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Estruturas familiares

Por:   •  30/11/2015  •  Trabalho acadêmico  •  2.142 Palavras (9 Páginas)  •  241 Visualizações

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  1. Maria Ana (nome fictício) nasceu há meio seculo numa vila perto de Beja em pleno coração alentejano. Filha de um casal, - Mariana e João – oriundos de uma classe social desfavorecida, a mãe costureira e o pai trabalhador rural, destino de tantas famílias do inicio da década de sessenta. Filha primogénita do casal com dois irmãos mais novos, João e José João, constituíam então o núcleo familiar.

Atendendo às dificuldades da vida e perante uns país em ditadura em que nada facilitava a qualidade ou a melhoria da mesma, ainda mais na região em causa onde o empobrecimento, “desconhecimento” eram características predominantes…Os pais somente com o 4.º ano de escolaridade, frequentado por muita persistência da senhora professora da altura, conhecida dos avós e entidade bastante respeitada no meio. Mariana e João casaram cedo, não por “arranjinho”, mas fruto de um Amor de infância, oriundo da rua onde moravam. Mariana cedo começou a costurar como forma de fugir ao trabalho no campo, João não teve a mesma sorte…Após o nascimento dos três filhos do casal, no espaço de sete anos e sem grandes recursos, nunca faltou “pão na mesa” (porque mantinham a sua pequena horta e avó sempre ajudava porque era detentora da única padaria da vila), emigrou para França para trabalhar nas “obras”.

A realidade de Maria Ana desde então melhorou significativamente, com a ausência do pai mas com a presença de certos bens que este lhe mandava ou trazia nas visitas a casa, contudo começou a trabalhar cedo, não estudou para além do 9.º ano já tirado à noite, primeiro como costureira e depois como auxiliar de saúde na Santa Casa da Misericórdia.

Aos 26 anos teve um filho, André, foi mãe solteira tendo constituído o seu próprio lar, fora da casa dos pais, num modelo de família monoparental. Dez anos mais tarde casou pelo civil, teve mais uma filha, Ana, contruiu um lar, casa própria e uma nova família, desta vez com 4 elementos, formando um modelo de família tradicional, ou seja, mãe, pai, unidos pelo matrimónio, dois filhos, compondo uma família nuclear.

Maria Ana sempre teve como prioridade fomentar um bom ambiente familiar, onde existisse harmonia, afetos, proteção e todo o tipo de apoio necessário por vezes na resolução de conflitos ou mesmo problemas de algum membro, este “modos vivendus”, baseado em relações de confiança, segurança e conforto, ou seja, em prol do bem-estar geral, de modo a proporcionar a unidade familiar.

  1. De facto é cada vez mais pertinente, que alguns estudos realizados no âmbito das ciências sociais, sobre as estruturas familiares tiveram grande impacto sobre um conhecimento mais profundo desta matéria. No período em 1930-1960 o panorama familiar alterou-se em Portugal, assistindo- se a grandes assimetrias regionais em termos de estrutura familiar entre por exemplo o Minho e o Alentejo, no entanto foi nos anos 60 que se dá o eclodir nos estudos sobre as famílias, o qual se deve a um contexto económico e social, ou seja, a abertura ao investimento estrangeiro, a estagnação rural, a forte emigração para a europa, foram fatores relevantes aliados também a uma mudança de mentalidades. Embora tenham surgido grandes e significativas alterações no maior conhecimento da estrutura familiar, também se constata neste período que o trabalho efetivo no terreno é inexistente. Já com 25 de Abril de 1974 verifica-se um aparecimento de iniciativas sociais, económicas, políticas e culturais que vieram contribuir de alguma forma para a compreensão da estrutura da “instituição” família. As organizações de investigação e de ensino que tinham emergido anteriormente puderam finalmente desenvolver-se. Paralelamente aos estudos sociológicos sobre a realidade portuguesa surge o foco nas classes sociais, isto é, percebe-se melhor o porquê de acontecimentos sociais referidos anteriormente (ex. emigração), por parte de determinadas classes sociais e outras não, assim como os diferentes comportamentos entre norte/sul vs. litoral/interior vs. sociedade rural/citadina. Alguns investigadores pautaram se sempre nos seus estudos com défice no que respeita a dados estatísticos por exemplo, centrando como objeto de investigação a casos particulares de estudo como a família na sociedade rural (Lourenço,1991), ou investigadora Karin Wall que se interessa “pelas logicas familiares camponesas” a qual deu particular enfase ao estudo “família tronco – e pelas suas relações com os processos de mudança social que afetaram a comunidade rural: semi-industrialização, modificação das relações de classe e de sexo, mutações culturais…”.

Com a breve menção do contributo dos estudos sociológicos sobre as famílias ajuda de fato a compreender a vivência de Maria Ana, atendendo ao meio e família “tronco” organizada e estável afetivamente onde nasceu e cresceu, às dificuldades económicas por parte dos pais até à emigração efetiva do pai, a família monoparental que constrói e posteriormente uma segunda designada nuclear. Conceitos que só foram possíveis de aplicar devido aos estudos sobre estruturas familiares cujos continuam em crescente diversidade advindos porem das mudanças sociais globais.

  1. Após a leitura atenta do texto 2,considero que a pessoa por mim escolhida (Maria Ana) coincide de todo com as tendências de mudança nas estruturas familiares analisadas pela Professora Anália Torres, ou seja, o percurso da vivência da minha “personagem” que de alguma forma não tivesse sido “escolhido” foi atípico para a época. Embora estejamos certamente a reportamo-nos a um passado recente, o fato é que o estigmatizado para a sociedade/meio da altura era uma realidade diferente. O percurso da Maria Ana converge com o estudo da professora Anália essencialmente nos seguintes pontos: emancipação da mulher, inserção no mercado de trabalho, o fato de constituir uma família monoparental, independência feminina, a mudança do sentido que atribui ao casamento e por fim a constituição de uma nova família com um filho de uma relação anterior.

A Professora Anália evoca a forte inserção das mulheres no mercado de trabalho bem como as assimetrias de género no que confere a remunerações. Assiste- se a uma forte valorização do trabalho feminino fora de casa em detrimento das habituais donas de casa educadas para obedecerem ao marido e criarem os filhos, perde-se o conceito da importância do homem como único sustento familiar, verifica-se a florescente emancipação da mulher quer como profissional ou como “chefe” de família, surge as famílias monoparentais, quer por divórcio, viuvez ou mesmo por opção. Há que referir que Portugal no que concerne a este campo, tem um destaque de alguma forma relativamente aos países do sul da europa, uma vez que a forte presença no mercado de trabalho também teve como consequências vários fatores, (para alem das condições socioecónomicas da população serem precárias, como os baixos salários masculinos), há que considerar a guerra colonial (1961-1974), a forte emigração e todas as novas ideologias da pós-revolução. Podemos ainda referir, dois fortes indicadores da década de 70, nascimentos fora do casamento bem como a importância do casamento católico, em contraposição dos registados nas décadas de 80 e 90. Verificam-se a diminuição da nupcialidade, fecundidade e casamentos católicos para um aumento de divórcios e nascimento do primeiro filho.

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