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José Murilo de Carvalho: Os Bestializados: O Rio de Janeiro e a República que não foi.

Por:   •  5/4/2015  •  Resenha  •  2.300 Palavras (10 Páginas)  •  448 Visualizações

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José Murilo de Carvalho: Os Bestializados: O Rio de Janeiro e a República que não foi.

Neste trabalho será discutido o livro “Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi”, publicado em 1987. Este livro é um clássico da historiografia brasileira no que se refere ao estudo da prática de cidadania pelo povo brasileiro no início da República. Utilizando-se de inúmeras fontes, que vão desde revistas e jornais da época a documentos oficiais, desde artigos e teses a livros conceituados, o autor constrói seu trabalho de maneira singular. O trabalho é dividido em cinco capítulos, além da conclusão, notas, caderno de fotos e bibliografia no final. Os capítulos são os seguintes: I-Rio de Janeiro e a República, II-República e Cidadanias, III-Cidadão inativos: a abstenção eleitoral, IV- Cidadãos ativos: a Revolta da Vacina e V: Bestializados ou bilontras?

Logo no início da introdução justifica o título da obra, que era uma frase famosa de um propagandista da República, Aristides Lobo, ao manifestar o seu desapontamento com a maneira pela qual foi proclamado o novo regime.  De acordo com Aristides o povo deveria ter sido protagonista dos acontecimentos políticos, no entanto, assistira a tudo BESTIALIZADO, sem compreender o que se passava, julgando talvez ser uma parada militar. Outros observadores discutem na mesma direção, como por exemplo, o francês Luis Couty, que referia no Brasil não havia povo

Para discutir esta questão José Murilo, apresenta a concepção de prática de cidadania, que se trata do problema do relacionamento entre cidadão, Estado e o sistema político, o cidadão e própria atividade política. Tem havido recentemente tendência a ver tal situação de maneira maniqueísta, na qual o Estado é o vilão e a sociedade como vítima indefesa, na qual a ausência de cidadania é atribuída ao Estado. Aponta que tal situação é insatisfatória, como todas dicotomias aplicadas aos fenômenos sociais. O maniqueísmo inviabiliza qualquer noção de cidadania, pois ou se aceita o estado como um mal necessário, ou se o nega completamente, como no anarquismo. Esta abordagem acaba por revelar uma atitude paternalista em relação ao povo, ao considerá-lo vítima impotente diante das maquinações do poder do estado ou de grupos dominantes, o que realmente acaba por bestializar o povo. Refere que, exceto em casos excepcionais, é mais fecundo ver as relações entre Estado e cidadão como uma via de mão dupla, embora não necessariamente equilibrada, já que todo sistema de dominação para sobreviver terá que desenvolver uma base qualquer de legitimidade, mesmo que seja a apatia dos cidadãos.

O autor nos informa o recorte espaço-temporal de seu estudo: a cidade do Rio de Janeiro no período de transição do Império para a República até o governo de Rodrigues Alves. O momento de transição do Império para a República é adequado para o estudo desta questão, pois tratava-se da primeira grande mudança de regime desde a independência, e além do mais, tratava-se da implantação de um sistema de governo que se propunha, a trazer o povo para a atividade política. Silva Jardim e Lopes Trovão, propagandistas da República, encaravam a Revolução Francesa de 1789, como a “revolução adorada”. Mesmo proclamado sem a iniciativa popular, o novo regime despertaria entre os excluídos do sistema anterior, certo entusiasmo quanto as novas possibilidades de participação.

 Destaca que além de ser o momento propício, aponta que a cidade do Rio de janeiro era o ambiente propicio para o estudo. As cidades foram tradicionalmente o local clássico do desenvolvimento da cidadania, sendo que nelas se tronou possível a libertação do poder privado dos senhores feudais. O Rio de Janeiro nos primeiros anos da República era a maior cidade do país, com mais de 500mil habitantes e a capital política e administrativa do país, constituindo em tese o melhor espaço para o desenvolvimento da cidadania. O comportamento político de sua população tinha reflexos imediatos no resto do país. E a proclamação resultou de um motim de soldados com o apoio de grupos políticos da capital.

O cenário e o período de estudo, de acordo com o autor, deixa claro que havia mais na política que um povo bestializado. Objetiva entender que povo era este, qual, seu imaginário e prática política. Mesmo se tratando de uma investigação de caráter histórico, não restam dúvidas de que o problema da cidadania continua no centro da preocupação os dias de hoje.

O primeiro capítulo – O Rio de Janeiro e a República – traz uma descrição das mudanças econômicas, sociais, políticas e culturais por que passou o Rio de Janeiro na transição entre os regimes monárquico e republicano, e as consequências delas advindas para a população. Também enfatiza o impacto do novo regime no que se refere à expectativa de maior participação política do povo. Mas tais esperanças foram logo traídas. O governo tratou de calar a população. Era preciso estabilidade política, a qual não seria possível se o negro, o pobre, o estrangeiro, o operário tivessem voz.

A maioria da população foi excluída do processo eleitoral, mas o povo encontrou outros meios de inserção no sistema e participação política, embora não fossem nada formais. Este ponto será mais bem tratado nos capítulos seguintes.

No capítulo II – República e cidadanias – o autor trata das diversas concepções de cidadania nascidas no início da República. Vários setores da população foram despertados pela expectativa de expansão dos direitos políticos, como abordou Carvalho no capítulo anterior. Por sua vez, as diferentes ideologias e as próprias condições sociais dessa população diversificada, influenciaram a formação de múltiplos conceitos de cidadania.

Dentre essas concepções, Carvalho cita a dos conservadores ou o “setor vitorioso da elite civil”, que apoiavam o conceito liberal de cidadania (liberdade de pensamento, de reunião, de profissão, de propriedade etc.), mas ao mesmo tempo impedia a democratização com as inúmeras barreiras ao direito ao voto pela grande maioria da população. O autor destaca que houve até um retrocesso nos direitos políticos e sociais.

A noção positivista de cidadania apoiava a ampliação dos direitos civis e sociais, mas não incluía os direitos políticos. O anarquismo repudiava qualquer tipo de autoridade e tinha aversão aos partidos políticos e eleições. A luta deveria ser direta, através de greves, boicotagem, manifestações públicas. Já os socialistas acreditavam na organização partidária, porém seus partidos não duraram muito. Porém, como essas concepções eram muitas vezes abafadas pela elite governante, a reação dos excluídos foi a “estadania, ou seja, a participação, não através da organização dos interesses, mas a partir da máquina governamental, ou em contato direto com ela” (p. 65).

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