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O Papel Da ACS Na Saúde Bucal: Uma Revisão Integrativa

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Por:   •  18/9/2014  •  4.365 Palavras (18 Páginas)  •  1.771 Visualizações

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O papel da ACS na Saúde Bucal: uma revisão integrativa

Elisângela Aparecida Serafim Lagler

RESUMO

Este estudo tem como objetivo verificar como é o trabalho em saúde bucal do Agente Comunitário de Saúde (ACS). Para isso utilizou-se de uma revisão de literatura, na sua maioria qualitativa, com o intuito de compreender o quanto os ACS reconhecem sua importância nesse trabalho, e o quanto se sentem capacitados para tal. Os resultados apontam para a falta de vínculo entre a Equipe de Saúde Bucal (ESB) e os ACS e também para a falta de conhecimento de suas atribuições junto a saúde bucal. Pôde-se concluir que para melhor efetividade do trabalho dos agentes em saúde bucal deve haver mais cursos de capacitação específica para esse assunto e maior comprometimento dos Cirurgiões Dentistas (CD) com a democratização de seus conhecimentos.

DESCRITORES: Saúde Bucal, Agente Comunitário de Saúde e Programa Saúde da Família.

INTRODUÇÃO

O Programa Saúde da Família (PSF) teve como antecedente o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), com início em 1991, onde já se trabalhava a família como centro das ações programáticas. Os bons resultados desse programa levaram a busca da ampliação e maior resolutividade das ações e assim, começaram a ser formadas as primeiras Equipes de Saúde da Família (ESF)¹.

O PSF foi introduzido no Brasil em 1994 pelo Ministério da Saúde (MS) com o objetivo de reorganizar as práticas de saúde na atenção básica, com foco na família. Posteriormente foi denominado como estratégia, reafirmando os princípios básicos do Sistema Único de Saúde (SUS): universalidade, descentralização, integralidade, equidade e participação da comunidade.²

A inserção da odontologia só aconteceu em 2000, quando se viram diante da necessidade de ampliar a atenção em saúde bucal; estabeleceu-se assim, incentivo financeiro para a formação de Equipes de Saúde Bucal (ESBs) compostas por Cirurgião Dentista (CD), Auxiliar de consultório dentário (ACD) e Técnico em higiene dental (THD).³

O ACS, como percursor dessa estratégia, tornou-se um novo ator político dentro da atenção primária a saúde (APS) e de sua reorganização.4 A ação do ACS é voltada a reforçar o vínculo entre a comunidade e o sistema de saúde, contribuindo para maior efetividade das ações de promoção da saúde, prevenção das doenças e assistência individual.5

Em particular, o ACS exerce funções de grande importância ao estar sempre em contato com a equipe, a população e no vínculo com os usuários, sendo ele, membro da própria comunidade. Apesar da não-exigência de formação técnica, suas principais funções estão ligadas a identificação de problemas e distúrbios de saúde na população, tendo a necessidade de conhecimentos básicos e gerais de saúde, relacionando-os a saberes específicos de cada área, entre elas Saúde Bucal.6

OBJETIVO

O objetivo do trabalho foi realizar uma revisão integrativa da literatura sobre a importância dos ACS no contexto do PSF na promoção , prevenção e orientações em relação a Saúde Bucal e avaliar o preparo destes profissionais para atuar neste campo. No desempenho cada vez melhor de suas funções, os ACS necessitam de capacitações e treinamentos adequados, que incluam desde procedimentos técnicos até o desenvolvimento de atividades educativas e preventivas junto à população, além de ensinamentos e encaminhamentos pertinentes.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este estudo é uma revisão integrativa da literatura que buscou responder a seguintes questões norteadoras: “Os agentes comunitários de saúde estão preparados para atuar na Saúde Bucal? Qual a percepção dos atores da saúde sobre este tema? Quais fatores podem ser mudados para tornar essa atuação efetiva?” Em busca dessas respostas seguiram-se as seguintes etapas: estabelecimento da hipótese e objetivos da revisão integrativa; estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão de artigos (seleção da amostra); seleção dos artigos, definição das informações a serem extraídas dos artigos selecionados; análise dos resultados e discussão.

