Teoria Do Restauro - Cesare Brandi

Universidade Federal Fluminense

Arquitetura e Urbanismo

Projeto de Restauração

Tema: Teoria do Restauro - de Cesare Brandi

Introdução

Para realizarmos a análise da Teoria do Restauro de Cesare Brandi, utilizamos como base um trabalho de graduação cuja abordagem é a revitalização de uma antiga fábrica açucareira.

Assim dividiremos em etapas o nosso trabalho, colocando primeiramente o resumo da proposta da aluna, um breve histórico da fábrica e outras informações e reportagens que julgarmos relevante para a nossa análise para depois citarmos, em tópicos, os conceitos abordados em Brandi e nossas respectivas considerações.

1. Trabalho de Graduação

Título do trabalho: Revitalização do prédio e entorno da antiga Açucareira CARDO.

“Espaço Cultural Ibituruna”

O objetivo principal do trabalho é dar nova vida em toda a área do entorno da ex-fábrica de açúcar conhecida como Açucareira, caracterizando-a como uma área de grande importância cultural para a cidade. Isto significa aproveitar as potencialidades de toda a ambiência criada pela relação entre arquitetura fabril e a sua apropriação pela população local.

A idéia de reativá-la como um grande espaço para exposições de artistas locais e de outros lugares, é manifestar uma vontade de todos os cidadãos da cidade que a tem como um símbolo de crescimento local.

A revitalização será feita em algumas partes do prédio, para uso cultural, onde as intervenções terão como base a Teoria do Restauro de Brandi. Já os pavilhões que estão quase em estado de ruína, não serão revitalizados, utilizando-se para este caso a Teoria de Ruskin.

2. Histórico do Bem Cultural

A Companhia Açucareira Rio Doce – CARDO – foi construída em 1946 fazendo com que os produtores de açúcar da região abandonassem métodos antigos de produção para se colocarem em condições de igualdade técnica com as outras unidades federativas produtoras de açúcar. Sua produção experimental foi efetivada em 1948, tal empreendimento era mantido pela Companhia Belgo – Mineira e tinha a finalidade de produzir açúcar e álcool para consumo interno e exportação. Ocupava uma área de 2,8 mil metros quadrados e possuía mais 85 alqueires de plantação de cana.

Se hoje é moda falar em reciclagem de lixo industrial, na época a CARDO já fazia isto. Aproveitava-se todo o resto da cana; a palha como comburente para as caldeiras, as cinzas como adubo e as sobras de massa cozida ajudavam nos processos de fermentação. Em 1963 a companhia foi comprada por José Eglesias, empresário paulista, e foi desativada; os equipamentos aproveitáveis foram levados para Penápolis em São Paulo, sendo deixado todo o resto abandonado.

Vinte anos depois, a partir de 1989, foi lançado o desafio de transformar as ruínas do prédio em centro cultural, fazendo com que a indústria voltasse a funcionar para produzir cultura. Porém todos os projetos implementados não alcançaram plenamente seus objetivos.

No dia 02 de abril de 2001, o imóvel foi tombado pelo seu valor histórico e arquitetônico.

“Imóvel denominado Açucareira – CARDO – situado na rua Israel Pinheiro, s/nº, Bairro Capim, com suas fachadas e todas as áreas internas, terrenos contíguos (entorno) pertencentes ao imóvel aprovados pela deliberação do Conselho nº 00001, de 02 de abril de 2001; tombado pelo seu valor histórico e arquitetônico.”

3. Considerações do Trabalho x Teoria de Brandi e análise

Quando começamos a analisar o trabalho que tinha como objetivo apenas a revitalização da fábrica, pensamos porque ela só falou em revitalização e não falou em restauração. Assim iniciamos nossa análise através das seguintes questões:

Restauração: “O restauro se constitui na intervenção sobre o produto da atividade humana, no momento metodológico do reconhecimento deste produto como uma obra de arte, na sua consistência física e na sua dúplice polaridade estética e histórica, tendo em vista a sua transmissão ao futuro”.

Obra de Arte: “Um produto da atividade humana passa a ser considerado uma obra de arte, na medida em que passa a existir no mundo de cada indivíduo, na medida em que é um produto da espiritualidade humana; assim, como obra de arte, ela é recriada toda vez que é experimentada. A intervenção de restauro estará na dependência do reconhecimento da obra de arte como tal”.

Quando lemos os artigos e reportagens sobre a fábrica e a intenção de revitalização deste espaço para um centro cultural, achamos a idéia interessante e verificamos que este era o desejo da população local, que tem uma afetividade e considera a fábrica um marco histórico, mas também era um desejo do poder público, para que o imóvel tombado pudesse se tornar auto-sustentável.

Nós nos surpreendemos com a abordagem dada ao trabalho, de revitalização da fábrica, porque lendo o histórico e os artigos da época podemos perceber que estamos falando de uma obra de arte, onde percebemos claramente o valor histórico do prédio e tudo o que representou para a cidade e o valor arquitetônico e estético que determina os moldes de uma arquitetura fabril. Podemos perceber que há uma linha de ruptura que separa a época vivida antes e depois da fábrica, o momento e o lugar de sua construção ficam marcados; o que determina a instância histórica de uma obra de arte. Ao mesmo tempo em que a estrutura e a arquitetura do prédio correspondem a um estilo e uma estética própria para as fábricas da época.

Chegando a conclusão de que se trata, sem dúvida, de uma obra de arte seria mais importante falarmos de restauração e não de revitalização, pois quando falamos de uma obra de arte chegamos a conclusão que o restabelecimento da funcionalidade não representa um aspecto primordial para a intervenção e sim