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O romancista da primeira república

Por:   •  5/2/2019  •  Resenha  •  1.751 Palavras (8 Páginas)  •  331 Visualizações

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Lima Barreto (1881-1922)

 “O romancista da primeira república. ”  e “ o Escritor do Povo” Lima Barreto foi um dos principais escritores do pré-modernismo brasileiro período histórico que precedeu a Semana de Arte Moderna.

Infância e Adolescência

Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu em Laranjeiras, Rio de Janeiro no dia 13 de maio de 1881. Filho do tipógrafo Joaquim Henriques de Lima Barreto e da professora primária Amália Augusta, ambos pobres e descendentes de escravos, sofreu preconceito a vida toda. Com seis anos ficou órfão de mãe, o que provocou o seu amadurecimento precoce. Por ser afilhado do Visconde de Ouro Preto, teve acesso à mesma educação que a elite branca do Rio de Janeiro recebia na época, estudando no Colégio Pedro II e posteriormente ingressando na Escola Politécnica do Rio de Janeiro onde iniciou o curso de Engenharia.

Em 1903, quando cursava o terceiro ano, foi obrigado a abandonar o curso, pois seu pai teve sérios problemas psicológicos e o sustento dos três irmãos agora era responsabilidade dele. Em 1904, presta concurso para escriturário do Ministério da Guerra, é aprovado e permanece na função até se aposentar. Como forma de aumentar a renda, em 1905, ingressou no jornalismo com uma série de reportagens que escreveu para o Correio da Manhã e Jornal do Commercio, trabalhou também em revistas do Rio de Janeiro (Fon-Fon, Floreal, Careta, ABC, etc.). Em 1907 fundou a revista “Floreal”, que lança apenas quatro números.

Estreia Literária

Em 1909, Lima Barreto estreou na literatura com a publicação do romance "Recordações do Escrivão Isaías Caminha". O texto acompanha a trajetória de um jovem mulato que vindo do interior sofre sérios preconceitos raciais. A obra, em tom autobiográfico, é um brado de revolta contra o preconceito racial e uma implacável sátira ao jornalismo carioca. A crítica social paira em um plano psicológico: muitas vezes quem fala é o próprio autor e não seu personagem-narrador Isaías Caminha.

Estilo Literário e Características da Obra de Lima Barreto

A obra de Lima Barreto, desenvolvida na primeira década do século XX, no período da primeira república, representou a fase de transição da literatura, em que as influências europeias vão se exaurindo e surge uma verdadeira renovação da linguagem e da ideologia. Esse período que não chegou a constituir um movimento literário chamou-se Pré-Modernismo. Entre outros autores do Pré-Modernismo destacam-se Euclides da Cunha e Monteiro Lobato.

Embora os autores do Pré-Modernismo ainda estivessem presos aos modelos do romance realista-naturalista, se observa na obra de Lima Barreto, a busca por uma linguagem mais simples e coloquial. Lima Barreto procurou “escrever brasileiro”, com simplicidade. Para isso, teve de ignorar muitas vezes as normas gramaticais e de estilo, provocando a ira dos meios acadêmicos e conservadores.

Com uma linguagem descuidada, suas obras são impregnadas da justa preocupação com os fatos históricos e com os costumes sociais. Lima Barreto torna-se uma espécie de cronista e um caricaturista se vingando da hostilidade dos escritores e do público burguês. Poucos aceitam aqueles contos e romances que revelavam a vida cotidiana das classes populares, sem qualquer idealização. Ao produzir uma literatura inteiramente desvinculada dos padrões e do gosto vigente, recebe severas críticas dos letrados tradicionais. Explora em suas obras as injustiças sociais e as dificuldades das primeiras décadas da República.

Lima Barreto com seu espírito inquieto e rebelde, com seu inconformismo com a mediocridade reinante e com a doença do pai, se entrega ao álcool e a depressão. É levado a diversas crises, com verdadeiras manifestações de alienação mental. Foi internado duas vezes a primeira em meados de 1914. No momento de lucidez inicia a redação do livro "Cemitério dos Vivos", onde ele dizia: "O abismo abriu-se a meus pés e peço a Deus que jamais ele me trague, nem mesmo o veja diante dos meus olhos como vi por várias vezes. De mim para mim, tenho certeza que não sou louco ..." Pós-tratamento e em retorno às suas atividades literárias, o escritor colabora para periódicos voltados ao sistema político da época. Mesmo com a internação e tratamento, sua condição crítica que aparentemente havia melhorado, começa a apresentar retorno, com isto, Barreto se aposenta por invalidez no cargo da secretaria de Guerra. Lima Barreto viveu apenas 41 anos. Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 01 de novembro de 1922, já com a saúde abalada devido a um problema cardíaco.

