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RESUMO: AS CULTURAS DA INFÂNCIA NAS ENCRUZILHADAS DA 2ª MODERNIDADE

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Por:   •  18/10/2013  •  2.051 Palavras (9 Páginas)  •  6.959 Visualizações

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O autor Manuel Jacinto Sarmento inicia seu texto falando sobre os fatores que transformam a infância, em concordância com o Sarmento pode-se citar alguns como: globalização, amadurecimento profissional cada vez mais cedo, trabalho infantil, abandono e descaso, transformações e problemas que afetam a família contemporânea.

Outro problema grave da contemporaneidade na educação das crianças são os profissionais que não gostam de serem pedagogos, não tem gosto pelo que fazem, buscando apenas executar suas tarefas para receber sua remuneração ou já estão desgastados pelo tempo ou problemas fora da escola. Tal condição transforma a relação de ensino-aprendizagem em algo pesaroso para ambos. A profissão de educador exige amor pela profissão, paciência e carinho para que seja construída uma relação de confiança mutua. O texto em que o Mediador de Crianças diz que ela morre é um exemplo de profissional que não da conta de conviver com crianças mais, pode-se a ele também comparar as famílias e demais membros da sociedade que não sabem o mínimo sobre direitos da criança e como ela deve ser tratada, devido às muitas outras questões que sua vida cotidiana apresenta.

De acordo com Sarmento e através do exemplo pode-se perceber que a contemporaneidade trouxe consigo uma reinversão dos valores, sendo preciso pensar qual espaço esta reservado para a criança e qual a capacidade de mudança via transferência de cultura de uma sociedade impregnada pela valorização do trabalho, dinheiro, que desvaloriza ou simplesmente deixa pra depois as relações sociais e afetivas. E essa cultura é transferida para a criança desde cedo, no entanto, a mesma tem a capacidade de transformar ao longo de sua existência essa realidade, basta que lhe sejam dadas as condições de renovar conceitos para sua vida adulta e gerações futuras.

O autor contextualiza a ideia de infância apresentando argumentos para que seja possível compreender que ela é uma ideia moderna. Para Sarmento a consciência de infância é constituída na época do Renascimento (Primeiro grande movimento cultural burguês dos tempos modernos, o Renascimento foi um importante movimento de ordem artística, cultural e científica que se deflagrou na passagem da Idade Média para a Moderna. Em um quadro de sensíveis transformações que não mais correspondiam ao conjunto de valores apregoados pelo pensamento medieval, o renascimento apresentou um novo conjunto de temas e interesses aos meios científicos e culturais de sua época. Ao contrário do que possa parecer, o renascimento não pode ser visto como uma radical ruptura com o mundo medieval.) ganhando força com o iluminismo (O Iluminismo ocorreu durante o século XVII na Europa e objetivava propor uma organização social pela razão, frente o contexto religioso que imperava no mundo europeu desde o início da Idade Média.).

A institucionalização da infância na primeira fase da modernidade se deu por vários fatores. Sarmento cita alguns como “a criação de instâncias públicas de socialização” a escola aparece aqui como principal centro de socialização das crianças, o trabalho infantil vai sendo substituído por espaços educativos e a educação passa a ser concebida como forma de ascensão de classe. Aliada a educação, há o “recentramento do núcleo familiar no cuidado dos filhos”, cuidados antes realizados por pessoas de fora da família agora de mais atenção dos país.

Outro fator é a “formação de um conjunto de saberes sobre a criança, constituída como objeto de conhecimento e alvo de um conjunto de prescrições atinentes ao desenvolvimento dentro que se convenciona com os padrões da “normalidade””. Tal conhecimento seria utilizado para buscar alternativas de melhores condições de saúde e desenvolvimento para as crianças, ou seja, melhores condições sociais. Esse processo vai desencadear em duas concepções sobre a criança. Sarmento as define como:

concepções antagônicas rousseaunianas e montaigneanas sobre a criança, ao construtivismo e ao comportamentalismo, às pedagogias centradas no prazer de aprender e às pedagogias centradas no dever do esforço, às pulsões libertadoras e aos estímulos controladores, em suma, às ideias da criança-anjo, natural inocente e bela e à criança-demônio, rebelde, caprichosa e disparatada. (SARMENTO, pg. 5)

O quarto fator citado por Sarmento é “a elaboração de um conjunto e procedimentos configuradores da administração simbólica da infância”, que seriam normas estabelecidas pela sociedade de como as crianças deveriam participar da vida em sociedade.

