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O Que é Estética

Por:   •  5/5/2018  •  Trabalho acadêmico  •  5.742 Palavras (23 Páginas)  •  140 Visualizações

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O QUE É ESTÉTICA?

Marc Jimenez - filósofo francês e germanista. O desafio é o da compreensão da ambiguidade da arte e seus paradoxos. Para isto sugere diversas conexões estabelecendo a estética como disciplina autônoma. Mostra contradições e avanços, traçando um consistente mapa histórico de maneira didática, permitindo o esclarecimento da questão proposta.

Na primeira parte do livro Jimenez trata de esclarecer o que é a autonomia estética e a sua composição, indo do artista ao artesão, da razão à sensibilidade, dos antigos aos modernos, do criticismo ao romantismo, fazendo pontes entre Kant, Hegel, Schiller e outros pensadores, avançando até o nascimento da estética moderna. No segundo momento, trata da heteronomia da arte e suas ambiguidades, da nostalgia à modernidade, trazendo as ideias de Marx, Nietzsche, Schopenhauer, Wagner e Freud, traçando paralelos entre as teorias e a estética. No terceiro conjunto de capítulos Jimenez discute o declínio da tradição, modernidade e vanguarda. Por fim, apresenta a guinada política e cultural da estética conduzindo à cena Georg Lukács e a questão do realismo, Heidegger e o retorno às origens, Walter Benjamin e a experiência estética, e mais, Herbert Marcuse,Adorno, Jauss, Habermas, Nelson Goodman e Arthur Danto e a crítica da modernidade: o pós-moderno e seus desafios.

Jimenez inicia destacando a fundação da estética como disciplina autônoma, identificando-a como acontecimento de alcance considerável, não apenas por ter-se inventado um novo vocabulário capaz de esclarecer um saber até então nebuloso ou, talvez, pelo acréscimo a um novo ramo da ciência, mas, principalmente, por iluminar o olhar dos contemporâneos sobre a arte do passado, artistas e obras de sua época.

Apesar de ter inúmeras correlações, a autonomia da estética não coincide em significado com a autonomia da arte. A palavra arte tem origem latina ars = atividade, habilidade, herdeira do século XI, designando até o século XV, atividades ligadas à técnica e a tarefas essencialmente manuais. Já a estética, no sentido moderno, aparece somente quando a arte passa a ser reconhecida pelo seu conceito, ou seja, como atividade intelectual, separada das técnicas e dos ofícios. Jimenez afirma que a autonomia da fase moderna da estética, que aconteceu a partir de 1750, não surgiu repentinamente graças ao filósofo Baumgarten. O estabelecimento da estética foi, enquanto ciência, consequência de um longo processo de emancipação que, no Ocidente, diz respeito ao conjunto de atividades intelectuais, filosóficas, artísticas e espirituais a partir da Renascença. A criação artística passou a não ser mais vista como privilégio de Deus, mas dependente da ação humana. A complexidade passou a estar nas conexões que a arte proporciona. Para que o processo criativo viesse a acontecer entrou em cena o reconhecimento dos mecanismos psíquicos e mentais (abstração), resultando na materialização de algo concreto: a obra de arte. Este debate passou a acontecer insistentemente entre teólogos e filósofos em todos os domínios do conhecimento:

Do artesão, ligado pelo mecenato, escravizado à boa vontade de um príncipe, passou-se ao artista humanista, dotado de um verdadeiro saber e não mais somente de perícia, depois ao artista que negocia as próprias obras no mercado e assegura suas promoções junto ao público.

O aspecto fundamental da nova estética aconteceu quando o artesão foi progressivamente

reconhecido como artista: a ideia de gênio em arte permaneceu sendo um dom de Deus até a época romântica, porém, a força criativa passou a ser individual; o método matemático tornou-se indispensável na realização das normas da perspectiva, impondo-se rapidamente como o credo dos pintores Renascentistas; as obras passaram a ser assinadas; os artistas a escolher os seus próprios temas e cores; o preço das obras a aumentar consideravelmente, não tendo mais por referência apenas os materiais utilizados (custo de produção); o tempo de criação, e não mais de trabalho, tornou os artistas livres em função do renome e talento, tratando-se de um investimento no sujeito autônomo e, ainda, os governantes passaram a referir-se aos artistas como senhores possuidores dos seus próprios palácios.

Com a Renascença despontou a ideia de criação autônoma, libertando o artista das coerções religiosas, políticas e sociais da Idade Média, o que trouxe profundas transformações. O Renascimento proporcionou a representação do homem, da natureza, do universo e até mesmo de Deus, em um espaço temporal contínuo e homogêneo. Porém, o século XIX abriu as suas portas e trouxe com ele a proposição de um espaço-tempo diferente, relativo, descontínuo e de progresso, alterando as relações, formas de pensar e fazer arte.

Para discutir a ligação entre nostalgia e modernidade, Jimenez traz à baila três dos maiores artesãos conceituais da modernidade no século XX: Marx, Nietzsche e Freud, encontrando conexões entre o “teórico do capital e da luta de classes”, o “profeta da morte de Deus” e o “pai da psicanálise”, isto tudo no cenário das referências em filosofia e estética. O destaque destes teóricos, não necessariamente contemporâneos, se fez indispensável pelo motivo dos três marcarem, em intervalos próximos, o fim do humanismo e da razão clássica lapidados na Renascença e, ainda, por terem derrubado as certezas traçadas do homem como dono e possuidor da natureza. Porém, cada qual interessou por conservarem, ao seu modo, certa nostalgia da Antiguidade. 

Com esta análise, Jimenez trouxe a seguinte questão: por que estes promotores da modernidade em política, em metafísica ou em psicologia ignoraram a modernidade em arte? Este paradoxo revelou claramente a defasagem da análise estética que as interpreta. Percebe-se que apesar da reflexão sobre arte acontecer posteriormente às obras, os estetas insistiram em impor regras aos artistas, fixando normas na avaliação do belo ou do feio, do conveniente ou do seu inverso, pontuando critérios com base em cânones de épocas anteriores. A estética permaneceu modesta e temerosa diante da arte moderna por ser justamente demasiadamente nova, sentindo-se mais confortável perante as criações já reconhecidas da antiguidade. Assim, as primeiras teorias da arte moderna somente foram elaboradas de maneira consistente e sistemática a partir dos anos 60.

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