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Surdez

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Por:   •  26/3/2014  •  Tese  •  1.449 Palavras (6 Páginas)  •  539 Visualizações

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Tem-se acentuado, nas últimas três décadas, um conjunto novo de discursos e de práticas educacionais que, entre outras questões, permite desnudar os efeitos devastadores do fracasso escolar massivo, produto da hegemonia de uma ideologia clínica dominante na educação dos surdos. Foram mais de cem anos de práticas enceguecidas pela tentativa de correção, normalização e pela prática institucional; instituições especiais que foram reguladas tanto pela caridade e pela beneficência, quanto pela cultura social vigente que requeria uma capacidade para controlar, separar e negar a existência da comunidade surda, da língua de sinais, das identidades surdas e das experiências visuais, que determinam o conjunto de diferenças dos surdos em relação a qualquer outro grupo de sujeitos. O que está mudando são as concepções sobre o sujeito surdo, as descrições em torno da sua língua, as definições sobre as políticas educacionais, a análise das relações de saberes e poderes entre adultos surdos e adultos ouvintes, etc.

Ainda hoje, se percebe a necessidade de uma transformação ao nível das representações que conformam os poderes e os saberes clínicos e terapêuticos. Uma transformação que supõe uma análise aprofundada sobre algumas metanarrativas, constituídas como grandes "verdades", ancoradas na educação dos surdos. O fato de que a educação dos surdos não se atualize em sua discussão educativa pode revelar a presença de um sentido comum que estabelece um cadeia de significados obrigatórios, como a seguinte: surdos - deficientes - outros deficientes - educação especial - reeducação - normalização - integração.

A temática da surdez, na atualidade, se configura como território de representações que não podem ser facilmente delimitadas ou distribuídas em "modelos sobre a surdez".

Como podem ser relacionados, dentro de um contexto educacional mais amplo, essas representações sobre a surdez? Pode se dizer que a educação dos surdos parece se encontrar, hoje, diante de uma encruzilhada. Por uma lado, manter-se, ou não, dentro dos paradigmas da educação especial reproduzindo o fracasso da ideologia dominante - movimento de tensão e ruptura entre a educação especial e a educação de surdos. Por outro lado, aprofundas as práticas e os estudos num novo campo conceitual, os Estudos Surdos, quebrando assim a sua dependência representacional com a educação especial, e se aproximando dos discursos, discussões e práticas próprias de outras linhas de pesquisa e estudo em educação.

A educação especial para surdos parece não ser o marco adequado para uma discussão significativa sobre a educação dos surdos. Mas, ela e o espaço habitual onde se produzem e se reproduzem táticas e estratégias de naturalização dos surdos em ouvintes, e o local onde a surdes é disfarçada. De acordo com Wingley (1996, op. cit.):

A distinção entre diversidade e diferença conduz ao debate sobre o lugar que corresponde aos surdos na educação especial e na educação em geral. A aproximação com esta temática pressupõe uma diferenciação entre o significado que tem a escola especial e o sentido possível para uma educação de surdos, anulando a sua habitual sinonímia. Também é necessário romper com a tradição segundo a qual, uma vez reconhecido o fracasso da escola especial, aparece de maneira implacável uma única opção: a escola inclusiva. Isto é, o imperativo da integração escolar dos surdos nas escolas regulares.

O ouvintismo desenvolveu não apenas uma, mas várias formas de colonização do currículo, através de uma trama de representações variadas: o currículo para deficientes mentais, o currículo para os ouvintes, o currículo para deficientes da linguagem, o currículo de beneficência laboral e o currículo salva-vidas.

A falta de compreensão e de produção dos significados da língua oral, o analfabetismo massivo, a mínima proporção de surdos que têm acesso a estudos de ensino superior, a falta de qualificação profissional para o trabalho, etc., foram e são motivos para três tipos de justificações impróprias sobre o fracasso na educação dos surdos. O que fracassou na educação dos surdos foram as representações ouvintistas acerca do que é o sujeito surdo, quais são os seus direitos linguísticos e de cidadania, quais são as teorias de aprendizagem que refletem as condições cognitivas dos surdos, quais as epistemologias do professor ouvinte na sua aproximação com os alunos surdos, quais são os mecanismos de participação das comunidades surdas no processo educativo, etc.

O que se faz necessário é o surgimento de novas e variadas perspectivas qualitativas. Uma pesquisa que demonstre que essas perspectivas são divergentes - as quantitativas, as qualitativas, as dos surdos, as dos alunos surdos, as dos adultos surdos - leva à seguinte conclusão: a educação dos surdos não fracassou, ela apenas conseguiu os resultados previstos em função dos mecanismos e das relações de poderes e de saberes atuais.

O olhar dos surdos sobre o fracasso, segundo as nossas pesquisas, se refere sobretudo a uma questão ligada à falta de acesso à língua de sinais e a um processo demorado de identificações com outros surdos. os professores ouvintes, por sua vez, fala mais acerca da própria formação e da perda significativa de seu papel como educadores.

O fato de que os surdos não possam - e talvez nem queiram, em sua grande maioria - ser ouvintes ou ser como os ouvintes, não parece ser um obstáculo para as representações dominantes na educação dos surdos. A intenção de que as crianças surdas seja, em um hipotético futuro, adultos ouvintes, originou um doloroso jogo de

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