Revisão Literatura Memoria

INTRODUÇÃO^[a]

O tema memória vem desde o passado despertando inspiração e curiosidade na humanidade, através do tempo o ser humano vem buscando formas de preservar a memória por ele construída. Seja pelos primeiros seres humanos que deixavam imagens nas paredes de suas cavernas para registrar o que se passava no seu cotidiano ou até a atualidade, onde procuramos formas de garantir que o conhecimento produzido não se perca em meio ao dilúvio de informações no qual vivemos, o tema memória se faz presente em nossas vidas, como uma maneira de garantir que de alguma forma o que fizemos ou o que somos seja lembrado por gerações futuras.

É na Grécia Antiga, que esse fascínio pela memória, nos leva ao aprofundamento da memória oral, onde a crença na deusa Mnemosine, protetora das artes e da história, permitia que os anciões e poetas passassem a memória adiante pela fala, em um estado no qual “toda memorização da tradição poetizada depende da recitação constante e reiterada.” (Monteiro; Carelli; Pickler; 2006 apud SMOLKA, 2000, p.169). Porém, ter a oralidade como a única forma de resgate da memória nos trás a dependência naquilo que apenas é dito na hora em que é falado. Assim, surge a problemática do esquecimento, uma vez que a memória oral se torna efêmera, pelo fato de sua transmissão se dá apenas no momento em que se fala, ou seja, ocorrer apenas em tempo real e não ter um suporte em que ela fique registrada para que as pessoas possam consultá-la. Assim a memória oral acaba se perdendo por não poder ser acessada novamente e como não existe a possibilidade de resgatá-la através de um registro, uma vez que ela está retida em um indivíduo, cada ancião que morre é uma biblioteca que se queima (Levy, 1998).^[b][c]

Porém, com o advento e popularização da escrita a transmissão da informação e consequentemente da memória passou da forma oral para forma escrita, o que de acordo com Le Coadic (1994) foi o passo para a explosão informacional, pelo fato de que começou a ser permitido a humanidade “exteriorizar primeiro, nas bibliotecas, uma das funções do cérebro humano, que é a memória” (Le Coadic, 1994, p.6).

Como a memória agora externalizada na forma escrita começamos a nos preocupar como a questão de como preservá-la para que ela possa ser recuperada. Na história recente, como uma das tentativas de preservação e organização da memória temos o Memex que foi idealizado por Vannevar Bush considerado um dos pioneiros da Ciência da Informação, cujo objetivo era permitir que o conhecimento produzido fosse rapidamente recuperado.

O ideal de Vannevar Bush de preservação e organização da memória produzida para que ela seja recuperada remete a uma das principais questões da Ciência da Informação que é justamente a preservação da memória para a sua recuperação. De acordo com Monteiro, Carelli, e Pickler (2006) nas áreas da Ciência da Informação o termo memória foi associado ao conjunto das informações que podem ser registradas, ou seja, que podem ser consultados, desta forma essas áreas valem-se da memória no sentido de armazenagem e preservação dos saberes, para a posterior recordação por parte da sociedade.

Nesse sentido diversos termos tendem a ser associados à memória: resgate, preservação, conservação, registro, seleção; sendo a categoria preservação a mais utilizada” (HOLANDA, SILVEIRA , 2010 apud JARDIM, 1995, p.1). Por essa perspectiva podemos ver a memória como uma forma de garantir que o conhecimento e a informação produzidas não sejam perdidos . Assim, pela memória tem-se a propriedade de conservar certas informações, dado que ela, procura salvar o passado para servir ao presente e ao futuro (LAZZARINE; NETTO; SOUZA, 2015 apud LE GOFF 2003).

Contudo, atualmente estamos vivendo em um novo paradigma, que desafia os cientistas da informação no que tange a preservação da memória, que é como preservar a memória que está sendo produzida no ambiente online, já que “a internet está abrindo espaço para novas relações e valores entre as pessoas, disponibilizando um fluxo de informações em diversos níveis, assim como potencializando o acesso a outros mundos, por meio do ciberespaço” (LAZZARINE; NETTO; SOUZA, 2015, p.24). ^[d]

O Ciberespaço se apresenta como um local de interação entre indivíduos que gera uma enorme quantidade de informações em um curto espaço de tempo. É um espaço onde se realizam não somente trocas simbólicas, mas transações econômicas, comerciais, novas práticas comunicacionais, relações sociais, afetivas e, sobretudo, novos agenciamentos cognitivos. É um universo virtual, plástico, fluido, carregado de devires (MONTEIRO; CARELLI, 2007 apud MONTEIRO; 2007). Dessa forma, a memória que é produzida atualmente pelos diversos usuários que compõem o mundo virtual não é estática, uma vez que, ela é uma memória engendrada nela mesma, em tempo real e em contínua transformação (CARELLI; PICLKER 2006).

Esse novo contexto de produção de informações, traz um novo desafio à Ciência da Informação, a mesma problemática enfrentada pela memória oral, o esquecimento. Pois evitar que a memória se perca em um ambiente tão fluido e veloz, como é o mundo online, se torna uma tarefa extremamente árdua. Deste modo a Ciência da Informação está em face a uma nova forma/função de produção, representação, organização do conhecimento e memória, onde a memória no ciberespaço possui aproximações com a memória da sociedade oral, o que traz a possibilidade de esquecimento (Monteiro; Carelli; Pickler 2006).

A problemática do esquecimento é uma importante questão para a Ciência da Informação,^[e][f] uma vez que esta tem como uma de suas bases a visão de preservação da informação.  Holanda; Silveira apud Monteiro (2006), nos trazem a ideia de que o esquecimento é uma preocupação para os cientistas da informação, especialmente no campo dos estudos sobre o ciberespaço, uma vez que, nesse ambiente, não há um planejamento que vise à recuperação da memória.

Ainda nesse sentido, ”no Ciberespaço a questão da preservação da informação e do conhecimento é questionada, pois, estando no ambiente virtual, não há garantias de que uma informação esteja disponível após certo tempo” (Monteiro; Carelli, 2007, p.3), não existem garantias de que uma informação uma vez postada no ambiente virtual possa ser recuperada, ela pode ser apagada por quem a postou, ou então ficar perdida no ciberespaço a medida que novas informações são criadas, caindo assim em olvido devido a dificuldade de encontrá-la novamente.