As buscas foram realizadas no período de 2005 a 2011, nas bases eletrônicas de dados que contemplam artigos em português, Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). O uso dessas bases de dados visou minimizar os possíveis vieses no processo de elaboração da revisão integrativa.

Nas bases de dados utilizadas fez-se a busca com os seguintes termos: Agente comunitário de Saúde [Descritor de assunto] and saúde bucal [Descritor de assunto] and Programa Saúde da Família [Descritor de assunto].

Incluiram-se artigos que abordavam sobre agentes comunitários de saúde e saúde bucal publicados em português, com os resumos disponíveis nas bases de dados selecionadas, no período compreendido entre 2005 a 2011 independente do método de pesquisa utilizado. Adotou-se, como critério de exclusão, artigos que não atendiam aos objetivos dessa revisão intergrativa, aqueles que não estivessem disponíveis on-line ou em bibliotecas nacionais ou que não apresentassem resumo nas bases de dados.

Foram identificados no Scielo 7 artigos, sendo 5 elegíveis para análise, os demais tratavam de outros temas e assim, foram excluídos. Na base de dados LILACS identificou-se 6 artigos, sendo 4 elegíveis para análise, 2 deles foram excluídos, pois tratavam de outros assuntos. Também foi encontrado 1 artigo na Base de dados de Enfermagem BDNF elegível para análise; os 4 artigos encontrados na base de dados do LILACS também estavam presentes na base Scielo. Portanto, a amostra final foi constituída de 10 artigos.

Além da busca em bases eletrônicas de dados de artigos científicos, foram selecionados documentos oficiais do Ministério da Saúde

RESULTADOS

Os artigos selecionados foram publicados no período de 2001 a 2011 estando a maior parte das publicações a partir do ano de 2009. Em relação ao tipo de estudo todos os artigos analisados eram descritivos.

Na tabela abaixo apresenta-se a sítese dos artigos incluídos na presente revisão integrativa.

Tabela 1 – Apresentação da síntese de artigos incluídos na revisão integrativa.

Título do Artigo Autores Objetivo do estudo Resultados Conclusões

O trabalho em saúde bucal do Agente Comunitário de Saúde em Unidades de Saúde da Família Koyashiki, GAK; Alvez-Souza, RA; Garanhani, ML.

Estudo descritivo com abordagem qualitativa O estudo buscou compreender o trabalho em saúde bucal do Agente Comunitário de Saúde (ACS) em Unidades de Saúde da Família (USF) Este estudo foi apenas uma maneira de desencadear processos de reflexão e de melhora, um modo de começar. Para que os ACS respondam satisfatoriamente as expectativas em promoção de saúde bucal e, também geral, se faz necessário formação de forma continuada para aquisição de novas competências e habilidades.

Agente Comunitário de Saúde: o ser, o saber, o fazer. Silva, JA; Dalmaso, ASW.

Estudo descritivo. Tem por objeto de estudo a compreensão do agente comunitário de saúde, uma nova profissão. O estudo evidenciou que a proposta do PSF ainda não amadureceu o suficiente as questões referentes a organização do trabalho na unidade e em equipe que integrasse o conjunto dos profissionais. Os ACS quando motivados respondem as necessidades da comunidade e interagem com os outros profissionais de saúde tornando-se assim, um trabalhador único na saúde.

Efetividade de programa de

agentes comunitários na

promoção da saúde bucal Frazão, P;

Marques, DSC.

Estudo descritivo qualitativo Avaliar mudanças em conhecimentos, atitudes e acesso/utilização

de serviços odontológicos decorrentes de um programa de promoção da saúde

bucal com agentes comunitários de saúde. Foram observadas diferenças estatisticamente significativas

para questões relativas ao conhecimento de saúde bucal entre os agentes e entre as mulheres antes e depois da capacitação (p<0,05). Desequilíbrio entre o número de escovas e de indivíduos em cada família diminuiu. A frequência da escovação e do uso do fio dental se elevou depois da atuação dos agentes. Os valores de auto avaliação da higiene bucal aumentaram. Modificação nas práticas e capacidades auto referidas mostrou significativa elevação da autoconfiança. O acesso ao serviço foi mais fácil (p<0,000) e seu uso mais regular

(p<0,000) entre mulheres. Houve mudanças positivas na percepção em relação a aspectos de saúde bucal, na auto confiança e no acesso e uso de serviços odontológicos. Tais mudanças podem ser um importante indicativo do papel dos agentes comunitárioa de saúde na promoção de saúde bucal.

