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O TEATRO GORKIANO ILUMINA E AQUECE O INVERNO CAMPONÊS

Por:   •  15/9/2016  •  Trabalho acadêmico  •  1.505 Palavras (7 Páginas)  •  304 Visualizações

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O teatro gorkiano ilumina e aquece o inverno camponês

Durante três invernos, de 1023 a 1925, a Colônia Gorki organizou apresentações de 40 peças teatrais em cada temporada, levando à mobilização toda a coletividade para que, a cada semana, os camponeses encontrassem um novo espetáculo. O teatro fora instalado em um barracão de moinho reformado com um palco do tamanho das grandes salas de espetáculo e um enorme espaço para acomodar um público de até seiscentas pessoas, mas apresentava o problema de manter as temperaturas baixas, como se estivessem ao ar livre. Mesmo com muitas estufas, o calor subia e escapava pelo telhado de ferro. Era um verdadeiro congelador, mas isso não impedia a presença de centenas de camponeses de diferentes aldeias da região. Com o tempo, foram aprendendo a gostar de teatro e passaram a disputar os melhores lugares, desenvolvendo o gosto pelas atividades artísticas e pelo debate sobre as questões gerais da vida política no novo regime e das dificuldades da vida cotidiana.

Durante o rigoroso inverno ucraniano, quando os trabalhos pesados são deixados de lado, sobrando tempo para o cuidado com os detalhes da vida, como as comemorações festivas, a intensa vida social e a reflexão profunda, não havia nenhum tipo de atividade cultural que aproximasse o povo daquela região. A chegada de uma incrível companhia de teatro, que englobava toda a coletividade, derreteu o gelo que isolava as famílias em suas casas e aprofundava o sentimento de solidão e revolucionou a vida cultural das aldeias.

Na terceira apresentação, a fama do teatro gorkiano se perdia pelas estradas largas e estreitas que levavam às aldeias e às grandes cidades mais próximas. Além da população da aldeia de Gontcharovka, vinham também os aldeóes de Pirogovka, de Grabilovka, Babitchevki, Gontsov, Vatsiv, Storojevoie. Operários da ferrovia, professores, militares, funcionários e amigos das cidades traziam para o esquecido mundo rural as idéias mais avançadas para o debate no final de cada peça. Como muitos vinham de longe e não poderiam voltar no mesmo dia, os gorkianos organizaram uma espécie de acampamento para abrigar os visitantes, enquanto as visitantes eram acomodadas nos dormitórios femininos da colônia. Eles traziam mantas, roupas para dormir, além de bolos, pastéis e toucinhos, que eram divididos com os educandos, numa verdadeira festa de final de espetáculo.

A coletividade bancava os gastos com a montagem dos espetáculos, gastando duzentos rublos por mês, mas orgulhando-se de nunca ter cobrado nem um centavo do público. Makarenko e os educadores desenvolveram a consciência do imposto social a ser pago pelos colonistas aos camponeses excluídos da vida cultural mais avançada. Quem tinha acesso à cultura deveria dividi-la com quem ainda não desfrutava desse bem. Nas apresentações seguintes, foi preciso organizar a distribuição de ingressos através das organizações da juventude, o Komsomol, dos conselhos rurais e representantes da colônia para acabar com o tumulto na abertura do barracão teatral para o início do espetáculo. Então, começaram as brigas entre os representantes das aldeias. Vinham reclamar que uma aldeia recebera mais ingressos que outras, e Volokhov, encarregado dos bilhetes, explicava a prioridade:

- Vocês receberam menos porque estão distribuindo para as mulheres dos popes, para as filhas dos kulaks, deixando os camponeses fora de nosso barracão.

Outros recebiam a menos para os jovens da organização Komsomol e Volokhov explica calmamente:

- Para que premiar com um ingresso quem vem embriagado para o teatro, enquanto tem tanta gente sóbria querendo assistir à peça?

Nunca mais o rio Kolomak veria a mesma vida nas aldeias depois desses festivais de inverno. As crianças, os jovens, os adultos e os anciãos foram tomados por um forte desejo de conhecer novos personagens, de viver novos conflitos e vibrar, rir e chorar com seus desfechos. Durante três invernos seguidos, os camponeses estiveram expostos ao contato com diferentes autores do grande teatro russo e ucraniano, aproximando-os da revolução cultural que acontecia nas principais cidades da União Soviética.

O círculo dramático da Colônia Gorki se ampliara. Todos deveriam se organizar em destacamentos especiais para a montagem e apresentação das peças, na forma de rodízio. Ali, o mais importante não era exatamente o lado profissional, mas a realização do desafio cultural do coletivo e a participação intensa do público em cada evento. Makarenko, os colonos e os educadores dividiram o trabalho em dez destacamentos mistos: atores, espectadores, vestuário, calefação, cenografia, objetos de cena e requisitos, iluminação e efeitos, limpeza, ruídos e efeitos de som, e pano de boca. Muitas vezes, as peças contavam com muitos personagens, exigindo que até mesmo os mais tímidos fossem chamados para atuar no palco. Como se tratava de um trabalho considerado por todo o coletivo como de importância social, os educandos se esforçavam para vencer a timidez e contribuir para a realização do projeto cultural. O teatro tinha sido considerado na assembléia dos colonos como um assunto tão importante como a colheita nos seis campos ou a reforma da colônia.

Mas durante o festival, o cansaço e o frio aumentavam a tensão entre os educandos. Era penoso montar a cada sábado um novo espetáculo, os desentendimentos surgiam, mas tudo acabava rápido, porque sabiam que o público estaria de volta no próximo fim de semana, ávido por uma nova peça. Um dia, Karabanov revoltou-se:

— Mas o que é que eu sou? Contratado? Na semana passada, fiz um sacerdote, nesta, um general, e agora me dizem para representar um guerrilheiro. O que é que eu sou, afinal? Feito de ferro? Toda noite, ensaios até as duas da madrugada e no sábado é um tal de empurrar mesas e martelar cenários...

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