Resenha A Morte E A Morte De Quincas Berro D'Água

AMADO, Jorge. A Morte e a Morte de Quincas Berro D’Água. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

Jorge Amado (1912-2001) é considerado um dos mais importantes escritores brasileiros do século XX, com obras traduzidas em dezenas de idiomas e adaptadas com sucesso para o cinema, o teatro, a televisão e balé. Entre seus livros mais famosos estão “Gabriela, Cravo e Canela”, “Capitães da Areia”, “Terras do Sem-Fim”, “Dona Flor e seus Dois Maridos”, “Tieta do Agreste” e “Tenda dos Milagres”, para citar alguns. Advogado, sem nunca ter exercido a profissão, era comunista e foi deputado federal pelo PCB na década de 40. Tendo sido preso e exilado algumas vezes, afastou-se da militância política em 1955. Chegou a morar na Europa mas sua residência oficial era na Bahia, na famosa casa do Rio Vermelho, em Salvador, onde suas cinzas estão enterradas.

Possuía títulos como membro da Academia Brasileira de Letras, doutor “honoris causa” das Universidades de Sorbonne e Moderna de Lisboa, dentre outras, e diversos prêmios como o Camões, maior honraria para escritores de língua portuguesa. Dificilmente o Brasil terá outro representante de tamanha importância pela qualidade de sua obra, voltada essencialmente às raízes nacionais. São temas constantes nela os problemas e injustiças sociais, o folclore, a política, as crenças, as tradições e a sensualidade do povo brasileiro.

A primeira edição de “A Morte e a Morte de Quincas Berro D’Água” em livro é de 1961 e foi apontada por muitos como sua obra-prima. Nele, retrata a visão das camadas populares baianas, de um jeito cômico. Relata a trajetória do ex-funcionário público Joaquim Soares da Cunha, marido e pai respeitado que se transforma no boêmio Quincas Berro D’Água. A obra foi reeditada pela Companhia das Letras, numa edição com posfácio elaborado por Affonso Romano de Sant'Anna, cronologia, cópia das primeiras páginas do original do autor, fotos, imagens e capas das mais variadas traduções ao redor do mundo.

O livro narra os acontecimentos e versões desencontradas depois da morte de Joaquim, quando seu corpo é encontrado em um cômodo sujo, vestindo farrapos e sorrindo. Durante quase toda a sua vida, o funcionário público contou com o respeito de todos. Aos 50 anos, porém, despede-se da família com palavras ofensivas e passa a viver na rua. Fica dez anos em companhia da bebida, dos malandros e das prostitutas. Sua esposa acaba morrendo e sua filha com o marido passam a suportar o parente incômodo. Ele já havia morrido moralmente para seus familiares. Ou seja, sua primeira morte se dá quando decide deixar de ser um cidadão exemplar para se transformar num boêmio vivendo na vadiagem.

Seu apelido surge quando o dono do botequim que ele frequenta oferece um copo com água no lugar da cachaça que costumava beber. Ao perceber a troca dá um berro, virando o Quincas Berro D’Água.

Com sua segunda morte, os parentes se sentem aliviados, finalmente morria a vergonha da família. Morreu aos 60 anos de idade e, como uma prestação de contas à sociedade, sua filha passa a tomar as providências para o velório e o enterro do pai. Os familiares dizem que a morte foi decente e escondem os vexames passados. A única coisa que não conseguem arrumar é o sorriso no rosto do morto que parecia lembrar as ofensas à

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