucional dos membros da sociedade americana forma uma poderosa tradição que chegou àquele país com os Puritanos ingleses e se consolidou nas doutrinas liberais que marcaram o nascimento e a expansão da sociedade americana como nação. Nesse sistema de indivíduos teoricamente “iguais”, a experiência da escravidão e das hierarquias que ela certamente determina por sua própria natureza enquanto sistema.

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