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Fabricação De Sofrimentos

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Por:   •  16/4/2014  •  Projeto de pesquisa  •  6.076 Palavras (25 Páginas)  •  167 Visualizações

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TRABALHO – Fabricação de sofrimentos?

CARDOSO, J. C. Aguiar*

INTRODUÇÃO

O presente escrito trata-se de uma resenha crítica a respeito do livro “A Loucura do Trabalho”, de Christophe Dejours, e de temas aborda dos em aulas e estudos individuais do curso de Especialização em Psicologia Organizaciona l (FACID/FIEPI, Teresina-PI, 2006). É de se presumir que o texto apresenta limitação, poi s mostra de modo sucinto o eixo essencial da obra sob um prisma interpretativo. Explica-se inevitável que outros estudos sejam também citados, bem como exemplos de conhecimento do autor que tenham alguma relação com o tema ora enunciado a partir do citado livro.

As páginas a seguir apresentam, de forma resumida,uma percepção acerca de parte do conteúdo da obra de Dejours, na qual traz o tema da “psicopatologia do trabalho”. Observou-se que o livro tanto contém comentários históricos quanto questões contemporâneas sobre o sofrimento humano em relação ao trabalho, t udo com o objetivo de demonstrar que a organização do trabalho exerce forte impacto sobre o “aparelho psíquico” do homem.

Inicia-se assim essa resenha buscando os conceitos dos vocábulos “Trabalho” e “Loucura”. De acordo com um dicionário de língua portuguesa, trabalho é “s.m. 1. Exercício material ou intelectual para fazer ou conseguir alguma coisa. 2. Esforço, labutação, lida, luta.

3. Esmero que se emprega na feitura de uma obra” e loucura é “s.f. 1. Estado de quem é louco. 2. Med. Desarranjo mental; demência; psicose. 3. Ato próprio de louco. 4. Insensatez.” (Michaelis, CD-ROM Uol, 2003).

Sabe-se que a expressão “loucura” em muitas obras t em conotação positiva: Erasmo de Roterdã, por exemplo, escreveu no século XVI uma obra enaltecendo suas qualidades – O Elogio da Loucura e o apóstolo Paulo , em suas cartas bíblicas, incentiva os cristãos a aderirem ao que ele designou de “a santa loucura”. Mas na obra de Dejours e, por conseguinte, aqui neste trabalho, a “loucura” é abo rdada em seu aspecto negativo (e de certa

*José Carlos Aguiar Cardoso, o autor deste estudo interpretativo, é graduado em Administração com especialização em Psicologia Organizacional (FACID/ PI) e Padrões Internacionais de Auditoria Interna (UCB/DF), natural de Teresina-PI, atualmente exerce a função de auditor interno em um banco público, t em 47 anos de idade e reside na cidade de Fortaleza.

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forma metafórico ou hiperbólico), pois o termo será utilizado para designar sofrimento, patologia ou síndrome mental no contexto do trabalho.

Quanto ao termo “trabalho” é necessário ponderar que, numa visão isolada, é um assunto que provoca polêmica. Os empreendedores, por exemplo, o exaltam. Alguns idealistas, idem. Houve época na história humana em que a formação e educação do ser humano eram-lhe completamente atribuídas. O ideal das famílias era formar homem trabalhador e mulher prendada e quem não se ajustas se a esse paradigma seria rotulado de

preguiçoso. Assim, os momentos de “não trabalho” sã o julgados como casos de “preguiça”.

Atualmente, uma corrente de pensadores propõe uma f orma diferente de enxergar os momentos de não trabalho. Domenico de Masi parec e ser um dos maiores expoentes dessa corrente, com a publicação do livro “Ócio Criativo” . Mas bem antes dele, na década de 1930, o inglês Bertrand Russel publicara “O Elogio ao Óci o” (uma das publicações feitas no Brasil ocorreu em 2002 pela Editora Sextante). Russel já efendia que o trabalhador necessitava diminuir sua carga de trabalho para que pudesse ter tempo para se dedicar também às artes, ao lazer e outras atividades prazerosas. Em uma épocaem que a maioria dos trabalhadores tinha um carga de 12, 14 ou 16 horas por dia, ele insistia que

[...] quatro horas diárias de trabalho deveriam sersuficientes para dar às pessoas o direito de satisfazer as necessidades básicas e osconfortos elementares da vida, e que o resto de seu tempo deveria ser usado da maneira que lhe parecesse mais adequada. [...] Uma condição fundamental de um tal sistema social é que a educação ultrapasse as suas atuais fronteiras e adote como parte de seus objetivos o cultivo de aptidões que capacitem as pessoas a usar seu lazer de maneira inteligente.(RUSSEL, 2002. p.33).

É possível intuir que as idéias não foram bem aceit as na sua época, haja vista a

conotação difundida de que “ócio” seria sinônimo de “preguiça” e historicamente a preguiça

tem sido vista como algo abominável pelas organizações, especialmente as organizações religiosas, grandes influenciadoras na formação dos alicerces conceituais das pessoas.

A propósito do tema “trabalho”, nunca se falou tant o em empreendedorismo, cultura empreendedora e intraempreendedorismo nos diversos tipos de organizações como nos nossos dias. Continua se percebendo um verdadeiro culto ao trabalho. “Deus ajuda a quem madruga” está impregnado nas cabeças de todo mundo. “Quem não trabalha não come”

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parece atemorizar muita gente ainda hoje. E o cinema, em vários filmes, difunde uma cultura workaholic, promove uma necessidade de um trabalho árduo. O emat muitas vezes não é tratado diretamente, mas as metáforas das batalhase guerras são muito eloquentes. E até em letras de músicas pode ser observado o incentivo: “Vamos ao trabalho, vamos ao trabalho/ E só há uma maneira de fazê-lo/ direito, bem feito/ eS não, é melhor nem começar.” (Titãs, 2001).

Pois é nesse contexto que se procede à análise sumária da obra de Dejours, feita de uma forma crítica, propiciando uma opinião de qu e há muitas forças contribuindo para as situações de sofrimento no trabalho. E muitas vezes esse sofrimento é provocado pelo próprio estado mental do trabalhador e não somente por forç as externas. A partir do próximo item, apresenta-se um resumo dos assuntos tratados no livro e somente no item “Reflexões Finais” é emitida uma opinião sobre o tema abordado pelo autor da obra analisada.

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