Reflexões acerca da atuação do agente comunitário de saúde

nas ações de saúde bucal Holanda, ALF; Barbosa, AAA;

Brito, EWG.

Estudo descritivo Este trabalho objetiva mostrar a experiência do curso de qualificação do ACS, que possibilitou a diversidade de categorias profissionais de nível superior, na docência. O curso contou com três docentes odontólogos; nele, foi possível para o ACS reconhecer outros atores como participantes da equipes de saúde bucal. Os docentes também tiveram suas práticas modificadas, uma vez que passaram a entender melhor a angústia e limitações dos ACS, muitas vezes ignoradas. O papel das escolas formadoras é essencial para o enriquecimento em conhecimento dos ACS e também importante para que os cirurgiões-dentistas sejam capacitados para entender, valorizar e desenvolver esse trabalho em equipe, saindo do modelo tecnicista e biologista visando a proposta de trabalho que entenda o indivíduo e a sociedade em seus múltiplos aspectos.

O Conhecimento dos Agentes Comunitários sobre Saúde Bucal: uma perspectiva sobre deficiências em educação em saúde no PSF. Pires, ROM; Neto, FL; Bueno, SMV.

Estudo descritivo. Objetiva apreender os conhecimentos que os ACS possuíam e se eles

consideravam importantes esses conhecimentos. Também se objetivou a perspectiva dos CDs quanto à

atuação do ACS na saúde bucal. Os resultados apontam para a valorização da saúde bucal como um tema relevante para a prática do ACS, assim como para a existência de deficiências nesta capacitação, embora existam profissionais de nível superior qualificados para tal que, contraditoriamente, acreditam que os ACSs podem contribuir de forma significativa para a melhoria das condições de saúde bucal da população. A necessidade de reformulação da formação dos recursos humanos em saúde da família é a primeira conclusão a ser levantada do exposto. Na medida em que se faz premente um conhecimento interdisciplinar oriundo da

prática, a formação tradicional do profissional

de saúde deve ser questionada.

Os desafios dos Agentes Comunitários de Saúde em

relação à saúde bucal em município de pequeno porte Vasconcelos, M; Cardoso, AVL; Abreu, MHNG.

Estudo descritivo e qualitativo O objetivo dessa pesquisa foi conhecer ações desenvolvidas pelos Agentes Comunitários de Saúde

(ACS) acerca da saúde bucal, avaliar suas percepções e interesses

sobre esta prática, além de identificar as formas de aquisição destes conhecimentos. Alegam, nas entrevistas, não possuírem capacitação acerca da saúde bucal, não desenvolvendo nenhuma ação referente ao assunto no município, pela falta de conhecimento sobre o tema. Nas visitas domiciliares, abordam o tema quando visualizam algum problema evidente na população ou quando as pessoas perguntam sobre o assunto. Não possuem nenhum recurso para trabalhar a saúde bucal com as famílias, encontrando como grande

dificuldade na vivência do seu trabalho a falta de conhecimento sobre o tema saúde bucal Poucos ACS conseguem relacionar saúde bucal como parte integrante da saúde do indivíduo como todo, sendo

muitas vezes relacionada com higiene oral e patologias bucais, e portanto viu-se necessário curso de capacitação sobre organização da

atenção básica em saúde bucal e sobre temas relevantes na odontologia.

O agente comunitário de saúde:

construção da identidade desse

personagem híbrido e polifônico Nunes, MO; et al O presente artigo analisa o processo de construção de identidade dos agentes comunitários

de saúde (ACS) a partir de sua inserção na equipe do Programa de Saúde da Família e da interação com os moradores dos bairros onde atuam. as expectativas depositadas em torno da participação dos ACS

inscrevem-se em um verdadeiro “fogo cruzado”, onde demandas às vezes paradoxais se superpõem.

