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Analise do Documentário "Makwayela", Jean Rouch (1977)

Por:   •  13/12/2018  •  Resenha  •  946 Palavras (4 Páginas)  •  411 Visualizações

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"Makwayela", Jean Rouch (1977)

A partir dos anos de 1964, Moçambique esteve em Guerra por sua independência. Finalmente em 75 conseguiu finalmente obtê-la após um cessar fogo e uma vitória negociada com Portugal, assinando o “Acordo de Lusaka”. A partir deste momento o governo Moçambicano marxista se estabelecia no país. E é neste contexto que o cineasta Jean Rouch é convidado para comandar uma oficina para um grupo de estudantes de cinema local. O filme foi realizado como o trabalho final deste curso, onde Rouch e sua equipe visitam a Companhia Vidreira de Moçambique.

A primeira cena do filme nos mostra brevemente as garrafas de vidro sendo produzidas. Esta pode passar despercebida para muitos e ser julgada apenas como uma imagem de introdução ao filme sem significado algum, mas com o que estudamos no curso podemos relacionar muito bem com autores vistos até aqui, como com o francês Guy Debord. Em “A Sociedade do Espetáculo”, o autor, faz uma análise da sociedade globalizada, aonde o Espetáculo – como a TV, rádio e cinema – veio substituir outras formas de subjetividades, como a religião, e esta nova subjetividade no mundo globalizado se transformou em mercadoria. Com essa transformação, o que era público se torna privado. Ao se tornar privado temos que pagar para consumir e este consumo gera o “Fetichismo da mercadoria”, expressão defendida por Marx em “O Capital”. O “Fetichismo de mercadoria” é a mais simples adoração pelo objeto, onde ao se tornar uma mercadoria deixa de ter a sua utilidade atual e passa a atribuir um valor simbólico, quase que divino, o ser humano não compra o real, mas sim a transcendência que determinado artefato representa e isso gera a alienação sobre a origem do produto. Pois os processos da fabricação não estão no produto, estão apagados, ou seja, alienados. O consumo faz alienar todo o processo de produção e é isso que Rouch mostra no início com as garrafas de vidro, elas estão sendo produzidas e depois serão consumidas e o trabalhador que possibilitou sua produção será esquecido e oprimido pelo sistema, que exalta o produto e esquece quem o produziu.

Em seguida somos levados para fora da fábrica onde em fila estão alguns de seus trabalhadores. Começam a realizar a performance que dá o nome ao etnodoc, Makwayela.  A Makwayela surgiu durante a migração dos moçambicanos para trabalhar nas minas da África do Sul, lá foram explorados e forçados a trabalhar ganhando pouco. Esta mudança de status durante a imigração para o trabalho nos faz associar aos “Ritos de Passagem”, do antropólogo francês Van Gennep. Em sua obra dedica-se ao estudo dos rituais, onde os classifica e os separa em três fases: separação, margem/liminaridade e agregação. Durante as três fases há uma mudança de status, e é exatamente o que ocorre durante a imigração dos moçambicanos para a África do Sul. Antes de viajarem eram apenas moçambicanos atrás de algum trabalho e quando saem de seu país se descolam de sua realidade, e caem na liminaridade e ao chegar ao destino e se identificarem finalmente como trabalhadores das minas, a mudança de status e o rito de passagem estão concluídos.

Durante a apresentação da Makwayela, os trabalhadores cantam frases de protesto como “Trabalhadores do mundo inteiro uni-vos”, “Abaixo o imperialismo”, “Abaixo o capitalismo”, “Os povos oprimidos peguem em armas e lutem contra ao opressor”. Em seus cantos podemos identificar teorias de Marcel Mauss e o já citado antes Guy Debord.

No “Ensaio sobre a dádiva”, Mauss analisa as experiências econômicas nas trocas dos povos, com o Potlatch e o Kula. Nesses dois sistemas existe a lógica de igualdade, onde os objetos trocados devem ter o mesmo valor e no Potlatch, principalmente, temos a relação entre o dar, receber e retribuir, ou seja, analisando com o ritual há uma lógica de igualdade nas transações analisadas por Mauss, e é exatamente isso que os trabalhadores com seus cantos querem, a revolução pelas mãos dos trabalhadores, assim poderemos ter uma equivalência nas distribuições das riquezas e não teremos mais trabalhadores humilhados pelo capital.

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