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Resenha Filhos Do Paraiso

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Por:   •  18/11/2014  •  821 Palavras (4 Páginas)  •  443 Visualizações

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FILHOS DO PARAÍSO (BACHEHA-YE ASEMAN, 1997)

Sob um falso manto de fábula infantil, aliado à força artística do chamado neo-realismo — ou Novo Cinema — do Irã, Filhos do Paraísocarrega em si todos os elementos que suprem as expectativas do público mais exigente. Uma das características é o uso da criança numa trama carregada de sentimentalismo, um painel social difícil de ser esquecido. Nomes consagrados como Abbas Kiarostami ou Jafar Panahi usaram e abusaram dessa fórmula em filmes como Onde Fica a Casa de Meu Amigo? e O Balão Branco, fisgando definitivamente o interesse do mundo para o cinema da terra dos aiatolás. O diretor Majid Majidi destaca-se como aquele que melhor soube aproveitar os parcos recursos de que ele e seus colegas dispõem, a fim de provocar a emoção de quem os assiste. A Cor do Paraíso e Baran, respectivamente de 1999 e 2001, são obras comoventes e poéticas, sem dúvida, mas o talento supremo e a relevância de Majidi já haviam sido demonstrados em 1997 com o lançamento de Filhos do Paraíso.

O filme conta a história de um menino chamado Ali que, no caminho para casa, perde os sapatos de Zahra, sua irmã caçula. Os dois viram cúmplices de um segredo, decidem não contar aos pais sobre o ocorrido, uma vez que a família não tem dinheiro para comprar um novo par de sapatos. A garota aceita a proposta do irmão: de manhã, ela vai à escola com os tênis de Ali e, na volta, os devolve. O menino, que estuda à tarde, acaba se atrasando diariamente para recuperar os calçados. O consolo parece nascer quando uma corrida é organizada pelas escolas da região, e o 3º prêmio é justamente um par de tênis. Ali pede para se inscrever e, com o otimismo típico das crianças, garante a Zahra que irá obter o terceiro lugar da prova.

Com personagens humanos e simplórios, Majidi realiza um trabalho que manipula as emoções do público sem grandes obstáculos. Os atores mirins Mir Farrokh Hashemian e Bahare Seddiqi estão sempre prestes a nos comover com seus imensos olhos pretos, transbordantes de lágrimas. O que faz de Filhos do Paraíso um trabalho excepcional, longe de ser um melodrama barato, é o modo como alerta sobre as desigualdades sociais através de objetos e atitudes de aparência singela. Um par de sapatos ganha significado monumental para os dois irmãos, mas existe um real motivo para isso — e nós o conhecemos muito bem. A pobreza, claro, tende a exaltar coisas que para muita gente soam insignificantes. Em determinado ponto da história, Ali presenteia Zahra com um lápis e uma caneta como forma de agradecimento pela compreensão, e a menina fica felicíssima, como se tivesse ganhado a coisa mais maravilhosa do planeta (num outro país, é provável que a mesma reação fosse alcançada tão-somente em troca de um celular último modelo ou de uma blusa de grife). A inquietação dos filhos diante dos problemas financeiros dos pais é natural, e essa temática ganha dimensões metafísicas no cinema das nações soit disantsubdesenvolvidas. Mesmo após contemplar um belo par de tênis num comercial de tevê, as crianças se calam, sem fazer exigências.

Uma das seqüências mais deslumbrantes é quando Ali visita um bairro chique com o pai, em busca de serviço ocasional de jardineiro. Contrastando com os labirintos acinzentados onde vivem os protagonistas,

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