São esses os fatores citados que na primeira modernidade procuraram normatizar e homogeneizar a infância, mas que, no entanto não da conta de sua tarefa, acentuando as condições de desigualdades e exclusão, que serão piores na segunda modernidade.

A 2ª modernidade é marcada pelas rupturas de direitos sociais causadas pelo processo de globalização. Com o desenvolvimento do modo de produção capitalista, que encontra em nova fase, o acirramento do neoliberalismo acentua as condições de desigualdade, desvalorização do trabalhador, degradação das condições de vida das pessoas mais pobres e cultura da sociedade do consumo em massa refletem nas condições de vida da criança e sua infância.

O autor diz que acontece a reinstitucionalização da infância. O trabalho infantil nos países periféricos é explorado para fortalecer a produção da nova indústria. Não sendo considerado como exploração, mas também como trabalho infantil a utilização das crianças para marketing de um novo setor direcionado apenas as crianças rouba o espaço da infância da mesma.

A escola ocupa o espaço de centro homogeneizador de diferentes culturas, frente à multiculturalidade que se encontra as crianças que frequentam esse espaço, o resultado mais comum é o insucesso escolar, pois a homogeneização reprimi o diferente, gerando crise educacional. Diante desse problema surgi o ensino particular, a financeirização da educação, que traz em seu bojo o processo de exclusão para os que não podem pagar pelo ensino. Neste espaço de crise educacional a função da escola é distorcida e ocupa o papel de formadora de opinião, como forma de controle e coesão em uma sociedade divida em classes (A sociedade de classes já estudada em Karl Marx).

Essas transformações vão refletir diretamente na família:

A família, por seu turno, desenvolve tensões reinstitucionalizadoras em torno de transformações estruturais crescentes... As transformações na estrutura põem a descoberto o caráter mítico de algumas teses do senso comum que veem no núcleo familiar o espaço aproblemático e “natural” de proteção e promoção do desenvolvimento das crianças...a transformação familiar convida a que a família seja pensada como instituição social, sendo como tal construída e estruturada, e não como entidade natural, imune ao pathos da vida social. ( SAMENTO, pg. 8).

A nova estrutura familiar gera conflitos no processo de internalização de conhecimentos da criança, as difíceis condições de vida obriga aos pais passarem mais tempo trabalhando fora de casa, neste contexto as crianças também passam muito tempo fora de casa, tendo sua formação direcionada por educadores coletivos (professores).

Outra característica da 2º modernidade é o comercio de produtos infantis e a “globalização da infância”, brinquedos e produtos culturais produzidos em serie para crianças com necessidades e condições financeiras diferentes, que apesar da homogeneização da cultura implicam em processos de sociabilidade diferentes. Ou seja, a reinterpretação da infância se da através de processos de segregação social via desigualdades de renda.

Considerando os fatores da segunda modernidade Sarmento questiona “há possibilidade de considerar as crianças como sujeito social nas condições propostas pela 2ª modernidade?” A segunda modernidade roubou das crianças sua autonomia e condição de atores sociais capazes de gerir transformações?

O próprio Sarmento responde a indagação dizendo que a segunda modernidade radicalizou os processos que geram desigualdades e que a imagem da criança esta dividida em “extraordinária complexidade dos paradoxos em que exprime a condição social da infância”. Tendo várias formas de expressar essa dualidade, essa contradição que caracteriza a infância citar-se-á:

Entre a criança desejada, que se quer livre, amada, espontânea, sonhadora e depositária do futuro e da esperança e a criança rejeitada, abandonada ou enviada para as instituições custódia, perturbadora do quotidiano dos adultos, comprada e seduzida, mas, ao mesmo tempo, temida na turbulência que leva à escola ou à família; entre a criança romântica e a criança da crise social; entre a criança protegida e a criança violentada; entre a criança vítima e a criança vitimadora; entre as crianças de Birmingham e as crianças de Liverpool; entre uns e os outros, afinal, há um universo inteiro de diferenças, sem que, todavia, não se dissipe nessa diferença uma marca distintiva essencial: é sempre de crianças que estamos a falar e é irredutível ao mundo dos adultos a sua identidade. (SARMENTO, PG. 11).