Assim, enquanto a comunidade o

inscreve em uma demanda de tipo predominantemente pessoal, a equipe de saúde espera do mesmo uma prática mais técnica e pedagógica. Pode-se dizer que o fato de ser o ACS uma pessoa que convive com a realidade e as práticas de saúde do bairro

onde mora e trabalha, e ser formado a partir de referenciais biomédicos, faz deste um ator que veicula as contradições e, ao mesmo tempo, a possibilidade de um diálogo profundo entre esses dois saberes e práticas.

A inserção da saúde bucal no Programa

Saúde da Família: da universidade

aos pólos de capacitação Matos, PES; Tomita, NE O objetivo deste trabalho foi verificar a concepção de formadores e estudantes de Odontologia sobre a atuação do cirurgião-dentista no Programa Saúde da Família (PSF) e oferecer contribuições para sua qualificação em Pólos de Educação Continuada. Após a organização dos Discursos do Sujeito Coletivo por grupo focal, observou-se que tanto Formadores como Estudantes apresentam conceitos em construção sobre a atuação do cirurgião-dentista na saúde coletiva. Há necessidade de maior

envolvimento do ensino superior com os serviços públicos de saúde, de modo a complementar algumas lacunas na formação e na prática dos cirurgiões-dentistas no PSF.

O desenvolvimento das políticas públicas de saúde

no Brasil e a construção do Sistema Único de Saúde. Roncalli, AG Entender como se deu este desenrolar histórico da construção do SUS e discutir quais são

suas perspectivas atuais, tendo em vista as profundas transformações no campo da economia

e das políticas públicas no Brasil e no mundo. O fato do PSF se colocar como um programa paralelo (por mais que o discurso governamental insista no contrário) conduz a algumas armadilhas. Entre elas, a de considerar a atenção básica médico-centrada como única forma de atuação realmente impactante,

uma espécie de reificação do generalista. Uma vez que o PSF propõe uma mudança de ordem estrutural, mesmo que pressupondo um trabalho com equipe multiprofissional, não há garantias de que se rompa com o modelo de prática hegemônico centrado na figura do médico. Em linhas gerais, portanto, ao que tudo indica a incorporação da estratégia/programa de

Saúde da Família ao modelo assistencial brasileiro parece ser um caminho sem volta. De que forma será dada essa incorporação e qual tendência seguirá ainda não há como saber.

O trabalho do agente comunitário de saúde Documento oficial do Ministério da Saúde. O Ministério da Saúde reconhece que o processo de qualificação dos agentes deve ser permanente. Nesse

sentido, apresenta esta publicação, com informações gerais sobre o trabalho do agente, que, juntamente com o Guia Prático do ACS, irá ajudá-lo no melhor desenvolvimento de suas ações.

. A evolução da atenção à

saúde no Brasil: o contexto da saúde bucal Groisman, S; Moraes, NM; Chagas, LJ Este estudo tem como objetivo estudar a evolução da atenção a saúde no Brasil, em saúde bucal È necessária uma mudança no perfil do profissional, passando de uma atuação apenas cirúrgico-restauradora para uma visão mais ampla, que permita atuar em todos os níveis, principalmente no social. O profissional do PSF não pode atuar como especialista, pois deve atender à população que necessita de atendimento em todos os níveis.

DISCUSSÃO

Importância das ACS na Saúde Bucal

A criação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS)¹, pelo Ministério de Saúde, foi uma das primeiras estratégias relacionadas à mudança do modelo de assistência à saúde, principalmente porque a partir desse programa começou a haver um intermediário entres comunidades e os serviços de saúde.

Autores4 descrevem que a partir do PACS, o ACS tornou-se um elemento efetivo do trabalho em saúde e um ator essencial no cenário da estruturação e reestruturação da atenção básica em saúde, visando especialmente a ampliação da cobertura assistencial, com aumento do acesso a partir do acolhimento feito por ele, identificando, encaminhando e dando resolubilidade às necessidades de saúde da população.

