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Economia E Política Na Crise Global

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Por:   •  15/12/2013  •  928 Palavras (4 Páginas)  •  645 Visualizações

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Economia e política na crise global

Otavio Soares Dulci

A crise começou sorrateira, provocada pelo furo da bolha imobiliária nos Estados Unidos. Estávamos em meados de 2007, e o que parecia ser um desarranjo setorial – hipotecas concedidas sem garantias suficientes – era visto pelo resto do mundo como um problema norte-americano. Porém, logo se constatou que em torno das hipotecas se erguera uma monumental engrenagem financeira, com títulos sobre títulos que funcionavam numa dinâmica especulativa desvinculada do valor real dos bens a que se referiam na origem. O tamanho do problema crescia a cada nova notícia sobre o envolvimento dos bancos e dos investidores de várias partes do mundo nesse jogo sem medidas.

No Brasil, enquanto isso, o ambiente econômico brilhava de forma inédita. O ano de 2007 foi de grandes projetos, governamentais e privados, anunciados numa atmosfera de otimismo que se estendeu para 2008, com maior vigor até. Não se ignorava, por certo, o andamento da crise financeira em outros países, mas sua influência sobre o Brasil e outros países ditos “emergentes” era considerada residual. Durante um bom tempo, predominou na discussão o tema do descolamento das economias emergentes em face da crise nos países centrais.

Dada a crescente integração de tais economias ao capitalismo global, não seria razoável imaginar que elas ficassem imunes às turbulências. O que se buscava avaliar era o grau de seu descolamento, supondo-se que o impacto da crise ocorre diferentemente segundo as características e as circunstâncias de cada país. Esse é um aspecto de grande importância na análise do processo, até mesmo para orientar as políticas governamentais e as decisões dos agentes privados. Assim, no caso do Brasil, que nos interessa mais de perto, faz sentido aferir suas condições específicas, os fatores de vulnerabilidade e as vantagens comparativas com que o país pode contar em cenário tão instável.

Observa-se que o Brasil ficou relativamente protegido do desastre do sistema financeiro nos Estados Unidos e na Europa, graças à solidez de seus bancos e à melhor supervisão dos órgãos públicos encarregados desse setor. Esses, a começar do Banco Central, se revelaram mais estruturados e focados do que seus congêneres em diversos países importantes. Além disso, as regras brasileiras não facilitam o jogo de papéis que levou tantos bancos tradicionais em outros países ao delírio e em seguida à insolvência. Assim, pelo lado das instituições, temos vantagens que foram construídas ao longo do tempo – os muitos anos de aprendizado no combate à inflação, em busca da estabilidade da moeda, resultando nas cautelas que hoje nos ajudam a atravessar a tempestade.

Pelo lado da produção e do comércio, porém, a crise atingiu gradual-mente os países emergentes em duas vertentes: uma, a do crédito, que ficou difícil, caro e eventualmente paralisado, no mercado interbancário e no fluxo dos bancos para as empresas; outra, a da queda de preços dos produtos básicos de exportação, ou commodities, matérias-primas e alimentos que, por sinal, haviam atingido elevadas cotações no começo de 2008.

Com efeito, o preço do petróleo chegou às alturas, o álcool combustível ganhou destaque como alternativa, e daí se desencadeou um debate global a respeito da inconveniência do cultivo da cana em larga escala, pelo seu impacto ambiental e, especialmente, pela pressão que os canaviais causariam sobre a oferta de alimentos. Usar a terra para alimentar motores em vez de alimentar gente é uma ideia chocante, sem dúvida, mas, se a discussão envolvia bons argumentos, estava também influenciada por múltiplos interesses, entre os quais os das indústrias de combustíveis fósseis, competidoras dos biocombustíveis. De todo modo, os acontecimentos evoluíram com tal rapidez que a polêmica sobre a falta de alimentos parece hoje tão remota que provavelmente será esquecida na narrativa da crise – até que o problema reapareça,

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