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Discos Marcus Pereira Canção Popular Brasileira

Por:   •  24/9/2021  •  Artigo  •  3.289 Palavras (14 Páginas)  •  123 Visualizações

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Discos Marcus Pereira: a importância do mapeamento para a canção popular brasileira autóctone 1

Phylipe Nunes Araújo

Resumo: Este artigo pretende trazer um panorama geral acerca da gravadora “Discos Marcus Pereira”, que durante quase uma década produziu obras como o primeiro LP de Cartola e a série de discos chamada "Mapa Musical do Brasil". Aqui, focaremos no “Mapa”, projeto que registrou gravações fonográficas in loco do cancioneiro popular brasileiro autóctone de todas as regiões do país, canções, ritmos e melodias do povo brasileiro até então "escondidas" e que não tinham perspectiva de serem produzidos por outras gravadoras nacionais ou multinacionais, correndo o risco de serem apagadas pelo tempo. Assim, partindo da metodologia e qualidade seletiva do material documentado pela gravadora, conseguimos identificar quais são suas influências diretas e indiretas no mercado fonográfico brasileiro e na canção que tem algum nível de aproximação as mais variadas expressões musicais da música do povo brasileiro.

Palavras-chave: Cancioneiro popular brasileiro; Gravadoras independentes; Marcus Pereira.

Abstract: This article aims to provide an overview of the label “Discos Marcus Pereira”, which for almost a decade produced works such as Cartola's first LP and the series of discs called "Mapa Musical do Brasil". Here, we will focus on the “Map”, a project that recorded phonographic recordings in loco of the popular Brazilian popular songwriter from all regions of the country, songs, rhythms and melodies of the Brazilian people hitherto "hidden" and that had no prospect of being produced by others. national or multinational record labels, at the risk of being erased by time. Thus, starting from the methodology and selective quality of the material documented by the label, we were able to identify what are its direct and indirect influences in the Brazilian phonographic market and in the song that has some level of approximation to the most varied musical expressions of the music of the Brazilian people.

Keywords: Brazillian popular songwriter; Independent labels; Marcus Pereira.

  1. Introdução

Em processo de estabilização de seus conceitos ideológicos, estéticos e mercadológicos, a canção brasileira passa por fortes debates, através do campo da “Música Popular Brasileira” (MPB), nas décadas de 1960 e 1970. Dentro da MPB, encarada então como área fundamental e privilegiada para debates sobre a identidade da cultura nacional, tentou-se resolver os entraves de, no ato de “fazer-canção”, desenvolver uma consciência nacional moderna que fosse capaz de instigar o brasileiro a movimentar-se em torno de um projeto de nação. Demandando tal revisão de seus valores culturais, o “gênero” parece passar por uma abertura estética ante outras influências que se distanciavam da música brasileira “folclórica” ou “de raiz”, como é o caso da introdução das guitarras do“iê-iê-iê” norte- americano na música dos anos 60 através da Jovem Guarda.

[pic 1]

1 Trabalho requerido pela Profa. Dra. Franciane Rocha como requisito para aprovação do componente Laboratório de leitura e produção de textos acadêmicos no semestre 2020.1 do curso de Produção Musical – UFRB. E-mail: phylipe@aluno.ufrb.edu.br

Em contrapartida, o movimento tropicalista mesclou a então recente introdução da música norte-americana à música “de raiz” brasileira, trazendo um rompimento estético inovador para alguns e tornando-se também um objeto de questionamentos acerca do direcionamento ideológico da canção brasileira, tomado por vezes como uma atitude alienante, ocasionando movimentos como a “Marcha contra a Guitarra Elétrica”, ocorrida no ano de 1967. Apesar disso, sob forte influência do movimento tropicalista e sua aparição nos Festivais, o ano de 1968 muda a história da música produzida no Brasil demarcando um período de reorganização do mercado fonográfico nacional e reestruturação da MPB. Nesse cenário, a música enquanto produto pensado e disseminado pela indústria fonográfica prova sua capacidade de mobilização ideológica e de um sentimento de nacionalidade. Neste ponto, no campo de uma produção fonográfica que evidentemente misturava-se a elementos internacionalizados, o uso dos adjetivos “popular” e “brasileira” passam a ser pensados de uma outra ótica.

  1. Reorganização da canção popular

Observando as mudanças estruturais no campo da produção musical ocorridas no país final da década de 1960, podemos identificar, através da renovação expressão musical brasileira proposta pela então MPB, um alinhamento político-ideológico da canção, processo que fornece ao “movimento” recursos simbólicos que possibilitam influenciar a articulação de comportamentos atrelados a mudanças no consumo de cultura no país, sendo o mercado fonográfico um forte meio de difusão de ideias nesse processo.

Dessa maneira, como diz o historiador Marcos Napolitano, acontece um deslocamento do “lugar social e do conceito de música popular” que afirma a canção como “veículo fundamental de projetos culturais e ideológicos” (NAPOLITANO, 2011, p. 12-14), ocorrendo, por sua vez, durante um processo histórico de elaboração de uma identidade nacional proveniente do processo de desenvolvimento capitalista onde efervesce, naquele momento, a cultura de protesto e a consolidação do produto da “nova” Música Popular Brasileira. É durante esse processo de transgressão da MPB que surgem discussões acerca da legitimidade do que é popular e brasileiro nesta “nova” música produzida no país. Ao tratar do assunto, Marcus Pereira escreveu:

“Os Festivais de 1966 e 1967 tiveram uma importância enorme, de uma certa maneira reconciliaram o público com a música e despertaram um interesse   novo por esta manifestação cultural importantíssima (...) Há, entretanto, um aspecto importante a considerar na ressurreição musical proporcionada pelos festivais   e que trouxe a fixação da sigla MPB – Música Popular Brasileira. Em primeiro lugar era mais poesia do que música ou poesia com acompanhamento musical. (...) A palavra popular da sigla também deve ser entendida limitadamente. O que a MPB apresenta é música produzida por um segmento da população de formação erudita ou semierudita de extratos principalmente urbanos do país. Finalmente a palavra brasileira da sigla é a que cada vez mais se distancia do seu sentido original, contaminada pelo “iê-iê” e pelo rock”

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