Há poucos estudos sobre como se desenvolvem as práticas de saúde bucal nos serviços odontológico públicos no Brasil. Os trabalhos desenvolvidos nos anos 90, investigaram algumas intervenções municipais exitosas de reorganização das ações odontológicas no setor público em Curitiba(Paraná), Campinas (São Paulo), Belo Horizonte e Ipatinga (Minas Gerais). Nesses casos, o principal fator relacionado ao êxito tem sido o apoio do governo local. Esses estudos apontam para a importância da investigação também dos componentes da gestão municipal mais favorável para o desenvolvimento da atenção à saúde bucal pública do país. De alguma maneira, como prática hegemônica, a atenção individual em consultório tem incorporado uma perspectiva mais preventiva (orientação de escovação na cadeira odontológica, maior atenção à condição de higiene oral do paciente) na medida em que complementa o modelo preventivo.¹

Embora a utilização do Agente Comunitário de Saúde (ACS) tenha muitos pontos positivos, tanto com uma atuação isolada desde o PACS quanto hoje, inserido no Programa Saúde da Família (PSF), se for feita uma análise geral, ainda continua grande a insatisfação, tanto profissional como popular. O profissional que trabalha com a saúde pública sabe ou precisa saber o quão é importante o trabalho dos ACS, principalmente porque eles são os pilares dos programas de saúde voltados para a atenção básica, instituídos pelo governo, servindo de comunicadores e tradutores desses programas para a população, além de serem um elo de ligação entre os outros profissionais e a comunidade.6 Encontram-se de forma privilegiada na dinâmica de implantação e consolidação de um novo modelo assistencial, centrado no paradigma da promoção de saúde e a percepção desses agentes em relação à realidade de cada comunidade é ponto fundamental para processo educativo e participativo da população.7

Atribuições dos ACS

O Ministério da Saúde8 descreve as atribuições específicas do ACS potencializado pelo contato permanente, agindo tanto no trabalho de vigilância e promoção de saúde, quanto no trabalho educativo, uma vez que faz a ponte entre o saber científico e o saber popular. Ele deve informar o dentista sobre os principais problemas de saúde bucal que ocorrem nas famílias, saber orientar sobre higiene bucal, marcar consultas, orientar sobre pacientes acamados, localizar espaços sociais que possibilitem ações educativas em saúde bucal, explicar a população como é a saúde bucal no Programa de Saúde da Família , colaborar junto com o dentista no levantamento sobre a realidade geográfica e demográfica de sua micro-área para que o mesmo possa realizar o diagnóstico com a finalidade de obter o perfil epidemiológico para planejamento e a programação em saúde bucal, participar das ações coletivas para a promoção de saúde e a prevenção das doenças bucais. Orientar as famílias quanto à utilização dos serviços de saúde bucal disponíveis na atenção básica e acompanhar por meio de visitas domiciliares as famílias e os indivíduos sob sua responsabilidade, de acordo com as necessidades definidas pela equipe de saúde bucal também faz parte das atribuições dos ACS. Quanto mais ampla for a abrangência de atuação dos agentes junto às famílias, melhores serão os resultados.

Necessidade de Capacitações

Após trabalho de avaliação destes profissionais constataram que os ACSs podem contribuir de forma significativa para a melhoria das condições de saúde bucal da população e que existe deficiências nesta capacitação, embora tenhamos profissionais de nível superior qualificados para tal.6

Outros autores concordam que para desempenhar cada vez melhor suas funções, os ACS necessitam de capacitações e treinamentos adequados, que incluam desde procedimentos técnicos, até o desenvolvimento de atividades educativas preventivas junto à população, além de ensinamentos para que possam transmitir de forma decodificada alguns saberes que envolvem a Medicina como um todo.7

Em estudo realizado na cidade de Teresina/PI descreveram em seu trabalho que os agentes mostraram certo grau de insatisfação com relação à equipe, pois não tinham uma boa comunicação o que dificultava a transmissão de conhecimentos de ambos os lados.9