Obras de Lima Barreto

Suas obras possuem grande teor de criatividade e estilística, e passeiam por diversos níveis artísticos e literários, dos mais simples panfletos aos mais célebres romances e muitas delas são publicadas postumamente. Por três vezes esboçou uma candidatura à Academia Brasileira de Letras, sem nunca ter sucesso. Lima Barreto tornou-se, através de sua marcante escrita, tema em debates sobre a sociedade brasileira e objeto de pesquisa. Influenciou escritores modernistas, foi resgatado nos anos 50 e se tornou um autor clássico da literatura brasileira, porém “muito citado e pouco lido”, segundo avaliam os estudiosos de sua obra. Em 2016, vários textos seus publicados na imprensa e assinados com pseudônimos foram reunidos no livro Sátiras e outras subversões: textos inéditos, organizado por Felipe Botelho Corrêa para a Companhia da Letras.

  • Recordações do Escrivão Isaías Caminha, romance, 1909
  • Aventuras do Dr. Bogoloff, humor, 1912
  • Triste Fim de Policarpo Quaresma, romance, 1915
  • Numa e Ninfa, romance, 1915
  • Vida e Morte de M. J. Gonzaga e Sá, romance, 1919
  • Os Bruzundangas, sátira política e literária, 1923
  • Clara dos Anjos, romance, 1948
  • Diario intimo, (1953)
  • Coisas do Reino do Jambon, sátira política e literária, 1956
  • Feiras e Mafuás, crônica, 1956
  • Bagatelas, crônica, 1956
  • Marginália, crônica sobre folclore urbano, 1956
  • Vida Urbana, crônica sobre folclore urbano, 1956

 Curiosidades

  • No dia 13 de março de 1888, a Princesa Isabel ia assinar em praça pública a Lei Áurea. Entre as pessoas que comemoravam a abolição estava o menino mulato, Lima Barreto, que aniversariava naquele dia. Guiado pela mão do pai, via uma multidão de escravos que aguardavam a liberdade. Muitos anos mais tarde, essas recordações marcaram sua obra.
  • Ao se matricular na Escola Politécnica, Lima Barreto é interpelado por um veterano: “Onde já se viu um mulato com nome de rei de Portugal? ”
  • Publicou alguns artigos nos jornais da faculdade assinando com o pseudônimo de “Momento de Inércia”.

Frases de Lima Barreto

  • O Brasil não tem povo, tem público. ”
  • Não é só a morte que iguala a gente. O crime, a doença e a loucura também acabam com as diferenças que a gente inventa. ”
  • E chegada no mundo - escrevia em 1948 - a hora de reformarmos a sociedade, a humanidade, não politicamente, que nada adianta; mas socialmente, que é tudo. ”
  • O football é uma escola de violência e brutalidade e não merece nenhuma proteção dos poderes públicos, a menos que estes nos queiram ensinar o assassinato. ”
  • Por esse intrincado labirinto de ruas e bibocas é que vive uma grande parte da população da cidade, a cuja existência o governo fecha os olhos, embora lhe cobre atrozes impostos, empregados em obras inúteis e suntuárias noutros pontos do Rio de Janeiro. ”

Triste Fim de Policarpo Quaresma

Em 1915, depois de ter publicado em folhetos, Lima Barreto publica o livro “Triste Fim de Policarpo Quaresma", sua obra-prima. Nesse romance, o autor descreve a vida política no Brasil após a Proclamação da República. A obra narra os ideais e as frustrações do funcionário público, Policarpo Quaresma, homem metódico e nacionalista fanático. Sonhador e ingênuo, Policarpo dedica a vida a estudar as riquezas do país. Além da descrição política do final do século XIX, a obra traça um rico painel social e humano dos subúrbios cariocas na virada do século. Narrada em terceira pessoa, apresenta uma linguagem coloquial e trata-se de uma crítica à sociedade urbana da época.

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