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Talk Show

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Por:   •  24/9/2014  •  5.141 Palavras (21 Páginas)  •  265 Visualizações

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O presente artigo faz a retomada de questões relativas a uma característica bastante explorada pela televisão: o espetáculo. Ao mesmo tempo questiona esses espaços/tempos televisivos em que ficção e não-ficção se tramam, buscando entender as configurações que surgem daí. Entre outros programas, isso se evidencia no talk show que, pela sua própria denominação, se apresenta como fruto dessa mistura de gêneros. É relevante, portanto, refletir sobre as construções de formatos e sobre os discursos articulados por esses programas na interação com algumas de suas especificidades, como as entrevistas, as tiradas de humor, a platéia e, sobretudo, o papel do apresentador.

PALAVRAS-CHAVE: Talk show. Televisão. Espetáculo.

1 Introdução

Os programas televisivos chamados talk shows são, em sua denominação, auto-explicativos: conversa e espetáculo. Tal designação, contudo, não contempla os meandros de sua configuração que merece outras abordagens, considerando a análise de alguns programas veiculados pelas tevês aberta e paga. Na origem: debate, crítica e informação. No formato: platéia, efeito de interatividade, entrevista e apresentador icônico. No conteúdo: conversa informal, superficialidade, humor e auto-referencialidade.

Das tantas entradas possíveis para o debate do talk show, um dos caminhos que se mostra interessante para este artigo é o que passa pelos gêneros e formatos televisivos. Já é sabido que a televisão estabelece sua grade principalmente sobre a conformação de gêneros, buscando dar estabilidade e segurança ao espectador, ao mesmo tempo em que lhe oferece um contrato de leitura ou promessa, como defende Jost (2004). Contudo, as hibridizações e reorganizações constantes que atravessam os gêneros televisivos em busca de audiência, exigem um esforço de atualização, por parte do telespectador, para o qual ele pode não estar preparado, tampouco atento. Nessa via, o processo de produção televisiva que se organiza sobre os gêneros abre, pelo menos, três flancos consideráveis. Por um lado, o abono para o engessamento na interpretação dos programas através da repetição e da legitimação de sentidos, por outro lado a opacidade que permeia novos formatos e gêneros, negando a clareza no contrato de leitura e/ou o engano na promessa. Por fim, é preciso considerar que essa última via pode justamente expandir as possibilidades de semioses.

Mesmo que se entenda que a classificação em gêneros não corresponde necessariamente àquilo que está sendo exibido, tendo em vista os hibridismos que permeiam a programação; mesmo que se compreenda que tal categorização abre espaço para engessar os sentidos e aumentar a credulidade do espectador sobre aquilo que assiste na telinha, ainda assim é preciso considerar que os discursos e produtos televisivos se constituem sobre os gêneros ainda hoje. Já nos anos 1980, Eco (1984, p.189) observa que os imbricamentos de ficção e não-ficção nos programas e na programação televisiva, apontam para um tipo de produto “[...] em que o problema de confiabilidade dos enunciados começa a se tornar ambíguo, ao passo que absolutamente indiscutível é o ato de enunciação.” Os talk shows e os reality-shows são bons exemplos que mostram a hibridização própria da tevê já na sua denominação: titulam-se pela ficção do show e, ao mesmo tempo, pela não-ficção do talk e do reality. Dessa maneira, ajudam a deixar evidentes as contradições que habitam as categorizações por gêneros. Uma análise de tais programas permite verificar que primam pelo show, mas é interessante refletir se isso fica suficientemente visível, ou seja, se os códigos de enunciação indicam suficientemente o que é informação e o que é ficção. O que parece mais grave, entretanto, é que esses produtos são “[...] programas em que informação e ficção se trançam de modo indissolúvel e não é relevante quanto o público possa distinguir” (ECO, 1984, p. 191).

É indubitável que, do ponto de vista do telespectador, a classificação por gêneros já não atende mais à sua necessidade de entendimento do tipo de mensagem e das possibilidades de interpretação do programa, operando, conforme Martin Barbero (1997), como mediador fundamental entre a forma e a interpretação, constituindo-se numa estratégia de comunicabilidade. Tendo em vista as hibridizações genéticas do talk show, que reúnem o que deveria estar separado em gêneros (ficção e não-ficção), a sua sintaxe resulta numa mescla de sentidos que não se presta à fácil decodificação. Enquanto algumas marcas são evidenciadas pelo ato de enunciação, outras são apagadas, o que é próprio da dinâmica do meio tevê. Esses inúmeros contágios que se configuram em quase toda a programação televisiva, todavia, nem sempre deixam evidentes as novas lógicas de significação que vão se constituindo.

Uma das heranças marcantes do talk show vem de programas radiofônicos pautados por entrevistas e debates – sustentados por um teor jornalístico, portanto. Na passagem para a tevê, entretanto, o talk show incorporou traços específicos desse meio, entre os quais o do espetáculo orientado pelos recursos visuais-imagéticos. Tal filiação deu origem a uma mutação que fez prevalecer o show sobre o talk. Não se pode esquecer, afinal, que o processo de formatação dos programas televisivos – pelas características visuais-imagéticas e pela própria epistemologia do meio – inspira-se no espetáculo (show), primeiramente como carnaval, como festa popular e como espaço público das feiras da Idade Média. Contudo, esse procedimento firma-se mais no espetáculo circense, como lugar de show, mas, sobretudo como lugar fechado, em que o centro instaura-se no picadeiro (REQUENA, 1995). O talk show traz bem presente essa configuração, tanto pela presença da platéia, como pelo uso do cenário, que lembra um ambiente cotidiano, e pela presença de um apresentador icônico, fazendo tudo se aproximar da encenação de atores num palco[¹]. O apresentador recebe o convidado num cenário descontraído, mas com ares de sofisticação e, nesse ambiente, ambos batem um papo animado em que intimidades são reveladas e banalidades multiplicadas, sob a fachada de uma entrevista informativa de profundidade.

A característica do espetáculo está relacionada à tevê, primeiramente porque busca conquistar o espectador e, para isso, põe em operação elementos do show como a música, o humor, a simulação. Nessa via, deve-se compreender que o espetáculo solicita, por um lado, uma atitude de exibição e, por outro, uma atitude de contemplação, de vouyerismo – aquele que se exibe necessita de alguém que o aprecie, como

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