Em pesquisas com ACSs quanto à realização de capacitação em saúde bucal para seu trabalho em Saúde da Família, 34 dos entrevistados (65,38%) nunca participaram de qualquer ação neste sentido; 9 (17,31%) assistiram a uma palestra de uma hora realizada pelos CDs para escolares; 5 (9,61%) acompanharam as instruções dadas pelos CDs em visitas domiciliares à população adscrita, no transcorrer de uma semana; 2 (3,84%) tiveram um momento de orientação a este respeito com a enfermeira; 1 (1,92%) assistiu a filme do Ministério da Saúde destinado à capacitação de ACSs em saúde bucal; e um participou de curso de capacitação de agentes da vigilância sanitária de duração de 150 horas, para fiscalização de serviços odontológicos. A boa escolaridade, atrelada a Outros indícios que corroboram essa reflexão é que 65,38% dos ACSs nunca apresentaram qualquer capacitação durante seu trabalho no PSF e 17,31% assistiram apenas a uma palestra dirigida a escolares; em paralelo, 51,92% mencionaram ações específicas de higiene oral como uma possibilidade de atuação e os demais não as descriminaram, um indício aparente de que estes ACSs atuam pelo próprio conhecimento. Uma atuação mais efetiva destes profissionais, capacitados, em relação à saúde bucal, pode ser de grande impacto na comunidade.6

Consideram que para que o ACS responda satisfatoriamente às expectativas que lhes são apresentadas diante do exercício profissional, considera-se de fundamental importância o seu aprimoramento técnico-científico, de forma continuada, visando ao desenvolvimento de suas potencialidades e aquisição de novas competências e habilidades, as quais são exigidas pelo mercado e convívio globalizados.10

Com a finalidade de melhorar o conteúdo dos cursos de qualificação direcionados ao ACS, autores orientam que as experiências, os temas da realidade local dos ACS e os temas inerentes à política nacional de saúde estejam contemplados no processo pedagógico, apontando para a necessidade de qualificação periódica.11

CONCLUSÃO

A origem do Programa Saúde da Família ou PSF, teve início, em 1994, como um dos programas propostos pelo governo federal aos municípios para implementar a atenção básica. O PSF é tido como uma das principais estratégias de reorganização dos serviços e de reorientação das práticas profissionais neste nível de assistência, promoção da saúde, prevenção de doenças e reabilitação, onde a atuação doa ACS é de suma importância.

Em relação à capacitação destes profissionais, nota-se que embora a maioria dos agentes tenha recebido capacitações as mais diversas possíveis, ainda anseiam por mais educação continuada que os manteriam atualizados, além de outros cursos, como o de auxiliar de enfermagem e relações humanas que, segundo eles, melhorariam cada vez mais o seu desempenho profissional. Dados apontam para o problema da formação de recursos humanos em saúde, como no caso dos CDs, que podem capacitar os ACSs, mas não o fazem. O comprometimento dos dentistas com a democratização dos conhecimentos de saúde bucal há que ser questionado. Ainda falta, em alguns, uma visão mais abrangente do paciente.

O agente comunitário enfrenta grandes dificuldades para realizar o seu trabalho cotidiano de promoção da saúde principalmente na questão da saúde bucal, pois as dificuldades aumentam pela falta de estruturação oferecida aos ACS para realização desse trabalho. A maioria desses trabalhadores tem uma visão limitada acerca da complexidade que envolve o tema saúde bucal, pois poucos deles conseguem correlacionar a saúde bucal como parte integrante da saúde do indivíduo como um todo. Apesar de atribuírem importância à saúde bucal e terem consciência da magnitude de colocar em prática esse assunto em seu trabalho cotidiano, esses profissionais se sentem impotentes diante da falta de capacitação específica.

Programas de desenvolvimento profissional com base na educação permanente em saúde devem ser proporcionados aos ACS para que tenham novas concepções do seu trabalho diário, tornando sua trajetória profissional mais prazerosa assim como momentos de discussão, análise e reflexão possam ser proporcionados para que se percebam fazendo parte de uma equipe. São como anjos que cuidam dos outros como se fossem membros de suas famílias e se utilizam das tecnologias leves (a conversa, o acolhimento, a humanização, a escuta solidária, a mediação) e, dessa forma, ao darem uma nova forma ao ato de "cuidar", acabam dando vida à produção do cuidado.

