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Didáticas E Seus Aspectos Contemporaneos

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Por:   •  19/11/2013  •  5.014 Palavras (21 Páginas)  •  247 Visualizações

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1. COMENIUS E OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA: EM FOCO, A GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA

1.1 A Didática Magna – a todos aqueles que presidem as coisas humanas

“Na escola é preciso ensinar todas as coisas que digam respeito ao homem.” (COMENIUS, 2002, p. 101)

Didática Magna tem como proposição mostrar a arte de ensinar tudo a todos, a pansofia de maneira certa e eficiente em todos os lugares, para toda a juventude, sem discriminação de sexo ou classe social, compreendendo a educação de forma global, de modo que “nos anos da primeira juventude, receba a instrução sobre tudo o que é da vida presente e futura, de maneira sintética, agradável e sólida” (COMENIUS, 2002, p. 11).

A obra é dedicada a “todos que presidem as coisas humanas”, ou seja, aos governantes, aos pastores de igreja, aos diretores de escola, aos pais e aos preceptores, ressaltando a educação como mola propulsora para o desenvolvimento do gênero humano e mecanismo de reforma social e de transcendência. Assim pronuncia-se Comenius a respeito da finalidade da escola:

[...] Digo que corresponde a seus fins a escola que seja uma verdadeira oficina de homens: onde as mentes dos discentes sejam iluminadas pelo fulgor do saber para penetrar facilmente todas as coisas secretas e manifestas [...] onde os espíritos e suas paixões sejam encaminhados para a harmonia universal das virtudes, onde os corações ardam de amor pela divindade [...] Numa palavra, onde todos aprendam totalmente tudo. (COMENIUS, 2002, p. 103)

A partir da explicitação de seu projeto de escola em que tudo seja ensinado a todos e todos aprendam tudo, o pedagogo morávio critica duramente as escolas que ministram um ensino inerte e confuso, não atendendo aos seus fins, e considera que “as escolas geralmente são consideradas espantalhos para crianças e tortura para a mente: a maior parte dos alunos, enojada da cultura e dos livros, precipita-se para as lojas dos artesãos ou para alguma outra ocupação” (COMENIUS, 2002, p. 105).

O ideal pansófico – ensinar tudo a todos – alicerça-se nas ideias de que todo homem em sua essência é apto a conhecer, concebe que todos os seres humanos são dotados de capacidades, potencialidades e inclinação para aprender, mas que necessitam ser formados e instruídos, e atribui à educação um papel fundamental: “Fique estabelecido, pois, que a todos os que nasceram homens a educação é necessária, para que sejam homens e não animais ferozes, não animais brutos, não paus inúteis.” (COMENIUS, 2002, p. 76)

A análise da totalidade da obra possibilita afirmar que Comenius concebia que a educação tem como pressuposto fundamental a educabilidade do ser humano, que se coloca em movimento por meio da ação educativa e, portanto, que o homem aprende em contato com os outros homens. Em diferentes passagens do livro, ele considera a dimensão individual e coletiva ou social da educação, compreendendo-a como ampliação do universo cultural do indivíduo e instrumento de mudança da sociedade. Em outras palavras, pode-se afirmar que Comenius considera que o homem aprende a ser homem por meio da educação, e que esta deve ser assumida por toda a sociedade. Diz ele:

[...] a arte das artes está em formar o homem, o mais versátil e mais complexo de todos os animais [...] ensinar a arte das artes é, portanto, tarefa árdua, que requer juízo atento não só de um homem, mas de muitos, porque ninguém pode ser tão atilado que não lhe escape muitas coisas. (COMENIUS, 2002, p. 14-15)

Partindo da crença no potencial de educabilidade do ser humano, e considerando a educação como responsabilidade de toda a sociedade, Comenius defende sua tese de garantir a instrução para todos sem discriminação de sexo, classe social ou faixa etária, proposta avançada para uma época em que ainda predominava uma educação elitista e quase exclusivamente masculina.

Se alguém perguntasse: o que acontecerá se os operários, os camponeses, os almocreves e até as jovens mulheres adquirirem cultura? Eu responderia: acontecerá que, instituída com meios apropriados essa educação universal da juventude, a ninguém faltará matéria para refletir, para propor-se e perseguir fins, e para agir. Cada um saberá para onde dirigir todas as ações e os desejos da vida, que caminhos trilhar e como conservar o seu próprio lugar [...]. (COMENIUS, 2002, p. 92-93)

Podemos identificar nessa argumentação de Comenius o caráter político e inclusivo de seu projeto, no qual se vislumbra que o processo de educação compreende uma apropriação da cultura da humanidade e, portanto, possibilita ao homem tornar-se sujeito de sua vida, fazendo suas escolhas. Neste sentido, ele coloca a escola como “oficinas da humanidade”, que transformam os homens em homens de verdade, ou seja (visando aos fins já estabelecidos): 1) uma criatura racional; 2) uma criatura senhora das criaturas (inclusive de si mesma); 3) uma criatura deleite do seu criador. Isso acontecerá se as escolas se esforçarem por tornar os homens sábios na mente, prudentes nas ações, piedosos no coração. (COMENIUS, 2002, p. 96)

A educação é compreendida muito além do que mera transmissão de conhecimentos, evidenciando sua dimensão integral para a formação do homem em sua materialidade e transcendência, integrando as dimensões intelectual, cultural e espiritual, propondo ainda que os conteúdos ensinados fossem articulados à vida, como explicita claramente abaixo:

Por isso, nas escolas deverão ser ensinadas não só as letras, mas também a moral e a piedade. As letras refinam o intelecto, a língua e a mão do homem, para que ele possa contemplar, falar e obrar de modo racional em todas as coisas úteis. Se for esquecida uma dessas funções, haverá hiato que não só será pernicioso para a instrução, mas também será capaz de infirmar a solidez do processo educativo. Porque nada pode ser sólido se não for coerente em todas as suas partes. (COMENIUS, 2002, p. 186)

As proposições apresentadas por Comenius sobre a educação e as funções da escola possibilitam afirmar que o educador explicita de maneira enfática o duplo caráter da educação: individual e social. O aspecto individual é evidenciado na medida em que propõe que a escola tenha um método de ensino eficaz para ensinar a fim de favorecer a ampliação de conhecimentos e a formação de valores e atitudes dos alunos, potencializando suas capacidades. No que tange à dimensão social, ele deixa clara sua posição ao conceituar a escola como oficina de homens.

2 O IDEAL PANSÓFICO – A PROPOSTA DO MÉTODO UNIVERSAL

“Que a

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