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A finança mundializada – raízes sociais e políticas, configuração, conseqüências

Por:   •  12/12/2018  •  Resenha  •  2.249 Palavras (9 Páginas)  •  237 Visualizações

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François Chesnais (org.)

A finança mundializada – raízes sociais e políticas, configuração, conseqüências.

São Paulo: Boitempo, 2005.

Eleutério F. S. Prado

Professor da Universidade de São Paulo (USP)

Este livro que chegou às livrarias no ano passado desenvolve-se sob a perspectiva de enfrentar um problema chave nos dias de hoje: a compreensão do capitalismo contemporâneo. Apresenta contribuições de seis autores individuais e três autores duplos as quais procuram abarcar as principais configurações do modo de produção regido pela relação de capital, emergentes nas duas últimas décadas do século XX. Ainda que com diferenças, todos eles trabalham sob uma mesma luz conceitual. O sistema capitalista passou então por uma mudança de rumo que é caracterizada como passagem de um regime de acumulação centrado na esfera da produção para um “regime de acumulação com dominância financeira” ou “regime de crescimento patrimonial” ou ainda como “neoliberalismo”. Desenha-se, então, nas palavras do organizador do livro, François Chesnais, “um sistema de relações econômicas e sociais internas e internacionais cujo centro é a finança e que está apoiado nas instituições financeiras e políticas do país hegemônico em escala mundial”[1].

Note-se já aqui que concebem a transformação histórica recente do capitalismo como mudança de regime de acumulação e não como mudança interna do próprio modo de produção. Registre-se, também, que os autores do livro mantêm-se na perspectiva de que o capitalismo contemporâneo conserva-se ainda, grosso modo, na fase monopolista, financista e imperialista, mas o acento teórico não recai mais sobre o primeiro desses três termos tal como em Lenine, mas sobre o segundo deles. O próprio Chesnais destaca que o livro se caracteriza, sobretudo, pela atenção que dá ao “poder da finança”, termo esse, aliás, colhido do título do livro de André Orléan, Le pouvoir de la finance.

As nove contribuições estão organizadas para apresentar, tal como indica o subtítulo do livro, os fundamentos, as configurações e as conseqüências desse poder renovado das finanças que faz a música e dá, atualmente, o ritmo para a dança desorganizada da economia mundial.

Suzanne Brunhoff examina as causas das instabilidades, flutuações e crises cambiais, que marcaram as duas últimas décadas. Foca o papel do dólar como moeda mundial fundado na hegemonia norte-americana, a qual se expressa, também, de modo complementar, nos planos político e militar.

Gérard Duménil e Dominique Lévy em mais um estudo de estatística descritiva apresentam estimativas da evolução da taxa de lucro, do lucro retido e da taxa de investimento, nos Estados Unidos e na Europa, para mostrar o privilégio das finanças. Desenvolve o estudo sob uma visão sociológica das classes no capitalismo contemporâneo.

Catherine Sauvit concentra-se em pesquisar os fundos de pensão e os fundos coletivos norte-americanos, mostrando a sua importância como investidores institucionais na economia mundializada e como reguladores das atividades das empresas em favor das rendas financeiras.

Dominique Philon mostra com a França passou de um capitalismo de Estado para um capitalismo dominado pelos investidores institucionais. Estuda as conseqüências dessa rápida e avassaladora transformação para as empresas e os trabalhadores franceses.

Esther Jeffers procura mostrar as convergências no movimento de transformação das economias norte-americana e européia rumo à mundialização financeira.  Essa autora, assim como a autora anteriormente citada, enfatiza como todo esse processo, em última análise, eleva a taxa de exploração dos trabalhadores em favor do capital financeiro.

Marianne Rubinstein estuda o caso do Japão que experimentou, tal como é bem sabido, uma estagnação econômica durante a década dos anos 90, assim como nos primeiros anos da década seguinte, em razão de um processo de liberalização financeira altamente especulativo.

Mamadou Câmara e Pierre Salama investigam a inserção dos países em desenvolvimento no processo de mundialização financeira. Notam como essas nações dependem de créditos bancários, investimentos diretos e investimentos em carteira externos para financiar o seu processo econômico. Notam, também, que essa dependência requer um modo de gerir a taxa de juros que visa, não o crescimento, mas sim a atração de capital, muitas vezes apenas para financiar déficits orçamentários e com o exterior.  

Luc Mampey e Claude Serfati estudam as relações entre o mundo das finanças globalizadas, dos investidores institucionais e das bolsas com o sistema industrial-militar dos Estados Unidos. Sugerem que há uma aliança objetiva entre essas forças cuja conseqüência provável será a eclosão de novas guerras num horizonte de tempo ainda sem limites definidos.

François Chesnais, como organizador, atribuiu-se a responsabilidade de escrever o capítulo inicial e mais teórico do livro. Aí o termo “finança” que aparece no livro assim mesmo, no singular, para enfatizar seu caráter supostamente unitário, é identificado ao conceito de “capital portador de juros” de Marx. Trata-se evidentemente de uma interpretação algo problemática já que em O capital esse termo indica a posição do próprio capital como mercadoria, posição esta que engendra uma forma de existência do próprio capital, enquanto que no livro aqui resenhado o capital portador de juros é entendido como um fundo caracterizado explicitamente como “capital [que] busca fazer dinheiro sem sair da esfera financeira”[2].

É preciso relembrar aqui, pois, o próprio Marx. No capítulo XXI do Livro Terceiro está dito que o dinheiro transformado em capital produz lucro e, assim, adquire um novo valor de uso, a capacidade de funcionar como capital. Eis que “nessa forma de capital possível, de meio para a produção de lucro, torna-se mercadoria, mas uma mercadoria sui generis. Ou o que dá no mesmo, o capital enquanto capital se torna mercadoria”[3]. O capital aparece, pois, como mercadoria quando o dinheiro como capital realiza uma de suas possibilidades. Mas nessa mesma condição, ele tem outro modo de atuação mais básico, pois o dinheiro como capital costuma participar da metamorfose das mercadorias, no movimento D – M – D’. E, nesse caso, “o capital, no processo de circulação, funciona como capital-mercadoria e capital monetário. Mas, em ambas as formas, não é capital como tal que se torna mercadoria”[4].

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