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CERÂMICA MARAJOARA: HERANÇA E LEGADO DEIXADO AO ARTESANATO EM ICOARACI

Por:   •  24/3/2016  •  Artigo  •  3.997 Palavras (16 Páginas)  •  1.034 Visualizações

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CERÂMICA MARAJOARA: HERANÇA E LEGADO DEIXADO AO ARTESANATO EM ICOARACI 

Horadya Emanuela de Castro1, Tarlany Pezzin Moreira2.

1Acadêmica do Curso de Bacharelado em Design na Universidade do Estado do Pará. E-mail: manuhdecastro.12@hotmail.com.

2Acadêmica do Curso de Bacharelado em Design na Universidade do Estado do Pará. E-mail: tarlanypezzin@hotmail.com.

RESUMO:

A finalidade desse artigo é analisar e explanar o processo de produção das cerâmicas marajoaras, originárias no delta do Amazonas antes mesmo do descobrimento do Brasil, a herança e legado deixados aos oleiros de Icoaraci, município localizado no estado do Pará, onde há vasta incidência de mão de obra artesanal. Essa habilidade com a argila – material utilizado para fabricação das cerâmicas - atrai a atenção de estudiosos até hoje e permitia a essa civilização primitiva resultados de qualidade e beleza incomparáveis que carregavam traços legítimos e representações das riquezas naturais amazônicas – fauna e flora – obras totalmente diferenciadas das demais criações de outros povos rudimentares. Muitas são as curiosidades sobre estes indivíduos, e que se observarmos detalhadamente influenciavam sobremodo em sua arte, como os relevos e pinturas estampados nas cerâmicas, que nos permitiam identificar até mesmo a qual posição aquele ser estabelecia na sociedade hierárquica da época. Além da estética e funcionalidade, as peças Marajoaras eram possuidoras de traços tão fortes que nem mesmo o tempo pode extinguí-los, uma vez que se conservou o modo de elaboração das mesmas através de réplicas trabalhadas nas olarias de Paracurí, que buscam manter os padrões inconfundíveis dessa arte. A prova é que a forma milenar de se trabalhar com argila não foi perdida, os artesãos mais antigos - muitos por terem descendência indígena e serem devotos dos ritos e crendices passados – buscam inspiração para suas peças na cultura Marajoara. Um aspecto que diferencia estes profissionais dos seus ancestrais indígenas são as finalidades das obras, o que antes era usado como objetos de divisão social e instrumentos em rituais fúnebres, agora seu fim é voltado para o artesanato, sendo utilizados como objetos de uso diário e artigos de decoração, também adquiridos por colecionadores que apreciam esse segmento de arte. Esse novo aspecto gerou um estilo próprio da produção na cidade, os oleiros imprimiram sua identidade nas obras, o que somando com as técnicas antigas resultou no que é chamada de cerâmica Icoraciense. A intervenção do design no artesanato dessa região, busca uma valorização maior desta arte ceramista sem a perca do valor simbólico cultural agregado a ela. 

Palavras-chave: Cerâmica Marajoara.Técnicas Produtivas.Identidade.Artesanato.Icoaraci.

  1. INTRODUÇÃO

A cerâmica Marajoara surgiu por volta de 980 a. C, sendo classificada como as mais belas e elaboradas do mundo, por apresentarem como inovação a função estética além da função utilitária, diferenciando-se das demais culturas.  Essa civilização possuía um conhecimento sofisticado sobre engenharia e agricultura, criando métodos alternativos de sobrevivência devido à região instável em que viviam.

A beleza encontrada nas cerâmicas marajoaras desperta a curiosidade em como se conseguiu manter as características de objetos confeccionados antes do descobrimento do Brasil até as atuais produções no município de Icoaraci, no Pará. Todavia, nem sempre foi assim. Até os anos 60, se produzia a cerâmica de olaria, – telhas, tijolos, potes e outras peças – existindo apenas dois ou três ceramistas.

Após uma década da chegada do Mestre Cardoso na região, depois de suas pesquisas no Museu Emilio Goeldi, despertou nos artistas locais o interesse pelo resgate das culturas amazônicas, com ênfase na Marajoara.

A relação positiva dos turistas e o retorno financeiro proporcionaram o começo de uma fase de produção de réplicas que zelavam pelo estilo das obras autênticas. No auge da comercialização, visando lucratividade e a facilidade da produção, se desvalorizou os traços originais, perdendo a essência das primeiras obras.

A falta de qualidade enfraqueceu o mercado, conseqüentemente permaneceram aqueles que realmente priorizavam a arte. No presente, encontra-se uma cerâmica tipicamente Icoraciense que une os traços indígenas milenares com as técnicas habituais amazônicas.

O efeito dessa união se diferencia da arte indígena e da cerâmica artística produzida hoje em Icoaraci, onde para alguns há uma descaracterização da originalidade, outros já crêem no surgimento de uma nova escola da arte ceramista. Como disse Mestre Cardoso: "Os marajoaras estampavam nas cerâmicas, objetos e seres de seu convívio diário de forma muito estilizada. Nenhum artista moderno faria com tanta criatividade” [1].

  1. TRAÇOS MARCANTES DA CERÂMICA MARAJOARA

Segundo pesquisas realizadas pelos arqueólogos Betty Meggers (1921) e Clifford Evans (1921-1981), entre as décadas de 1940 e 1960, se identificavam as cerâmicas amazônicas pelo tipo de decoração empregada. Observou-se nas peças marajoaras uma tendência policromática, notável pela riqueza e complexidade de motivos, uso das cores (vermelha, branca e preta) e técnicas variadas, como modelagem, incisão e excisão. Essas características fizeram desse período “a fase marajoara” (datada de 400 a 1350 de nossa era). Caracterizando-se pela ampla quantidade de objetos ritualísticos, utilitários e decorativos, produzidos por antigos ocupantes da ilha do Marajó, na época em que se formava uma civilização de cacicados. Eram confeccionados vasilhas, potes, urnas funerárias, tangas (ou tapa sexo), chocalhos, estatuetas e bancos. Que podem ser acromáticos ou cromáticos e zoomorfizados ou antropomorfizados; em geral, essa arte apresenta padrões, decorativos com desenhos labirínticos e repetitivos, traços gráficos simétricos em baixo ou alto-relevo, além de entalhes e aplicações.

A fase marajoara termina em torno de 1350, abandonada ou absorvida pelos novos migrantes, os Aruãs, presentes nas ilhas na chegada dos europeus.

A cerâmica marajoara pode ser conhecida por meio das grandes coleções do Museu Emílio Goeldi, em Belém, Museu nacional, no Rio de Janeiro, Museu de Arqueologia e Etnologia da universidade de São Paulo- MAE/USP, em São Paulo, além de museus internacionais como o Americam Museum of Natural History, em Nova York e o Barbier-Muller, em Genebra.

  1. Cores Utilizadas na Arte Marajoara

As peças marajoaras eram acromáticas, ou seja, sem uso de cor na decoração, somente as cromáticas e tonalidade de barro queimado, geralmente caracterizados pelo uso da pintura vermelha ou preta sobre o fundo branco. A coloração era obtida com o uso de engobes (barro em estado liquido) e pigmentos de origem vegetal como o urucum para o tom vermelho, para o branco o caulim e para o preto o jenipapo, alem da fuligem e carvão. E posteriormente os objetos eram queimados em fornos de buraco ou em fogueiras a céu aberto e então recebia um verniz obtido do breu do Jutaí, resina que propicia um acabamento lustroso.

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