Na execução de suas rotinas, ora lhes são exigidos conhecimentos com embasamento na medicina "oficial", ora, saberes e experiências próprias, e assim entrecruzando-se os vários saberes vão tecendo em seu cotidiano um conjunto de conhecimentos. E nesse saber, o pensar e o fazer vão costurando dois universos culturais: o de saberes populares e o de saberes médico-científicos e, ao dominarem esses conhecimentos, vão se adentrando os lares, achegando-se às pessoas, repartindo conhecimentos, levando o saber simplificado, motivando as pessoas a refletirem sobre comportamentos inadequados, influenciando inclusive na mudança de atitudes.

Para o usuário, a informação e a socialização do conhecimento sobre questões de educação e saúde são instrumentos vitais, para que, quando capacitado, ele possa gerir responsavelmente o próprio destino, deixando de ser simples objeto recebedor de serviços, sem vontade própria ou direito de escolhas. Portanto, percebe-se o ACS como uma pessoa importante, e como mencionado por Nunes, acredita-se na força e na riqueza desse trabalhador em saúde, contribuinte do processo de transformação social, mas que sozinho não pode e não deve carregar a credibilidade do sistema de saúde .

Percebe-se que, para que essa valiosa qualidade de elo não se rompa, deve-se ouvir e cuidar desses profissionais, e que sejam compreendidos, valorizados e respeitados, pois desenvolvem importantes papéis na saúde da população.

O papel do Agente Comunitário de Saúde é imprescindível para que ocorra a efetiva implantação do modelo de atenção à saúde com ênfase na promoção de saúde e prevenção de doenças e uma visão mais humanizada da comunidade.

REFERÊNCIAS

1. Roncalli, AG. O desenvolvimento das políticas públicas de saúde

no Brasil e a construção do Sistema Único de Saúde. In: Pereira

AC. Odontologia em saúde coletiva: planejando ações e promovendo

saúde. 1a ed. Porto Alegre: ARTMED. 2003; p. 28-49.

2. Groisman, S; Moraes, NM; Chagas, LJ. A evolução da atenção à

saúde no Brasil: o contexto da saúde bucal. Cadernos da Aboprev.

2005; 1-8.

3. Matos, PES; Tomita, NE. A inserção da saúde bucal no Programa Saúde da Família: da universidade aos pólos de capacitação. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro. 2004; 20: 1538-1544.

4. Silva, JA; Dalmaso, ASW. Agente Comunitário de Saúde: o ser, o saber, o fazer. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz. 2002; 240 pp.(Resumo)

5. Frazão P; Marques DC; Efetividade de programa de agentes comunitários na

promoção da saúde bucal. Rev. saúde pública. 2009; 43(3): 463-471.

6. Pires, ROM; Lopes Neto F; Lopes, JB; Bueno, SMV. O Conhecimento dos Agentes Comunitários sobre saúde bucal: Uma perspectiva sobre deficiências em educação em saúde no PSF. Ciência Cuidado e Saúde. 2007; 6(3): 325-334.

7. Nunes, MO; et al. O agente comunitário de saúde: construção da identidade desse personagem híbrido e polifônico. Caderno de Saúde Pública. 2002; vol.18, n.6, pp. 1639-1646.

8. BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Programa Nacional de Agentes Comunitários de Saúde. Manual do Agente Comunitário de Saúde. Brasília, 1991.

9. Vasconcelos, M; Cardoso, AVL; Abreu, MHNG. Os desafios dos Agentes Comunitários de Saúde em relação à saúde bucal em município de pequeno porte. Arquivos em Odontologia. 2010; Volume 45(02).

10. Koyashiki, GAK; Souza, RAA; Garanhani, ML. O trabalho em Saúde Bucal do Agente Comunitário de Saúde em Unidades de Saúde da Família. Ciência e saúde coletiva. 2008; 13(4): 1343-1354.

11. Holanda, ALF; Barbosa, AAA; Brito, EWG. Reflexões acerca da atuação do agente comunitário de saúde nas ações de saúde bucal. Ciência e saúde coletiva. 2009; 14(supl.1): 1507-1512.

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