Sobre as culturas da infância é importante compreender que a construção das mesmas é realizada através de processo autônomo das crianças, que atribuem significado por meio do senso comum as ações e objeto que as envolve. Se apresentando, desta maneira, como “formas especificamente infantis de inteligibilidade, representação e simbolização do mundo”.

Os traços distintivos das culturas da infância descritos por Sarmento se expressam em várias dimensões, são elas a:

Semântica- ou seja, a construção de significados autônomos e, a elaboração de processos de referenciação e significação próprios; ... Sintaxe – ou seja, a articulação dos elementos constitutivos da representação, que não se subordinam aos princípios da lógica formal, mas sustentam a possibilidade da contradição do princípio da identidade;... Morfologia – ou seja, a especificidade das formas que assumem os elementos constitutivos das culturas da infância: os jogos, os brinquedos, os rituais, mas também os gestos e as palavras. (SARMENTO, pg. 13)

O autor destaca que as culturas da infância não se reduzem a elementos linguísticos e o que o estudo da mesma deve seguir 4 eixos : a interactividade, a ludicidade, a fantasia do real e a reiteração, conceitos que serão abordados nos próximos parágrafos.

O primeiro conceito trabalhado é o da interactividade, neste espaço é ressaltada a importância da convivência das crianças com outras crianças e com os adultos para a construção da sua cultura. O termo utilizado para denominar a apropriação e reprodução pelas crianças é “Cultura de Pares”. Essa cultura incentiva a criança a construção da convivência em grupo, a amizade, a compartilhar, a preservar os valores de se viver em sociedade, criando regras através de brincadeira e respeito ao próximo. Além disso, valoriza as relações pessoais, brincadeiras que possibilitam o contato entre pessoas, não compreendendo desta forma o mundo eletrônico em que as crianças brincam sozinhas e fazem suas atividades sozinhas.

Outro traço fundamental das culturas da infância é o fato lúdico. A ludicidade esta na interação com as outras crianças e com os brinquedos, no prazer da atividade, no conhecimento construído através das brincadeiras. No entanto, a criação de um mercado de produtos direcionados para crianças e incentivo a compra cada vez mais desenfreada de objetos desfaz o sentido lúdico da brincadeira, transformando os objetos e quantidade que as crianças possuem dos mesmos em condição final ao invés de meio para atingir um fim. Além de influenciar as crianças a serem adultos compradores compulsivos e que quando não podem comprar o que querem se tornam inseguros e insatisfeitos, sem falar nas crianças que não tem recursos financeiros para adquirir tais objetos, demonstrando mais uma vez o caráter de exclusão e desigualdade da sociedade e dos espaços coletivos de convivência ( escola, creches, parques etc).

Como terceiro fator esta a fantasia do real. A internalização de sentidos e reprodução através do faz de conta no tempo da criança faz parte do conjunto que permite ao fator lúdico contribuir para o desenvolvimento da criança e deve ser preservado. È a forma que a criança tem de recriar a realidade, como ela gostaria que fosse de contar seus sonhos ou de enfrentar situações difíceis. Esse fator busca da estabilidade ao mundo da criança, tentando preserva a mesma, com historias que podem explicar a realidade de uma forma mais leve ou mesmo construir um mundo imaginário no consciente que estimulara o pensamento e a criatividade.

O ultimo fator é a reiteração, que diz respeito as regras que as crianças estabelecem para si mesmas de como as rotinas serão executas, a comunição, os segredos, que vão sendo reinventadas a cada necessidade que as crianças sentem para se proteger ou melhorar sua interação. Mesmo quando aprendem coisas com outras crianças, elas reinventam, recomeçam, recriam de acordo com seu tempo, com sua rotina.

Após ler o texto é possível compreender que deve-se buscar alternativas de restituir os sentidos da infância, resgatando os espaços lúdicos, a interação entre crianças, ensinando-as que os objetos/ brinquedos são apenas o meio e não a finalidade, além de se atentar as práticas que fortaleçam os direitos da crianças e que preservar as conquistas históricas para os pequenos.

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