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Cultura Popular E Cultura Erudita

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Por:   •  18/5/2014  •  3.266 Palavras (14 Páginas)  •  2.601 Visualizações

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Classicismo x modernidade

O século XX marcou, no domínio das artes, a supremacia de duas realidades oriundas de rupturas históricas: de um lado, o fenômeno da arte moderna enquanto transgressão e superação dos cânones estéticos aceitos por nossa civilização desde a Antigüidade Clássica; de outro, o fenômeno da cultura de massa, decorrente do impacto das novas tecnologias sobre os meios de comunicação. Hoje, com a consolidação das conquistas da arte moderna e com o triunfo da cultura de massa, as dicotomiasclássico x moderno e erudito x popular se impõem mais do que nunca.

Na verdade, a cultura ocidental sempre oscilou entre duas grandes dicotomias: a herança clássica, sobretudo greco-romana, em oposição à idéia de modernidade, e a cultura erudita, praticada pela e para a aristocracia, por oposição à cultura popular, de caráter vulgar e plebeu. A primeira dessas dicotomias se coloca, ainda no Renascimento, na forma de um questionamento por parte da classe intelectual, à qual pertenciam artistas, filósofos, pensadores e críticos, quanto ao próprio rumo da cultura européia, recém-saída das brumas da Idade Média. Uma vez rejeitada a ideologia medieval – e suas implicações nas artes –, havia agora dois caminhos a seguir: ou o retorno aos padrões estéticos e filosóficos da Antigüidade Clássica, ou a criação de uma cultura totalmente nova, a partir do nada. Os intelectuais e criadores dos séculos XV e XVI optaram, como se sabe, pelo primeiro caminho.

Assim, se a Idade Média se defrontou com o conflito entre a cultura antiga e os valores judaico-cristãos a ela superpostos, procurando adaptar a filosofia aristotélica aos ditames ideológicos do cristianismo – donde o surgimento da escolástica –, agora o Renascimento vinha sobrepor a cultura antiga aos valores ocidentais originários da Idade Média. Contraditoriamente, o termo Renascimento, aplicado ao movimento artístico e cultural desse período, procurava aludir a um verdadeiro renascer da cultura greco-romana ao mesmo tempo em que a nova fase histórica que ali começava era denominada pelos historiadores como Idade Moderna. Assim, a modernidade era, de fato, a ressurreição da Antigüidade. A consciência da falta de uma identidade legítima para essa cultura que se intitulava “moderna” levou mesmo a embates radicais, como a Querela dos Antigos e dos Modernos, que agitou o cenário literário francês nos séculos XVII e XVIII.

Cultura erudita x cultura popular

Por outro lado, a oposição entre uma cultura erudita ou aristocrática e uma cultura popular ou plebéia permeia toda a história ocidental. Na verdade, o próprio conceito de História está ligado ao do conflito de classes (daí ter Marx proposto que a construção de uma sociedade sem classes, a sociedade socialista, marcaria o fim da História). Assim, a história cultural tem sido marcada desde sempre por essa divisão entre a cultura da elite, considerada, aliás, por muito tempo como a única forma possível de cultura, e a cultura do povo, na verdade vista pela aristocracia dominante como a não-cultura, isto é, como a ausência completa de civilização. Na Roma antiga, essa oposição ficava clara principalmente na literatura e no teatro, em que a língua utilizada pelos escritores para tratar de assuntos nobres e elevados era a língua culta, deixado o sermo vulgaris apenas para o estilo “baixo” da comédia popular. De um modo mais geral, opunha-se a “grande arte”, destinada ao usufruto da aristocracia e, posteriormente, da alta burguesia, ao artesanato e aos folguedos populares, de origem camponesa, vistos sempre como manifestações rudes e toscas de um populacho rude e tosco.

O esgotamento da cultura de inspiração clássica em fins do século XIX, contemporânea da derrocada da nobreza européia e do esfacelamento das últimas monarquias, bem como do advento da civilização industrial e pós-industrial, que tornou a própria arte reproduzível, levou os artistas a proclamarem uma revolução estética que se inicia com a pintura impressionista e que deságua na pluralidade de tendências estéticas que marcou o século XX – os famosos ismos. Com isso, estabelece-se um novo conceito de arte moderna, entendida agora como a arte nascida das vanguardas do início do século XX, por oposição à arte praticada até o século XIX, chamada comumente de arte acadêmica, por ser aquela que se ensinava nas academias de belas-artes.

Indústria cultural e cultura de massa

O advento dos meios de comunicação de massa (cinema, rádio, televisão), decorrente do desenvolvimento tecnológico que permitiu a reprodução em larga escala dos bens culturais (surgimento da fotografia, do fonógrafo, etc.), deu origem à chamada indústria cultural e à cultura de massa. De um modo geral, a cultura que se expandiu através dessas novas mídias foi a cultura popular e não a erudita. Desse modo, o século XX assistiu ao cruzamento das resultantes de duas tensões dialéticas: a cultura moderna e a cultura popular. Por isso, às vezes, as dicotomias clássico/moderno e erudito/popular se confundem: o termo clássico às vezes equivale pura e simplesmente a antigo, tradicional, acadêmico, e às vezes se refere à esfera de cultura erudita (por exemplo, a oposição ainda corrente hoje em dia entre música clássica e música popular de um lado, e entre balé clássico e balé moderno de outro), mas, na verdade, trata-se de oposições diferentes, pois a dicotomia clássico/moderno representa uma oposição fundamentalmente cronológica, ao passo que a dicotomia erudito/popular é de caráter sobretudo sociológico.

A oposição dialética entre tradição e modernidade, vale dizer, entre conservação e mudança, dá origem aos conceitos de vanguarda, arte-padrão e academicismo. Este último caracteriza-se pelo apego fiel à tradição, sem nenhum aspecto de inovação; a vanguarda representa a ruptura com a tradição, a imposição do novo sobre o velho; a arte-padrão é a conciliação entre inovação e tradição, a convivência do novo com o antigo. Assim, toda inovação artística começa por uma ruptura com a tradição, por uma negação dos cânones vigentes. Uma vez sendo aceita socialmente, essa forma de arte inicialmente vanguardista passa a ser o padrão estético, isto é, o novo status quo. À medida que novas rupturas sejam feitas, por meio de novos movimentos de vanguarda, a arte-padrão tende progressivamente a tornar-se conservadora e a ser vista como arcaica. Esse é o ciclo dinâmico das modas estéticas que se sucedem no tempo.

Já a oposição dialética entre elite e massa produz os conceitos de arte erudita (aquela que atende o gosto da elite), arte popular (a que representa o gosto da massa) e arte

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