A OCUPAÇÃO VICENTINO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

FACULDADE DE DIREITO E CIÊNCIAS DO ESTADO

CURSO CIÊNCIAS DO ESTADO

FILOSOFIA SOCIAL

SEMESTRE: 2018/1

OCUPAÇÃO VICENTÃO

Já no início dos anos 1960, Vicente Gonçalves, nascido em 1931 em Ouro Fino, MG, o Vicentão estava na luta pela moradia digna nas comunidades de Belo Horizonte. Os dados registrados em sua ficha no antigo DOPS/MG – Departamento de Ordem Política e Social – mostram que ele esteve entre os primeiros perseguidos pela repressão após o golpe militar de 1964. Investigado no “IPM dos Favelados”, em sua ficha individual naquele órgão de repres-são política estão registradas algumas de suas atividades: “[...] líder da favela do Morro de São José [...] ativo participante do I Congresso dos Trabalhadores Favelados foi citado em quase todos os depoimentos obtidos nestes autos como elemento de vanguarda do movimento favelado em Belo Horizonte, organizador de conferências e comícios [...]” .

Tasso Assunção era dono do Banco Hércules, liquidado pelo Banco Central na déca-da de 1990. Em 30 de outubro de 1995, ele e seu filho Cláudio Assunção Costa foram conde-nados por gestão fraudulenta daquele banco, falsificação de documentos e transferências ile-gais de dinheiro. Foi o primeiro banqueiro condenado pela Lei do Colarinho Branco . Benefi-ciado por um habeas corpus, em dezembro de 2003 Tasso deixou a prisão e desapareceu. Dois meses depois a Justiça ordenou novamente sua prisão. Mas em nenhum lugar Tasso era encontrado, nem em sua casa, nem em casa de amigos e parentes, nem em fazendas no interi-or de Minas. Em outubro de 2004 um agente da Polícia Federal disfarçado de carteiro, após tocar a campainha de sua mansão na Cidade Jardim, bairro de Belo Horizonte, conseguiu en-trar na residência. Aproveitando-se da surpresa, o agente conseguiu deter Tasso, que corria para se esconder em um bunker construído em um fundo falso de armário da área de serviço de sua casa. Desde sua libertação ele estava em sua própria mansão, mas sempre se escondia no bunker ao ser procurado pela polícia ou oficiais de justiça .

Apesar de caminhos tão diferentes, Vicentão e Tasso se encontraram em 13 de janei-ro de 2018 na Rua Espírito Santo 461, no centro de Belo Horizonte. Neste endereço está um dos imóveis do extinto Banco Hércules, abandonado e com dívidas de IPTU refrentes a 10 anos junto à Prefeitura de Belo Horizonte . Ocupado naquela data por famílias de sem tetos e camelôs, a ocupação recebeu o nome de “Vicentão”.

Segundo levantamento realizado em 2007 pela Prefeitura para elaboração do Plano de Reabilitação do Hipercentro de Belo Horizonte foram identificados 92 imóveis inteiramente vazios. Destes, 44 eram casas, 3 eram imóveis de tipologia vertical com mais de quatro andares e os demais imóveis diversos, como galpões, por exemplo. Além disto, identificaram-se vários imóveis com ocupações parciais, deixando vazios especialmente andares superiores dos mesmos . Há, portanto, um potencial relevante em termos de reocupação na região central da cidade de Belo Horizonte. E esta disponibilidade é extremamente adequada à