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Vale Da Felicidade

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Por:   •  8/4/2014  •  2.568 Palavras (11 Páginas)  •  395 Visualizações

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O vale da felicidade

Com base em uma educação rígida e de qualidade, surgiu

um Brasil de Primeiro Mundo a uma hora de Porto Alegre

Marcos Todeschini

Lailson Santos

DA ROÇA À UNIVERSIDADE

A foto mostra quatro gerações da família Krug, que fugiu da pobreza na Alemanha e, como tantas outras, começou a vida

do zero no sul do país, no fim do século XIX. Aos 88 anos, a maior frustração do agricultor Avelino (de pé na foto, ao lado de uma das filhas e da nora dela) é não ter superado o ensino fundamental. "Meu sonho era chegar à faculdade, mas não deu. Comecei então a batalhar pelos meus filhos e netos." Trabalhou duro para lhes patrocinar cadernos e livros –

o que foi fundamental para que alguns deles chegassem à universidade. Avelino nunca mexeu num computador, mas fez questão de dar aos bisnetos um laptop, com o qual eles brincam na foto. "A modernidade é meio esquisita para alguém da minha idade, mas sempre procurei olhar para a frente"

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• Quadro: Um Brasil europeu

A uma hora de carro de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, um punhado de cidades abriga cerca de 660.000 pessoas que desfrutam e preservam, geração após geração, um alto padrão de qualidade de vida. É um pedaço do Brasil onde os índices de pobreza são tão baixos quanto os da Inglaterra, os analfabetos são tão difíceis de encontrar quanto no Canadá e vive-se mais tempo e com tanta saúde quanto os idosos de um país europeu como a Bélgica. O custo de vida ali ainda é baixo, os serviços públicos funcionam e as pessoas não se sentem inseguras por morar em casas sem muro. Nesse Brasil não tem fila. Em postos públicos de saúde, a consulta começa com o médico acionando seu computador para levantar o histórico do paciente. Com base nele, dá-se o atendimento de gente como o agricultor João Roque Knost. "Só sei de fila para ser atendido pelo SUS de ver na televisão", diz Knost. No trânsito, o grau de civilidade dos motoristas é invejável: apenas 2% deles cometeram infrações no ano passado. Diz o fiscal de trânsito Roberto Gussi: "Meu trabalho é um tédio". As crianças enfrentam turnos escolares extensos. Elas chegam a passar oito horas por dia em sala de aula. As notas superam em muito a média nacional e se igualam ao desempenho registrado em países de longa tradição de excelência escolar.

Um novo conjunto de estatísticas ajuda a entender por que essas cidades destoam da média brasileira em quase tudo (veja quadro). Nenhuma das cidades desse vale da felicidade tem mais de 500 000 habitantes. Essa vantagem de saída ajuda a explicar a harmonia urbana. Mas ela não é tudo. Cidades com até metade do número de habitantes em outras regiões já padecem de terríveis males urbanos. O que explicaria, então, o fato de as cidades gaúchas dessa região se saírem melhor do que as demais, mesmo quando são colocadas lado a lado com municípios brasileiros de mesmo tamanho e até menores? Os observadores são unânimes em detectar que o maior diferencial desses vinte municípios é terem atingido os mais altos níveis de educação há muitas décadas. Em 1920, enquanto a população brasileira se atolava em 70% de analfabetismo, a taxa do Sul beirava zero. Essa base educacional desencadeou naquelas cidades um ciclo virtuoso muito semelhante aos experimentados por países onde a educação esteve na vanguarda do desenvolvimento. O americano Douglass North ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 1993 justamente por ter percebido o papel das instituições fortes na criação de riqueza. Diz Douglass North a VEJA: "Sociedades mais educadas dispõem de instituições mais eficientes e economias mais vibrantes". De um lado, pessoas com boa escolaridade são mais propensas a respeitar contratos e o direito à propriedade privada. De outro, é mais provável que em uma sociedade assim apareça gente qualificada para ocupar cargos de comando. A educação contribui também para que o processo de escolha dos governantes seja mais racional. Como se sabe, pessoas mais educadas são quase sempre mais críticas e têm mais aguçado o hábito de fiscalizar os governantes. Todos esses fatores se combinam, em maior ou menor grau, no tecido social do "vale".

Fotos Lailson Santos

SIM, NÓS TEMOS TêNIS NIKE E ALL STAR

Ao perder o emprego depois de dois anos como executivo numa empresa de calçados, o gaúcho Altamir Breda, 46 anos, não teve medo de apostar num negócio próprio. Em uma semana, conseguiu emprestadas as máquinas da tal firma, que havia falido, e recrutou todos os 250 ex-funcionários. Cada um deles recebeu uma cota da nova empresa. Num ato de ousadia, Altamir decidiu marcar entrevista com o presidente da All Star, nos Estados Unidos. Prometeu-lhe na ocasião maior produtividade do que as empresas brasileiras que até então fabricavam os tênis. Ao final, conseguiu a exclusividade da produção no Brasil. Tempos depois, viajou para a matriz da Nike e, de novo, saiu como representante da marca: "Aprendi a não ter vergonha de oferecer trabalho – se é bom, todo mundo quer"

A ênfase dada ao estudo, a partir da qual os vinte municípios gaúchos deslancharam, remonta ao princípio do século XIX. Isso mesmo: mais de um século antes de o Brasil despertar para o problema. Foi quando desembarcaram no sul do país as primeiras levas de imigrantes alemães, seguidos por italianos. A parte deles que escapava de disputas ideológicas – e não da miséria – já tinha nível de instrução elevado, mas mesmo a parcela mais pobre e menos escolarizada valorizava os estudos, tal como em seu país de origem. A religião protestante, predominante entre os alemães, ajuda a explicar o apreço dos imigrantes pelos livros. Já na Alemanha do século XVII os luteranos atraíam muita gente para suas escolas. O objetivo era alfabetizar crianças para que pudessem ler a Bíblia, além de lhes ensinar os rudimentos da matemática para que não fossem roubadas pelos nobres. Desse caldo cultural saíram os imigrantes que vieram morar no Brasil. Por essa razão, priorizavam a construção de escolas, que eles próprios administravam. O professor aposentado

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